Como já dizia Tolstói em "Anna Karenina", "todas as famílias felizes são iguais, mas as infelizes o são cada uma à sua maneira". Em "And Someone Else", Vincent Tilanus disseca essa verdade com uma história que mistura amor, segredos e tensões queer. O filme começa com uma festa holandesa no quintal, onde Tommy (Pier Bonnema), recém-formado, lida com o término de um namoro. Sua dor, porém, não encontra eco no pai Abel (Rienus Krul), um homem prático que desconversa: "essas coisas acontecem". A mãe Lieke (Hanneke Scholten), por outro lado, é seu porto seguro, mas insiste que ele trabalhe na carpintaria do pai no verão.
A aparente harmonia familiar desmorona quando Tommy, ao mexer nos e-mails do pai, descobre que Abel tem um caso com outro homem, uma antiga paixão. Um adolescente gay confrontando a hipocrisia paterna em um contexto onde ele próprio busca aceitação. Mas Tilanus opta por uma abordagem contida, sem os fogos de artifício psicológicos que a premissa promete. A tensão entre pai e filho, que poderia explodir em um confronto abrasivo, fica no limbo, com diálogos que não decolam e uma conexão emocional que não se concretiza.
As atuações refletem essa contenção. Rienus Krul entrega um Abel enigmático, com um tormento psicológico que lembra Paul Giamatti, enquanto Pier Bonnema, como Tommy, parece preso em sua própria serenidade, com falas que saem sem inspiração. Quem brilha é Hanneke Scholten como Lieke: sua tristeza ao descobrir o segredo do marido, marcada por um "ok" carregado de entonação, é o ápice emocional do filme. A atuação dela carrega a atmosfera pequeno-burguesa que o filme tenta construir, com clichês de "vai ficar bem" que famílias problemáticas repetem como mantra.
A direção de Tilanus é sóbria, com uma decupagem que privilegia o conteúdo sobre o espetáculo visual. A Holanda retratada aqui é sufocante em sua contenção emocional, mas é exatamente essa austeridade que dá ao filme sua autenticidade. A trilha sonora, sutil e sem ditar emoções, reforça as tensões subjacentes, enquanto a falta de música em momentos-chave, como a construção de uma coleção de discos entre pai e filho, deixa um vazio que poderia ter sido preenchido por mais expressão. É um filme que observa, mas não se aprofunda.
"And Someone Else" levanta questões interessantes para o público queer: como um adolescente gay lida com a descoberta de que o pai, que mal o apoia, também é queer? E o que isso diz sobre as diferenças entre a Geração Z e os "boomers"? Tilanus não toma lados, mas também não aprofunda essas reflexões. Tommy, que deveria ser o centro emocional, permanece raso, sem amigos ou momentos de liberdade que mostrem sua luta interna.
No fim, "And Someone Else" é um drama que faz perguntas sem oferecer respostas fáceis, o que pode ser frustrante para quem busca catarse. O gesto final de Tommy, ao tentar seguir seu caminho, chega tarde demais e sem preparo, como se Tilanus percebesse a falta de um arco de amadurecimento e tentasse corrigi-la às pressas. É uma obra que toca pela sua humanidade falha, mas que poderia ter ido além na exploração de suas camadas emocionais.
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