A improvável amizade entre um escritor dissidente gay e uma mulher encarregada pelo Partido Comunista Cubano de observá-lo, é retratada com sensibilidade no filme de Carlos Lechuga, passado em Cuba, no ano de 1983, quando a insistência de Fidel Castro na conformidade ideológica tornou a vida quase impossível para qualquer pessoa cujas crenças políticas e orientação sexual se desviassem da política oficial.
A camponesa Santa (Lola Amores) é encarregada de acompanhar Andrés (Eduardo Martínez) durante os três dias em que se realiza um “Fórum pela Paz” nas proximidades. O medo é que o ele tente entrar em contato com alguém, então todas as manhãs Santa chega ao casebre do escritor com a cadeira na mão, e fica até a noite, visando o mínimo de interação possível. Seu jeito frio e desdenhoso deriva mais do aborrecimento por estar ali do que de um conflito de princípios, que vem mais de seu manipulador Jesus George Abreu) do que de qualquer postura política profundamente arraigada nela.
Uma chuva torrencial força Santa a entrar na cabana de Andrés, e ela relutantemente permite alguma conversa, na qual ele revela que passou oito anos na prisão por escrever um livro que o governo não gostou.
Chega um jovem mudo (Cesar Domínguez), claramente o amante Andrés, essa percepção a separa ainda mais do homem que ela estava observando, mas quando ela encontra Andrés gravemente ferido na manhã seguinte, após uma briga com seu amante, ela o leva para o hospital. Não há cenas de sexo no filme, porém o avantajado nu frontal de Mudo, é bastante homoerótico.
O roteiro evita a exposição direta, permitindo que as circunstâncias e comentários desprevenidos revelem demônios internos que atormentam ambas as figuras, e talvez porque Lechuga tenha o cuidado de não estabelecer uma hierarquia de sofrimento, ele consegue conceder a cada personagem sua própria dor sem um sentimento de rivalidade .
Andrés compartilha sua visão de mundo com Santa, que abre os olhos para a humanidade. Amores e Martínez transmitem muito pelo silêncio, sua fisicalidade ferida exprimindo muito mais do que palavras. Ambos os atores usam essa interioridade para simbolizar sutilmente o isolamento dos personagens, que precisam desesperadamente de vínculos um com o outro.
Ótimo texto, saudades de um filme em Cuba
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