quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Euphoria(EUA, 2019)


A dependência química é uma doença crônica. Progressiva, incurável e fatal, se não for tratada. Rue, a heroína de Euphoria, série criada por Sam Levinson para a HBO, interpretada por Zendaya, é uma adicta. Ela, que nasceu 3 dias depois do fatídico 11 de setembro, se envolve nos maiores perigos, anda com traficantes e descreve como o uso da droga preenche o seu vazio com “aqueles segundos de nada”. Até que aos 16 anos, a personagem tem uma overdose.

Rue é mandada para a reabilitação, onde arruma um padrinho e aprende os passos para manter a sobriedade. Porém, quando sai da clínica logo bate na casa do seu fornecedor Fez (Angus Cloud) que anda acompanhado de um traficante mirim. No entanto Jules, interpretada pela estreante Hunter Schafer, uma garota transgênero, surge em sua vida, lhe possibilitando almejar pelo amor próprio e uma vida menos destrutiva.

Jules é  nova no subúrbio. Logo ela tem uma noite de sexo com Cal Jacobs(Eric Dane), que é pai de Natan(Jacob Elordi), o algoz da série e mais popular garoto da escola. O jovem senhor que aparenta manter uma família perfeita, parece na verdade ser um pedófilo, predador de menores e que grava tudo e cataloga numa gaveta.

Natan, que antes se apresentava como o príncipe encantado para Jules, se tornará contra ela em um mundo de mentiras e chantagens. Toda a maldade do personagem, um campeão de quarteback, parece maquiar uma falta de resolução de sua sexualidade.


A estética lisérgica, luminosa e inebriante acompanha a série que apresenta uma forte linguagem de videoclipe. Portanto a trilha original composta pelo produtor Labrinth segue cuidadosamente cada uma das cenas. Há músicas de Beyoncé, Rosalia, Bronski Beat, Santigold, Cat Power, DeBarge, Megan the Stallion, Drake, Doja Cat, Madonna, Billie Eilish, Cocorosie, Solange, J Balvin, The Arcade Fire, a própria Zendaya e muito mais.

Kat(Barbie Ferreira), que lembra a personagem de Thora Birch em Ghost World(2001), é uma gordinha, que escreve literatura erótica e faz o maior sucesso no Tumblr, no entanto não encontra popularidade na escola. Após um suposto vídeo de sexo seu vazar, a personagem se empodera orgulhando-se de seu corpo e transformando-se em uma dominatrix da internet. “Sexualidade é um espectro", diz. Os novos aspectos porém trazem fortes mudanças.

Enquanto vai discutindo temas como dependência química, ambientes manicomiais, virgindade, bipolaridade, cyberbulliyng, prostituição, transexualidade, abuso contra a mulher, codependência, aborto, pedofilia e gordofobia, a série vai desenvolvendo o amor fluído entre Jules e Rue, que se torna tão intenso quanto platônico.

Além das inúmeras cenas com sexo, pênis e drogas, o êxtase da nudez e da violência explícita, a atração acompanha uma jovem lutando para tornar-se uma pessoa melhor, frequentando reuniões de NA para conseguir fazer as pazes consigo mesma.

Há cenas em parques de diversões. Há Halloween. Há fogos de artifício. Há um orgasmo no carrossel. A série ainda dá espaço para personagens menores, mas relevantes, como Maddy(Alexa Demie), a namorada de Natan cuja principal inspiração é Sharon Stone, em Cassino(1995) e Cassie(Sydney Sweeney), que representa a mulher objetificada.

Premiada com o Emmy, Zendaya é excepcional em todas as ocasiões. Ela acrescenta leviandade de partir o coração aos momentos em que sua adolescente em espiral se sente invencível em vez de frágil, e a maneira como ela se comporta, narra cada história e geralmente lida com o peso de estar no comando de uma série. 

A maioria  dessas histórias também são narradas na infância e variam de chocantes a terríveis, sejam passadas ou presentes, e elas se somam. Mas cada momento deve refletir a verdade de alguém. Euphoria é um drama adolescente que realmente se esforça para ser honesto com a experiência da puberdade.


Após 8 episódios, de cerca de 1h, e um final apoteótico,  Euphoria deixa um um gosto agridoce com um sabor de quero mais. No ano passado, foram lançados dois episódios especiais focados nas protagonistas da série, que é uma adaptação da produção israelense de mesmo nome, realizada em 2012, por Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yarden.


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