Em "Luz Luz Luz", de Inari Niemi, baseado no romance de Vilja-Tuulia Huotarinen, somos transportados para um verão de 1986 na Finlândia rural, onde a jovem Mariia (Rebekka Baer), de 15 anos, tem sua vida transformada pela chegada de Mimi (Anni Iikkanen), uma nova aluna que logo se torna o centro de seu universo. Contra o pano de fundo do desastre de Chernobyl, que espalha uma sombra de medo e incerteza pelo mundo, o filme tece uma história de amor adolescente que é ao mesmo tempo luminosa e melancólica. Vinte anos depois, Mariia (Laura Birn) retorna à sua cidade natal para cuidar de sua mãe doente (Pirjo Lonka), e as memórias daquele verão significativo emergem, entrelaçando passado e presente em uma teia de emoções que ressoa profundamente.
A relação entre Mariia e Mimi é a alma do filme, uma representação realista e comovente de um romance sáfico na adolescência. A química entre Rebekka Baer e Anni Iikkanen é palpável, capturando a intensidade e a pureza do primeiro amor com uma delicadeza que não se esconde em eufemismos. O contraste entre o lar estável de Mariia e o ambiente conturbado de Mimi adiciona camadas à narrativa, explorando temas de pertencimento, identidade e aceitação.
O filme não se contenta em apenas contar uma história de amor; ele mergulha nas complexidades das relações familiares e sociais, mostrando como o amor pode ser tanto um refúgio quanto uma fonte de tensão, especialmente em um contexto histórico marcado por incertezas. O desastre de Chernobyl, embora presente como um pano de fundo, não é mero detalhe histórico. Ele serve como uma metáfora poderosa para a fragilidade da vida e a inevitabilidade da mudança, ecoando as incertezas e as transformações que Mariia enfrenta em sua jornada de amadurecimento.
A cinematografia de Sari Aaltonen, com suas imagens de céus coloridos em roxo e rosa e florestas densas, cria um mundo que é ao mesmo tempo mágico e ameaçador, refletindo a dualidade das experiências das personagens. A luz, elemento central do título, não é apenas literal; ela simboliza a esperança, o desejo e a memória, mas também a transitoriedade desses sentimentos.
A direção de Niemi é habilidosa em sua abordagem visual e emocional. A transição entre passado e presente é fluida, com cortes que entrelaçam as memórias de Mariia com sua realidade atual, criando uma narrativa que flui como uma corrente de consciência. "Luz Luz Luz" é, acima de tudo, uma reflexão sobre a passagem do tempo e a natureza fugaz da juventude. O filme não idealiza o passado; ele o confronta com o presente, mostrando como as memórias podem ser tanto um bálsamo quanto uma prisão.
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