Manolo Caro, o Ryan Murphy mexicano, é o rei do novelão com lantejoulas. Com “Cobras e Escadas", ele nos joga numa escola em Guadalajara onde a elite dá vexame e o poder é uma serpente escorregadia. Após nos fazer rir com “A Casa das Flores” e tremer com “Sagrada Família”, Caro entrega uma atração ácida, em 8 episódios, que é mais leve que o drama denso de últimos trabalhos, misturando “Sociedade dos Poetas Mortos” com sotaque mexicano e “A Usurpadora” em coreôs da Orgulho Gay. É Manolo no auge: hinos pop, tiradas que cortam e uma queerness que incendeia.
Dora López, vivida pela maravilhosa Cecilia Suárez, é a alma de todo tumulto. Professora ambiciosa, ela sonha em ser diretora, mas se enrosca em chantagens, segredos e um filho, Toño (Benny Emmanuel), que é gay e lindamente aceito por ela. Dora tem como aliado o influente chocolateiro Oslo Muriel (Juan Pablo Medina), e juntos trazem momentos de leveza, embora a dinâmica ética acompanhe toda a série. Cecilia, musa absoluta, reina com sarcasmo afiado e uma fragilidade que faz a tela vibrar. O nome Oslo Muriel só pode ser homenagem aos icônicos galãs mexicanos, porque né…
A vibe queer é o coração, e está por tudo, mais explicitamente em Toño com o aspirante a político Nicolás Patiño (Germán Bracco), que são puro FUEGO. O romance explode com Toño cantando Malagueña Salerosa pra Nicolás num momento de catarse no club de drag queens, cercado por drags e criaturas não binárias, culminando num beijo apaixonado, ainda que enfrentem sombras do preconceito. Mas Nicolás namora Juana (Loreto Peralta), a mimada e cleptomaníaca filha de Oslo Muriel, jogando uma bomba de conservadorismo no triângulo amoroso.
Dora, que já sabia da sexualidade de Toño antes dele contar, é um escudo do amor, ela enfrenta tempestades fora da escola e defende-o com unhas e dentes contra o ataque homofóbico do pai dele, Antonio (Luis Felipe Tovar, em participação especial). Isso traz um toque humano e inclusivo, além de uma reviravolta. Mas na escola ultraconservadora, com seu “protocolo antitristeza”, ela sofre abusos da diretora Josefina, interpretada por Margarita Gralia, e dos alunos.
De clubes de striptease com boys de jockstrap ao homoerotismo do corpo de Martiño Rivas, a lente de Caro ilumina cada cena. Vicente (Martiño Rivas, visto em "Nacho"), um político espanhol, e Tamara (Marimar Vega) trazem canastrice e vilanice. Eles conspiram contra Dora e Oslo Muriel, querendo atrapalhar seus planos, enquanto se devoram com uma tensão que é puro melodrama. Martiño destila homoerotismo e CORPÃO, e Tamara é a vilã depravada sexual que solta pérolas como “NO ME SUGAS EL COÑO!”.
A trilha grita HINO, só que em espanhol. VTR3 da Danna Paola, com o elenco dançando na abertura, te pega de cara. Zorra do Nebulossa e Monarchy com Dita Von Teese são realeza queer, enquanto vários temas da Laura Pausini embalam Dora. Malagueña Salerosa é um CENÃO mexicano. Natalia Lafourcade e o cantor Mitre trazem poesia. A banda Toro traz energia. Cada hino rege o caos como num encontro entre RuPaul e “Betty a Feia”.
A estética camp é um delírio visual, com figurinos exagerados que gritam novela mexicana, mas com pinta. Dora de abelha dançando Pajaritos a Bailar no show de calouros é um ícone camp, além de fazer karaoke de Laura Pausini, enquanto o calendário na parede estampam fotos de sua diva. Um velório cheio de tensões e flertes escandalosos transformam cada cena em puro Escândalo! Roque (Alfredo Gattica) e a vidente, professora e amiga Martha Sánchez (Michelle Rodriguez), olha só o trocadilho no nome, adicionam camadas extras e humor, com a ironia de Caro brilhando até nos temas sérios, como homofobia e o papel dos trabalhadores indígenas.
O humor ácido, com tom crítico, é babado, com pérolas que merecem altar. “No México, só respeite a Virgem de Guadalupe e a Juan Gabriel” é uma ode queer, cuspindo deboche e irreverência. É Caro destilando México, com uma leveza que faz “Cobras e Escadas” flutuar onde seus trabalhos anteriores pesaram. O mundo queer fica entre chamas, segredos e um final BABILÔNICO! Mas não se engane, porque entre mariachis, tequila, sexo, alunos mimados e romance queer há uma sátira mordaz sobre corrupção, ética e dinâmicas de poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário