Tatuagem(Brasil, 2013)

“Bem-vindos à Broadway dos pobres” asssim Clécio, personagem de Irandhir Santos saúda o público do Chão de Estrelas, casa de espetáculos burlescos em Recife, também uma trupe teatral, que com um visual quase artesanal e folclórico evoca Dzi Croquetes e Secos e Molhados.

O longa de estreia de Hilton Lacerda, premiado com o Kikito em Gramado, se passa em 1978. Vemos o sedutor mundo do Chão de Estrelas, mas também somos levados a vida do militar Arlindo, conhecido como Fininha, Jesuíta Barbosa, em começo de carreira. Seu personagem fica entre a repressão da ditadura e seu amor por Clécio(Irandhir Santos), por quem é apresentado por seu cunhado, Paulete(Rodrigo Garcia).

A direção de fotografia de Ivo Lopes Araújo, transforma um cabaré no retrato de um país. As cenas solares, no pátio da casa, também dão um clima setentista e hipponga, uma espécie de Novos Bahianos. Johnny Hooker cantando Volta, é um dos grandes, entre tantos grandes momentos do Chão de Estrelas.

A noite do meu bem, clássico da MPB, embala a primeira noite de sexo entre Clécio e Fininha. A tal cena, é realmente quente, é longa e completamente passível de provocar instintos mais libidinosos nos sensíveis.

Vivendo contra o sistema, o o grupo liderado por Clécio é como um grito de liberdade que não oprime sua essência queer, apesar das represálias, vemos isso principalmente no afeminado e afrontoso personagem Paulete. É uma obra prima do cinema nacional, com momentos épicos, simbolismos e gritos de contra cultura, como o - ALERTA DE SPOILER - musical Tem Cu, momento catártico do filme, que com o perdão do trocadilho, entrou para os anais do cinema brasileiro.

Tatuagem é um marco por inovar e trazer tanta poesia e sensibilidade para a tela. Corajoso, o filme é quase carnavalesco, alegórico, uma odisseia audiovisual acompanhada por uma trilha sonora sensacional e imersiva. É dessa maneira lúdica, que o longa narra um Brasil reprimido, clamando por liberdade.