quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Deus tem AIDS(Brasil, 2021)



Tão impactante quanto o título do documentário, de Fábio Leal e Gustavo Vinagre, são algumas das performances apresentadas ao longo do filme. Acompanhando 7 artistas e 1 médico, que convivem com o HIV, a obra se propõe a apresentar diversas narrativas sobre o tema.

Quarenta anos depois da descoberta do vírus, o assunto segue incomodando. A ciência evoluiu mas a sociedade parece manter os mesmos estigmas de décadas atrás. Os personagens de Deus tem AIDS, quebram paradigmas através da arte, mostrando novos horizontes e cutucando na ferida. No caso do médico ativista Carué Contreiras, ele fala muito abertamente sobre como é conviver com o HIV no cenário atual, além de compartilhar momentos de fato reflexivos.

Micaela Cyriano, a única mulher documentada, que nasceu em 1988, com o vírus, conta como foi sua jornada até aqui e manifesta nas ruas que não irá morrer. Por outro lado, Kako Arancibia chama as pessoas na calçada para conversar sobre HIV/AIDS. De seus diálogos saem momentos reveladores e didáticos, quando ele explica que desde 2016, é comprovado que uma pessoa indetectável e em tratamento não transmite o vírus.

Ronaldo Serruya, do grupo de teatro XIX, também tem extrema relevância no documentário. Ele, assim como os outros personagens, transformaram sua sorologia em arte. Uma arte provocativa e que propõe profundas reflexões. Ele analisa de forma pura o tema e conta como encontrou o refúgio na criatividade.

Criando novas imagens e perspectivas, o longa ainda fala em sorofobia, que é a pena ou ou medo de alguém que convive com HIV, além do armário para quem vive com o vírus, que segundo alguns entrevistados deve e precisa ser escancarado.

O filme pinta um retrato corajoso e honesto através do relato, muitas vezes comoventes, de seus entrevistados. Todos mandam muito bem o seu recado. Os depoimentos são fortes, educativos e possuem um forte apelo para que os pré-conceitos e estigmas sejam quebrados. Há imagens desconcertantes do corpo como arte.

A visão crua e nua(literalmente) de Deus tem AIDS oferece  uma reflexão urgente sobre um tema que ainda hoje é evitado. Referência no tratamento do HIV no mundo, o Brasil vem sofrendo um retrocesso em seu atual governo e que soa quase como uma ameaça. É preciso tocar no assunto.


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