quinta-feira, 5 de junho de 2025

Adultos (Adults, EUA, 2025)

“ADULTS” é uma sitcom, de Ben Kronengold e Rebecca Shaw,  que captura o caos da vida adulta jovem com um humor afiado e uma sensibilidade que equilibra o absurdo com o desamparo. Ambientada na casa de infância de Samir (Malik Ellasal) no Queens, a série acompanha um grupo de colegas de quarto — Samir, Billie (Lucy Freyer), Issa (Amita Rao) e Anton (Owen Thiele) — navegando pelas dores e delícias da pós-adolescência. A escolha do Queens como pano de fundo, distante do glamour de Manhattan, confere um charme autêntico, quase nostálgico, que ancora as situações exageradas em uma realidade palpável.

O elemento queer em “ADULTS” é tecido com uma naturalidade refrescante, centrado na dinâmica de uma família escolhida que substitui laços tradicionais. A série rejeita as redes convencionais de apoio, em favor de uma solidariedade forjada na convivência. Issa, com sua teatralidade ativista, e Anton, com sua empatia quase caricata, criam um sistema de suporte que transcende laços de sangue, evocando uma comunidade queer que valoriza a conexão emocional. A pansexualidade de Paul Baker (Jack Innanen), que insiste em ser chamado por nome e sobrenome, com sua calma despretensiosa, adiciona uma camada de fluidez identitária.

A força de “ADULTS” está na química do elenco e na habilidade de equilibrar o absurdo com a humanidade. Billie, uma jornalista desempregada em crise, personifica o esgotamento milenar, com sua ansiedade se manifestando em pânico físico — um reflexo da instabilidade contemporânea. Sua relação com Andrew (Charlie Cox) revela um desejo por estabilidade que se desfaz como uma miragem, sublinhando a fragilidade de ancoragens externas.

A estrutura episódica da série  transforma lutas específicas — como o fiasco de um AirTag ou uma odisseia hospitalar — em microcosmos de moralidade. Esses enredos acumulam piadas em arcos temáticos coesos. Participações especiais, como as de Charlie Cox, Ray Nicholson e Julia Fox, injetam energia nova, rompendo a bolha doméstica dos colegas de quarto e amplificando o caos cômico.

A diversidade em “ADULTS” é orgânica, nunca forçada. Raça, sexualidade e saúde mental são entrelaçados nas histórias sem parecerem itens de uma lista de cotas. A postura ativista de Issa colide com a fluidez descomplicada de Paul, criando um diálogo vivo sobre identidade. As neuroses de Billie e a "ligação de alma" de Anton servem como lentes para questões maiores, como saúde mental e os custos emocionais da hiperconexão.

“ADULTS” reivindica seu lugar como uma crônica do zeitgeist, usando a tecnologia como pano de fundo para explorar fraquezas humanas atemporais. A série não apenas diverte, mas reflete sobre a amizade como um lastro em um mundo desequilibrado. Seus momentos de ternura entre o caos criam um equilíbrio, que não só faz rir, mas nos lembra que, em um mundo caótico, a amizade é a corda que nos impede de cair.



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