domingo, 2 de maio de 2021

Pink Narcissus(EUA, 1971)

Filmado entre 1964 e 1970, Pink Narcissus de James Bidgood, que por anos não teve a identidade revelada assinando a obra como Anônimo, conta a história etérea de um jovem e suas fantasias eróticas com as quais ele passa o tempo. 

O modelo e protagonista, Bobby Kendall, retrata a um garoto de programa, preso em um inferno surrealista. Ele é Narcissus, jovem que ama seu próprio reflexo e se imagina nas mais alegóricas, coloridas e estranhas alucinações. A câmera passeia incansavelmente por seu corpo fazendo uma rara analogia do umbigo com outro orifício.


Embora o filme não tenha diálogos, a história se desenrola como um sonho, com o protagonista experimentando alguma sensação, que desencadeia nele uma viagem ao próprio subconsciente. Nós o vemos como um toureiro, um imperador, assim como uma figura espiritual nua no deserto ou como uma alma perdida vagando pelas ruas de uma Nova York homoerotizada.



A obra de Bidgood se apoia num forte valor fantástico, e numa atmosfera vanguardista que já era explorada por Kenneth Anger, desde o final dos anos 1940. Figurinos exóticos e teatrais, purpurina e tecidos brilhantes, compunham o visual do longa, que com sua estética
camp oferece identidade, erotismo, desejo e marginalidade. 

Gravado em 8mm, com uma imaginativa e brilhante iluminação, o longa não tinha roteiro apenas um storyboard que proporcionou momentos masturbatórios e de poesia audiovisual, como uma borboleta pousada em um pênis ou o ousado close de uma ejaculação.


A vivacidade das fantasias do protagonista, nos revela como seu narcisismo é sua maior armadilha já que sua imaginação pode lhe levar a caminhos obscuros. O filme que se assemelha com uma instalação artística ou uma vídeo-arte, é uma experiência absolutamente imersiva, psicodélica, homoerótica, onde um jovem é maravilhosamente objetivado.


Celebrado como uma obra underground e precursora do cinema LGBTQIA+, o rococó, kitsch, e extravagante Pink Narcissus inspiraria uma geração de artistas talentosos tais como Derek Jarman, Pierre et Gilles, David la Chapelle e Bruce la Bruce, cujo último longa chama-se, casualmente, Saint Narcissus.


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