domingo, 23 de maio de 2021

Lemebel(Chile, 2019)

Quem foi Pedro Lemebel? O documentário, de Joanna Reposi Garibaldi, apresenta o escritor, performer, artista visual e pioneiro do movimento LGBTQIA+ no Chile, que enfrentou, com clamor, o regime do ditador, Augusto Pinochet.

Há o ativismo e a arte: os dois se entrelaçam e, na maioria das vezes, é difícil dizer onde está a fronteira. Fundador do coletivo Éguas do Apocalipse, com pensamentos muito a frente do seu tempo o militante e seu grupo, sempre se fizeram presentes em grandes eventos demarcando um território de resistência.


O longa é suficiente para extrair temas de uma vida. Como a importância das palavras, a começar pelo nome Lemebel, que ele mesmo escolheu. Porque os sobrenomes espanhóis são masculinos e Lemebel, foi um nome inventado por sua avó quando fugia.


As palavras são importantes. É por isso que ele não gosta de 'gay', que ele vê como tendo pouco em comum com o homossexual da classe trabalhadora. Palavras e linguagem são importantes quando ditas no contexto adequado, quando vai a um programa de TV, e dá uma lista imensa de termos para designar homossexual, Lemebel arranca, com simpatia, risos da plateia.



A visão de Lemebel é revolucionária. Começando como um hippie inspirado no amor, ele entendeu desde cedo a necessidade de revidar. Porque quando começou seu trabalho, sob a ditadura, gays eram assassinados abertamente nas ruas. Quando ganhou voz ele finalmente pode alcançar as massas, lançando obras literárias como a recentemente adaptada Tenho Medo Toureiro(2020), e palestrando em Harvard, por exemplo.


Em sua campanha no evento Stonewall, nos Estados Unidos, ele, repetidamente, usa seu corpo para fazer um protesto, com uma emblemática auréola feita de seringas. Existe uma energia nervosa no artista que não pode falar, afirma, sem música de fundo. Surge então Corazón de Poeta, da cantora Jeanette, famosa pelo tema de Cria Cuervos(1976), Porque te Vas.


Como uma grande homenagem, o documentário mostra obras de Lemebel sendo projetadas em prédios de Santiago, além de uma última performance, o ato final do corpo político, o corpo rasgado, rolando por uma escadaria em chamas.


Não há uma narrativa convencional, de começo e fim. Ainda assim, há uma espécie de linha do tempo, dos diferentes períodos que vivenciou até suas últimas apresentações, quando ele está claramente doente. Tudo coberto por imagens realizadas apenas duas semanas antes de sua morte por câncer de laringe, em janeiro de 2015. O filme, que estreou no Festival de Berlim, em 2019, ganhou o Teddy, de Melhor Documentário.



Um comentário:

  1. Deve ter merecido ganhar o Teddy pela sua impecável descrição já se admira a história desse personagem

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