A estreia da série criada por Thiago Pimentel, Patrícia Corso e Leonardo Moreira, dirigida por Marcelo Gomes e Carol Minêm, explode em cores, música e urgência histórica. Em pleno Rio efervescente dos anos 80, o episódio “Vida” nos apresenta Fernando (Johnny Massaro), comissário de bordo que começa a sentir os primeiros sintomas do HIV ainda na metade do episódio. O roteiro tem a inteligência de tornar acessível para novas gerações um tema pesado, sem perder densidade e impacto.
A narrativa costura diferentes linhas: Léa (Bruna Linzmeyer) se envolve com o piloto Barcelos, enquanto West (Lucas Drummond), um americano, com forte flerte em Nando, surge como figura central para os próximos capítulos. Ao redor, vemos como os comissários contrabandeavam mercadorias dos EUA , perucas e acessórios, antes de arriscarem a vida trazendo o AZT.
Ícaro Silva arrasa como Raul, performando Bye Bye Tristeza, na Paradise, um dos panos de fundo da atração, que é puro retrato dos anos 80, enquanto Pantera (Veronica Valenttino), estrela da boate, entrega uma magnética performance de Tico-Tico no Fubá, apenas para se tornar uma das primeiras vítimas no círculo de Nando, numa dor que não se apaga mas acende um espírito de revolução.
E há o sexo, muito sexo. Johnny Massaro se entrega a cenas quentíssimas, de um ménage a um banho de neon com um jogador de futebol, culminando em uma sequência erótica num “cinemão” que é magnética, desejo e negação misturados, como se o prazer fosse a última trincheira contra o medo da AIDS.
A trilha sonora amplifica tudo: Sylvester, Blondie, Gretchen com Freak Le Boom Boom em um momento à la Los Leopardos, Lulu Santos embalando a praia carioca em Garota Eu Vou pra Califórnia, Sandra de Sá ecoando resistência e um aceno a Cazuza em cena de avião delicado, mas sem ser literal. Também há um sopro de Caio Fernando Abreu durante a consulta médica com a personagem de Hermila Guedes, que funciona como punhal e abraço.
A fotografia e a recriação da época são deslumbrantes, cada neon, cada figurino, cada penteado e cada olhar dizem “aqui existimos, aqui resistimos”. “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente” não é só série, é memória coletiva, reconstruída com coragem e beleza. Que venham os próximos episódios!
Nenhum comentário:
Postar um comentário