quarta-feira, 11 de junho de 2025

Diário da Minha Vagina (Fitting In, Canadá, 2024)

"Fitting In", dirigido por Molly McGlynn, mergulha na experiência adolescente com uma honestidade rara. Ambientado num cenário atual, o filme reflete um momento de crescente visibilidade para narrativas trans e intersexo. McGlynn, conhecida por "Mary Goes Round" (2017), infunde sua própria jornada com síndrome MRKH (Síndrome de Rokitansky-Küster-Hauser) na história, trazendo uma perspectiva pessoal que ressoa em um mundo onde identidades fluídas ganham espaço.

A trama segue Lindy, uma atlética garota de 16 anos interpretada por Maddie Ziegler, cuja vida muda ao descobrir que tem MRKH, uma condição que a impede de engravidar ou ter sexo penetrativo confortável. Ansiosa por perder a virgindade com Adam (D'Pharaoh Woon-A-Tai), seu novo interesse amoroso, Lindy inicialmente esconde o diagnóstico, afastando-se de sua mãe Rita (Emily Hampshire) e amigos. O filme acompanha sua jornada de choque, isolamento e, finalmente, aceitação.

Maddie Ziegler entrega uma performance magnética como Lindy, capturando a tempestade da adolescência,  da confiança inicial à raiva incandescente após o diagnóstico. O controle tonal de McGlynn, misturando humor e drama, é impecável, elevando o filme a um nível de arte.


"Fitting In" explora identidade, feminilidade e autoaceitação com profundidade e humor. A síndrome MRKH de Lindy torna-se um espelho para desafiar padrões de beleza e normas heteronormativas, como quando ela tenta forçar marcos tradicionais de feminilidade. McGlynn critica sutilmente a indiferença médica e social, mas foca na jornada pessoal de Lindy, equilibrando desespero e esperança destacando as poucas narrativas intersexo no cinema.

"Fitting In" é um filme queer com foco na experiência intersexo de Lindy. A escolha de Maddie Ziegler, uma atriz cis, pode gerar debates, mas sua entrega emocional compensa, trazendo nuances à jornada de MRKH, uma condição pouco vista no cinema. A amizade de Lindy com personagens como Jax, que desafia normas de gênero, e o apoio de Rita ampliam a narrativa queer, mostrando solidariedade e fluidez. O filme evita estereótipos trágicos, apresentando Lindy como completa – com desejos, erros e vitórias – e abre espaço para discussões sobre corpos "não normativos", um avanço na visibilidade intersexo e queer.


"Fitting In" é uma obra poderosa que combina sensibilidade e humor, marcando Molly McGlynn como uma voz singular no cinema queer. Apesar de pequenos deslizes tonais, como o alívio cômico ocasional, a autenticidade de McGlynn, baseada em sua vivência, eleva o filme. Em um tempo de busca por diversidade, ele brilha como um exemplo de storytelling humano.

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