Mais um ano, novas temporadas e atrações fresquinhas. 2022 entregou no quesito série, mesmo que algumas trazendo apenas personagens LGBTQIA+, abordados com naturalidade, sem ser o tema central. As maiores plataformas de streaming oferecem opções variadas para as atrações episódicas, indo da doce comédia romântica, o drama sombrio, o terror, a sátira e até séries documentais. The White Lotus foi aclamada no Emmy e voltou para mais uma temporada. Ryan Murphy esteve imparável e produziu diversos projetos sem perder a inovação e qualidade. E a Netflix trouxe séries de todos os lugares, com narrativas hipersexualizadas de ensino-médio, a maturidade LGBTQIA+ e o mais doce dos romances, o adolescente. Vamos a lista!
Queer as Folk, icônica série idealizada por Russel T. Davies, ocupa um lugar afetivo na memória do público gay. Fazer um reboot da atração exigia cuidados e a nova versão, agora comandada por Stephen Dunn, apesar de trazer diversos temas pertinentes, decepcionou! Ainda assim, o novo Queer as Folk encontra maneiras deliciosas e delirantes de oferecer histórias espinhosas e arcos de personagens que se recusam a achatar ou homogeneizar a comunidade LGBTQIA+. Conversas francas sobre sexo, desejo pós-transição e a importância dos espaços de vida noturna gay estão ao lado de momentos lindos de arte drag, festas de sexo e protestos sombrios.
O realizador mexicano Manolo Caro, conhecido por La Casa de Las Flores fez algo diferente aqui. O thriller espanhol Sagrada Família é centrado em torno de uma família recém-chegada a Madri com um passado oculto complexo. Gloria (Najwa Nimri) é uma mulher de meia-idade que mora em um novo bairro com seu bebê e uma filha adolescente Aitana(Carla Campra). Ela está se adaptando ao novo estilo de vida entre suas amigas socialites, mas também tem relutância em formar novas amizades
A comédia Uncoupled, da Netflix, de Darren Star, a mente por trás de Sex and the City, dá uma olhada divertida no que significa seguir em frente, para um homem gay com mais de 40 anos, após o fim repentino de um relacionamento de dezessete anos. Neil Patrick Harris estrela como Michael, um corretor de imóveis que planeja uma festa surpresa lendária para seu parceiro Colin (Tuc Watkins) em seu aniversário de cinquenta anos, acontece que o marido escolheu a data para tirar silenciosamente as coisas de casa.
Cassandra(Liniker) está na estrada com Leide(Karine Teles) e Gersinho (Gustavo Coelho) no começo da segunda temporada de Manhãs de Setembro, série de Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck para a Amazon. O carro para e é preciso que chame o pai da trans, surge então Seu Jorge, como Lourenço. O tom é dado logo no início, a temporada é sobre família, Cassandra está reestabelecendo seus laços de sangue, mas também sendo acolhida por aquela família que escolheu.
A série de Sam Levinson, para a HBO, é sem dúvida alguma grandiosa, mas a segunda temporada apesar de mais sombria deixou a desejar na profundidade de alguns temas abordados. Os visuais inspirados em obras de arte, a trilha sonora inebriante, e momentos simplesmente icônicos, no entanto, mantém a qualidade da atração. O vazio que habita em Rue(Zendaya) e que só pode ser preenchido com doses de droga é o que a consome e a destrói, e também é o fio condutor da série, mas sempre há uma luz, sempre há uma esperança, e por mais que Euphoria não seja moralista, ela é realista mesmo em um universo lúdico que traz beleza para a escuridão.
Junto de Ryan Murphy está Ian Brennan. Eles trabalharam duro para contar a história de Dahmer: Um Canibal Americano, um exame profundo de uma mente doente, perversa e sádica. Evan Peters, faz algo diferente aqui ele encarna o brilho louco dos olhos do psicopata, Jeffrey Dahmer, ele assusta, ele intimida, ele irrita, ele canibaliza.
Heartstopper é adaptada da bem-sucedida webcomic de Alice Oseman, que se transformou em uma graphic novel que vendeu mais de um milhão de cópias. Ambientado na Inglaterra, é o conto do tímido geeky Charlie (Joe Locke), o único aluno gay assumido em sua escola, que é designado para sentar ao lado de Nick (Kit Connor), um jogador de rugby muito popular e atlético.
Ambientada durante a década de 1980, em Nova York, a 11ª temporada de American Horror Story foi apresentando os sintomas desde o seu primeiro episódio. Depois de muitas decapitações, avisos de tarô do Anjo da Morte e um sentinela de piñata humana, acontece que o pior serial killer de todos é a AIDS. Isso é crucial para os dois episódios finais de AHS: NYC. Estas são parcelas delirantes e surreais que prosperam em metáforas sonhadoras em vez de raciocínio lógico, lembrando a obra prima Angels in America(2003).
Em 1968, após levar um tiro da anarcofeminista Valerie Solanas, o pai da POP Art e artista multifacetado, Andy Warhol, sobreviveu milagrosamente e começou a escrever um diário. Publicado em 1989, após sua morte, o livro, editado por Pat Hackett, revelou muito mais do que o efeminado excêntrico por trás da peruca. A série documental, escrita por Andrew Rossi, e produzida por Ryan Murphy, para a Netflix, vai ainda mais a fundo e analisa as entrelinhas. A atração é inteligentemente narrada pela voz de Andy Warhol, recriada por meio de inteligência artificial.
Irma Vep é uma explosão metalinguística. A série de Olivier Assayas, para a HBO, produzida em parceria com a A24, zomba das estruturas convencionais e mistura imagens do filme de 1996, da série Les Vampires, de 1915, de Louis Feuillade, originária da mítica personagem, para criar algo novo. Alicia Vikander interpreta a jovem estrela Mira Harberg, que depois de estrelar um filme de super-herói decide que só pode ser levada a sério como atriz se concordar em aparecer em um programa francês dirigido por um aclamado cineasta. Vikander está maravilhosa, não só como Mira, mas também como Irma Vep e Musidora, a atriz que deu vida à personagem original.
MENÇÃO ESPECIAL - THE WHITE LOTUS 2ª TEMPORADA
'Tutti Gay'
A premiada The White Lotus, de Mike White, para a HBO quebra a narrativa dos gays bonzinhos e higienizados. Apesar da gerente na Sicília, ser administrada pela lésbica Valentina(Sabrina Impacciatore), é quando Quentin (Tom Hollander) e seu bando de gays europeus ricos e maduros aparecem que a série toma um rumo inesperado. À primeira vista, este é um grupo de turistas ricos e divertidos que fazem amizade com Tanya (Jennifer Coolidge) e a levam em todos os tipos de aventuras. Quentin ainda trouxe seu “sobrinho” na viagem, Jack (Leo Woodall), que é o par perfeito para a jovem assistente de Tanya, Portia (Haley Lu Richardson).
The White Lotus tem tudo a ver com subverter as primeiras impressões e suposições / expectativas de quem as pessoas são e acabam sendo, e foi exatamente isso que aconteceu na segunda temporada. Através do artifício de serem BFFs de Tanya, eles mentiram para ela, zombaram dela, sequestraram-na e quase a mataram. O "sobrinho" de Quentin, Jack, acabou sendo seu michê. Os gays também não eram ricos - eles não tinham nada além de uma vila velha e decadente para usar como fachada de luxo.
Parece que a série fez questão de destacar o que o público espera desses personagens apenas para revelar lados muito mais sombrios deles ao longo do curso da temporada. Junto com Tanya, muitos espectadores se convenceram de que este era um grupo de homens fabulosos no estilo Queer Eye que estava prestes a dar a Tanya a transformação de sua vida. Mas assim como os heterossexuais, pessoas LGBTQIA+ podem, e devem, ser representadas como vilãs e cheias de defeitos de caráter.
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