quarta-feira, 21 de maio de 2025

Forever-Forever (Ucrânia/Países Baixos, 2023)

Forever-Forever, de Anna Buriachkova, segue a jornada de Tonia, uma jovem transferida para uma nova escola em Kiev, Ucrânia, durante os anos 1990. O filme se destaca por sua abordagem crua da autodescoberta sexual, com Tonia explorando sua bissexualidade através de relações com homens e mulheres. A narrativa captura a tensão de uma era pós-soviética, onde a liberdade juvenil colide com resquícios de rigidez social.

A atuação de Alina Cheban como Tonia é um dos pilares do filme. Sua performance equilibra vulnerabilidade e ousadia, transmitindo a confusão e a intensidade de uma adolescente lidando com traumas passados e a pressão de se encaixar em um novo ambiente. As cenas de intimidade, tanto com personagens masculinos quanto femininos, são filmadas com sensibilidade, evitando a objetificação e enfatizando a conexão emocional. Buriachkova acerta ao retratar esses momentos como parte natural da exploração de Tonia, sem moralismos ou explicações didáticas. A química entre Tonia e seus pares, especialmente com Lera e Sasha, é palpável, e os diálogos, muitas vezes improvisados, reforçam a autenticidade das interações juvenis.

O filme também se destaca por seu contexto histórico e cultural. Ambientado em uma Ucrânia recém-independente, Forever-Forever reflete o espírito de transição de uma geração que busca liberdade em meio a incertezas. A escolha de cenários urbanos degradados, combinada com a energia hedonista das festas e corridas de carro, simboliza a busca por identidade em um mundo que ainda não sabe o que quer ser. Nesse sentido, a bissexualidade de Tonia pode ser lida como uma metáfora para a fluidez de uma sociedade em transformação, desafiando as normas rígidas do passado soviético.

A mensagem queer de Forever-Forever é um de seus aspectos mais marcantes. Ao retratar a bissexualidade de Tonia sem alarde ou necessidade de justificativa, o filme normaliza a fluidez sexual como parte integrante da adolescência. Essa abordagem é particularmente significativa em um contexto cultural onde representações queer ainda enfrentam resistência.

Forever-Forever é um coming-of-age vibrante e imperfeito que brilha por sua personalidade e coragem. Anna Buriachkova entrega um filme que é tanto uma cápsula do tempo dos anos 90 quanto uma reflexão atemporal sobre identidade, desejo e pertencimento. A jornada de Tonia, com sua bissexualidade é um lembrete poderoso de que a autodescoberta é bagunçada, bela e universal. 

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