terça-feira, 10 de junho de 2025

La Mitad de Ana (Espanha/França, 2024)

‘La mitad de Ana’ marca a transição de Marta Nieto,  para trás das câmeras, assumindo a direção e o roteiro ao lado de Beatriz Herzog. Este longa de estreia, que expande o universo do curta Son, dirigido pela própria Nieto, desenvolve temas como maternidade, identidade e a busca por novos caminhos com uma abordagem delicada e autêntica. Embora dialogue com obras como ‘20.000 especies de abejas’, o filme se destaca por sua perspectiva única, centrando-se na jornada de Ana, a mãe, em vez da filha, e explorando as complexidades de sua crise pessoal com sensibilidade.

A narrativa acompanha Ana, uma segurança do Museu Reina Sofía, cuja vida é atravessada por questionamentos profundos sobre sua identidade, seu papel como mãe e os desafios de criar uma filha em transição. A conexão com a arte, simbolizada pela pintura Garota à Janela de Salvador Dalí, serve como um fio condutor poético, refletindo o desejo de Ana de enxergar além de sua realidade. A direção de Nieto abraça o risco, utilizando elementos de realismo mágico, como as pinturas animadas de Ángeles Santos, para enriquecer a trama com camadas de simbolismo.

O roteiro, embora por vezes enigmático, é um dos pontos altos, deixando espaço para interpretações e desafiando o espectador a refletir. A escolha por não oferecer respostas prontas é refrescante, especialmente no contexto do cinema espanhol, que muitas vezes opta por narrativas mais diretas. As atuações de Marta Nieto e Noa Álvarez (que interpreta Son) transmitem com naturalidade a conexão entre mãe e filha, mesmo em momentos de conflito. Nahuel Pérez Biscayart, que interpreta o pai de Sonia, entrega uma performance contida, mas impactante, trazendo camadas de complexidade ao papel de um homem que, embora periférico na narrativa centrada em Ana, contribui para o peso emocional das dinâmicas familiares.

‘La mitad de Ana’ não está isento de falhas. A ambição de abordar múltiplos temas — insegurança profissional, transição de gênero, batalhas pessoais e o papel da arte — resulta em uma narrativa que, por vezes, perde o foco. Algumas cenas poéticas, embora belas, podem parecer desconexas, desviando a atenção dos momentos mais realistas e relacionáveis entre Ana e Son, que são o verdadeiro motor emocional do filme.

Apesar disso, ‘La mitad de Ana’ é uma estreia promissora, que revela o talento de Marta Nieto como uma cineasta disposta a explorar territórios pessoais e desafiadores. O longa é uma experiência envolvente, carregada de verdade e beleza. Marta Nieto prova que é uma artista completa, capaz de brilhar tanto diante quanto atrás das câmeras.

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