Thierry Binisti, com sua assinatura delicada e politicamente engajada, entrega em “Les ailes collées”, um telefilme para a France 2, adaptado do premiado romance homônimo de Sophie de Baere. O filme mergulha no amor adolescente entre Paul (Max Libert) e Joseph (Alexis Rosenstiehl), dois jovens que, no verão de 1983, encontram um no outro a luz em meio à solidão, apenas para serem dilacerados pela violência homofóbica e pelo bullying escolar. A narrativa, escrita por Alain Layrac e Alexis Bayet, é um mosaico temporal que alterna entre a vivacidade colorida do passado e a frieza melancólica do presente, capturando a essência de um trauma que ressoa por décadas. Este não é apenas um filme sobre amor proibido; é uma denúncia vibrante da intolerância e das cicatrizes que ela deixa.
A história começa no presente, no dia do casamento de Paul (Roby Schinasi), quando a inesperada chegada de Joseph (Jeremy Kapone), reacende memórias de um verão que marcou suas vidas. Binisti, com sua câmera sensível, constrói um contraste poderoso entre as cenas quentes e alaranjadas do passado — nadar no rio, passeios de ciclomotor, jazz tocando ao fundo — e o tom frio do presente, onde os olhares de Paul e Joseph traem um amor que nunca morreu, apesar dos anos e dos casamentos. A trilha sonora, com composições originais de Jean-Gabriel Becker e outras como I Was Telling Him About You de Carol Sloane, é um personagem à parte, amplificando a ternura e a dor que permeiam a narrativa.
O passado, porém, não é só romantismo. É também o palco de uma violência crua, personificada por Richard (Hugo Attard), que lidera um assédio homofóbico brutal contra Paul e Joseph após um beijo descoberto. A cena em que um triângulo rosa é pregado nas costas de Paul, ecoando as atrocidades do Holocausto, é de uma força visual devastadora, sublinhando a crueldade da masculinidade tóxica normalizada na época. O filme não poupa o espectador. A atuação de Max Libert, premiada no Festival de Luchon ao lado de Alexis Rosenstiehl, é de uma vulnerabilidade esmagadora.
Binisti, não se contenta em contar uma história de amor interditada. Ele questiona as estruturas sociais que perpetuam a violência, da indiferença institucional — a escola que ignora o bullying com o clássico “palavra contra palavra” — às atitudes machistas do pai de Paul (Julien Tortora), que reflete os preconceitos de uma era marcada pelo início da epidemia de AIDS. As mulheres, como a mãe de Joseph (Constance Dollé), também sofrem sob o peso dessas normas, exilando o filho para protegê-lo.
"Les ailes collées" é, acima de tudo, um filme sobre o peso do silêncio e a luta para libertar as “asas presas”. A metáfora da borboleta, debatendo-se contra um lustre em busca de luz, encapsula a jornada de Paul e Joseph, que carregam seus traumas como um fardo invisível. O reencontro no presente, carregado de olhares que dizem mais do que palavras, é um lembrete da força de um amor que resiste ao tempo e à adversidade. O filme, exibido no Dia Internacional Contra a Homofobia, é um convite à reflexão sobre como a sociedade falha com seus jovens e como o amor, mesmo proibido, pode ser um ato de resistência.
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