segunda-feira, 31 de maio de 2021

Tinta Bruta(Brasil, 2018)

A alienação é o tema principal de Tinta Bruta, um conto sobre isolamento na era da internet, ambientado em Porto Alegre. O filme se concentra em um jovem socialmente reprimido que só sai de sua concha durante as apresentações em uma sala de bate-papo, quando ele tira e espalha tinta neon em seu corpo flexível. 

Codirigido por Filipe Matzembacher e Marco Reolon, o longa brinca com momentos de erotismo, mas não como um jogo carnal; em vez disso, é uma visão melancólica de como as consequências do bullying, o fardo de ser diferente e a construção artificial dos bate-papos na Internet quebram os laços sociais. 


Quando visto pela primeira vez, Pedro(Shico Menegat) é um cara tímido e emocionalmente fechado, no final da adolescência, acompanhado de sua irmã mais velha Luiza (Guega Peixoto), em uma audiência para discutir um possível acordo judicial sobre uma acusação de agressão. A essa altura os detalhes são nebulosos, mas fica claro que Luiza, às vésperas de se mudar para o norte, está preocupada em deixar o irmão sozinho no Rio Grande do Sul. Ela está bem com a forma como ele ganha uma renda, despindo-se na frente do computador como o alter ego NeonBoy e aceitando pedidos de fãs cibernéticos.


Pedro fica perturbado ao saber que há outro modelo de webcam em Porto Alegre usando tinta neon em suas apresentações, então ele marca um encontro. Leo (Bruno Fernandes) é o seu oposto: brincalhão, extrovertido e ambicioso, montou seu chat para arrecadar dinheiro extra enquanto procurava uma bolsa de dança no exterior. Juntos, eles fazem uma sessão online e ganham espectadores, mas Pedro está irritado porque os assinantes agora não estão interessados ​​em seu ato solo.


A sensualidade de Leo, sempre tão hesitante, tira Pedro de sua armadura, mas o investimento emocional do jovem retraído é arriscado, já que Leo está querendo deixar a cidade como Luiza e tantos outros. Os que permanecem são mais como os dois caras que atacam o casal na rua uma noite, ou as pessoas assistindo a destruição de seus apartamentos, suas silhuetas sem rosto em pé em um testemunho mudo de uma sociedade paralisada pela apatia.


O filme é dividido em três capítulos, cada um com o nome de um personagem específico. A aparição tardia da avó de Pedro, interpretada pela grande atriz gaúcha Sandra Dani, apenas obscurece as coisas, sem oferecer uma visão maior e mais otimista.  O filme é um retrato atmosférico e obsessivo de insatisfação, carregado pelas performances carismáticas dos atores e de tinta brilhante. O longa recebeu o Teddy, considerado o Oscar LGBTQIA+, no Festival de Berlim, em 2018.



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