Quando Enfant Terrible, cinebiografia do gênio do cinema alemão Rainer Werner Fassbinder, de Oskar Röhler, começa somos transportados a uma sala de teatro em Munique, de 1968, onde vemos sua trupe de teatro e o diretor, magistralmente interpretado por Oliver Masucci, com seu cigarro e jaqueta de couro inconfundíveis, pensativo com o que viria a seguir.
E o próximo passo foi levar seu elenco para o cinema, com a realização do primeiro longa O Amor é mais frio que a Morte(1968), e sua recepção com vaias no Festival de Berlim. No entanto o jovem, e ambicioso, Rainer almejava mais e queria se tornar um grande nome do cinema, como Godard.
Röhler cobre a vida de Fassbinder em uma série épica de cenas frenéticas, confrontos nervosos em sets de filmagens, babados em coletivas de imprensa e sexo em saunas, apresentados em cenários pintados como storyboards e uma inebriante iluminação neon. Ao seu lado sempre está Kurt Raab, Harry Prinz incrivelmente parecido com o ator, a quem Fassbinder chama carinhosamente de Emma.
Quando conhece Gunther Kauffman(Michael Klammer), um atrativo negro, o cineasta se encanta, e exige favores sexuais para que o homem possa atuar em seus filmes. O conturbado caso resultou em interessantíssimas obras como Rio das Mortes(1971) e Whity(1971).
Mas quando encontra o mulçumano Ben Hedi Salem(Erdal Yıldız) em um gueto de Paris é que Fassbinder é avassalado e o chama para vir à Alemanha, onde estrelou ao lado de Brigitte Mara(Eva Mattes), o sensacional O Medo Devora a Alma(1974). No entanto, os casos do artista sempre tiveram finais trágicos, o mesmo vale para Armin Meier(Jochen Schropp), cuja vida infeliz inspirou em parte O Direito do mais forte é a liberdade(1975).
O excesso artístico, sexual, tabagístico e alcoólico, inevitavelmente o conduzem a cocaína, que em determinado momento, acaba virando quase um personagem do filme, aquele que levaria o diretor ao seu final obscuro, por overdose, aos 37 anos. Em determinado momento, a atuação de Oliver Masucci, e sua incrível semelhança, se fundem à Fassbinder, e acreditamos estar diante do próprio.
Mesmo sob o efeito de tantas substâncias, Rainer Fassbinder produzia incansavelmente. “Meu dia tem 26h” diz ele à um amante para em seguida cheirar uma carreira. Em um dos tantos momentos memoráveis do filme, ele acaba esbarrando com a travesti Carlotta(André Hennicke) e tem o insight para fazer Num Ano de 13 Luas(1978).
Com seu extraordinário terno de leopardo, cigarro na mão, canudo no bolso e uma personalidade explosiva, Fassbinder trabalhou até o fim. Em 1982, ano de sua morte, finalmente ganhou o Leão de Ouro, por O Desespero de Veronika Voss, e seu encontro com Andy Warhol(Alexander Scheer) parece ter inspirado sua obra prima póstuma: Querelle.
Valeu a leitura
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