segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

retrospeQUEERtiva - PARTE 2: TERROR QUEER


Chega de subtexto! 2022 escancarou o armário do Horror e apresentou produções de alto nível, com sangue, glitter, montação, humor e sexo. Se o Cinema LGBTQIA+ é um subgênero, então o Terror Queer é um subsubgênero, que pulsa desde que The Rocky Horror Picture Show(1975) arrebatou as sessões da meia-noite. E no ano que está terminando, teve diversidade sim, teve o terror como crítica social, não-binariedade, exorcismos, assombros da saúde mental, Pinhead trans, flops, acampamentos, giallos, slashers, bruxas sáficas e mais. Nesse quesito, o grande destaque, também ficou por conta das séries, que de adaptações literárias a ícones da cultura POP, não deixaram nada a desejar, para aquelas com uma abordagem mais séria.


FILMES


Morte. Morte. Morte.(Bodies Bodies Bodies, EUA, 2022)



Há muita diversão desagradável no slasher, da A24, Morte. Morte. Morte. A estreia em inglês da diretora holandesa, Halina Reijn, faz a difícil pergunta de saber se há algo realmente novo a fazer com o subgênero, e a resposta chega no final. Abrindo com um beijo apaixonado entre Bee (Maria Bakalova) e Sophie (Amandla Stenberg), Morte. Morte. Morte. é refrescantemente aberto sobre seu estado de adolescentes, queers, mimados. E ricos, por sinal.

¡Corten! (Espanha, 2021)



Marc Ferrer apresenta uma homenagem irreverente ao mítico giallo italiano, especialmente o cinema de Darío Argento com ¡Corten!, parte da seleção do último Festival Mix Brasil.  O diretor explora esse gênero através de uma abordagem que extrai sua força do absurdo e com um sentimento underground. ¡Corten! combina gêneros tão distantes quanto terror e comédia, sobre um diretor vampirizado pelo cinema que, apesar de desprezado por causa de seus filmes, precisa continuar fazendo-os para viver. No elenco drags icônicas da cena espanhola como Samantha Hudson e a diva La Prohibida.

Você não Estará Só(You Won't Be Alone(Austrália, Reino Unido, Sérvia, 2022)


O aspecto mais fascinante de You Won’t Be Alone é seu envolvimento com as noções de eu e caráter de uma forma que desafia as definições binárias de gênero. O filme opera de forma revigorante fora de quaisquer normativas, estabelecendo sua própria linguagem, identidade e universo, por um lado, e desmantelando-os, por outro, para desenterrar novos caminhos de compaixão e compreensão. 

Hypochondriac(EUA, 2022)

O título Hypochondriac sugere um retrato ambíguo da doença mental. Dentro do filme, a história não deixa claro se o sobrenatural assombra o personagem principal ou se as visões realmente se manifestam em sua mente. O protagonista do filme, de Addison Heimann, é Will, interpretado por Zach Villa ('AHS: 1984'), um homem adorável e amoroso, mas rapidamente muda para um indivíduo mentalmente traumatizado enquanto continua vendo e ouvindo coisas, mas não conta a ninguém.


Hellraiser(EUA, 2022)

O Hellraiser reimaginado, do cineasta David Bruckner, é um retorno bem-vindo à intenção original de Clive Barker. Ao lado dos roteiristas Ben Collins e Luke Piotrowski, ele adaptou o original de 1986, e o interpretou com grande sucesso como uma história dos efeitos intangíveis do vício. A estrela  trans de Sense8 ,Jamie Clayton, interpreta o lendário 'Pinhead'. A atriz ressuscita a estranheza do personagem, comandando cada quadro com uma quietude assustadora, chamando humanos desafortunados para satisfazer o prazer, não importa o custo. 


O Exorcismo da Minha Melhor Amiga(My Best Friend’s Exorcism, EUA, 2022)


Não é bem uma paródia. O Exorcismo da Minha Melhor Amiga é uma comédia de terror que presta uma homenagem quase perfeita aos filmes de ensino médio e assustadores que dominaram a década de 1980. Adaptado do romance de sucesso, de Grady Hendrix, sobre amizade e lealdade adolescente testada pela possessão demoníaca, é superdivertido com algumas performances de comédia que acertam em cheio. 

They/Them(EUA, 2022)


Esse prometeu e não cumpriu. They/Them é o flop do ano, um terror psicológico que se baseia na tensão dos personagens através de conversas intensas, interações brutais e tormentos ocasionais. O filme pode não subverter o gênero slasher de acampamento e tenta contar muita história, com muitos personagens, em um tempo limitado. A intenção de ter algum tipo de representatividade em todos os adolescentes é louvável, porém é uma pena que haja zero profundidade no roteiro.

Exploited(EUA, 2022)


Exploited, de Jon Abrahams, abre com uma cena de Caleb(Colin Bates), um camboy, nu satisfazendo uma cliente. No entanto, alguém passa por trás da tela e o jovem é atacado.Um ano depois, Brian(Jordan Ver Hoeve), um calouro da faculdade que encontra os vídeos de Caleb no mesmo quarto e laptop, fica obcecado pelo homem e quer desvendar o mistério, que pode seguir vários caminhos envoltos a sexo, luxúrua e assassinato.

A Última Coisa que Mary Viu(The Last Thing Mary Saw, EUA, 2021)


Inverno de 1843. Uma jovem está sob investigação após a misteriosa morte da matriarca de sua família. Sua lembrança dos eventos lança uma nova luz sobre as forças eternas por trás da tragédia O filme, realizado pelo diretor Edoardo Vitaletti, tem todos os ingredientes de um horror folk,  um cenário isolado, tons de intolerância religiosa e uma atmosfera tensa que pode ou não ser por causa de algo sobrenatural. 


E no Brasil?

Verão Fantasma(Brasil, 2022)

Desde o início, Verão Fantasma, de Matheus Marchetti, é explícito sobre os rumos que pretende tomar. As cenas são banhadas em luz vermelha ou verde remetendo ao mítico giallo italiano. A câmera se move de forma lânguida, sonhadora, demorando-se em objetos específicos como um curioso espelho em forma de leque. Dois jovens, se encontram em uma casa grande e abandonada. Um deles está rodeando o lugar; o outro quer usá-lo  para se encontrar com os amigos. No devido tempo, esses dois se apaixonarão, mas as circunstâncias estarão longe de ser simples, nesse inusitado e monstruoso musical.


Medusa(Brasil, 2021)


Medusa, de Anita Rocha da Silveira, é um projeto ambicioso. Não é apenas um comentário sócio-político sobre a condição do Brasil contemporâneo, uma crítica à religião institucional, mas também uma tentativa de subverter as convenções de um clássico filme de terror, onde uma menina inocente tem a melhor chance de sobrevivência. 


SÉRIES


Chucky 2ª Temporada(EUA, 2022)

A temporada deixa um pouco de lado a história de amor inclusive entre Jake(Zackary Arthur) e Devon(Björgvin Arnarson), para abordar ainda mais temas. Metalinguística, gore e um tanto confusa, devido às subtramas, a série nos apresenta Glen e Glenda (ambos interpretades pelu artista não-binárie Lachlan Watson) pela primeira vez desde sua introdução em O Filho de Chucky(2004). Seus dramas com a mãe Tiff(Jeniffer Tilly) rendem alguns dos melhores momentos deste ano da atração.


Anne Rice’s Interview with the Vampire(EUA, 2022)


Adaptada por Neil Jordan há quase 30 anos, Entrevista com o Vampiro(1994), de Anne Rice, omitiu e neutralizou fatos. Agora o romance recebe um tratamento episódico da AMC, moldado por Rolin Jones, e com visual expansivo fazendo com que se aprecie o quão abrangente pode ser essa visão geral da vida de um vampiro: sobre moralidade , legado e até mesmo o medo da morte que pode inibir o prazer do presente.

AHS:NYC(EUA, 2022)


Ambientada durante a década de 1980, American Horror Story: NYC foi apresentando os sintomas desde o seu primeiro episódio. Depois de muitas decapitações, avisos de tarô do Anjo da Morte e um sentinela de piñata humana, acontece que o pior serial killer de todos é a AIDS. Isso é crucial para os dois episódios finais de AHS: NYC. Estas são parcelas delirantes e surreais que prosperam em metáforas sonhadoras em vez de raciocínio lógico, lembrando a obra prima Angels in America(2003).


Dahmer: Um Canibal Americano( Monster: The Jeffrey Dahmer Story, EUA, 2022)


Ryan Murphy e sua grandiosa equipe, que inclui os nomes de Jennifer Lynch e Gregg Araki na direção, fazem, em Dahmer: Um Canibal Americano,  um exame profundo de uma mente doente, perversa e sádica. Não é uma história fácil de assistir. É macabra! Começa em Milwaukee, em 1991: Jeffrey Dahmer(Evan Peters) atrai um homem para seu apartamento. Cheira a podridão, ele tranca a porta, brinca com a vítima e quer matá-lo. Mas o homem consegue escapar, chama a polícia e volta. Dahmer é preso.

Wandinha(Wednesday, EUA, 2022)


A série de Tim Burton, para a Netflix, Wandinha, sobre a personagem do clã Addams imortalizada por Christina Ricci, nos anos 1990, combina com sucesso dois gêneros de uma maneira que faz mais sentido do que a maioria,  a história de amadurecimento adolescente e o enredo de mistério de assassinato. Wandinha(Jenna Ortega)  está matriculada na Escola 'Never More' para ‘excluídos, esquisitos, monstros’.

Queer for Fear: The History of Queer Horror(EUA, 2022)

Queer for Fear: The History of Queer Horror, minissérie da Shudder, produzida por Bryan Fuller, mergulha de volta às origens literárias, focadas em temas, subtextos e contextos. De Mary Shelley a Bram Stoker, esses autores abriram caminho para o horror e a representatividade de maneiras que reverberam na cultura pop. 

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