"Rosas Selvagens", de André Téchiné, é um marco do cinema queer francês, ambientado em 1962, durante a Guerra da Argélia. O filme segue François (Gaël Morel), um adolescente em um internato rural, cuja descoberta da atração por Serge (Stéphane Rideau) desencadeia um delicado coming-of-age. A narrativa entrelaça tensões políticas e pessoais, usando o pano de fundo histórico para explorar o desejo em um contexto de repressão social.
O homoerotismo em "Rosas Selvagens" é tratado com sutileza e força, especialmente na relação entre François e Serge. Os olhares furtivos, toques hesitantes e momentos de intimidade, como a cena no rio, carregam uma tensão sexual palpável, sem cair na exploração gratuita. A bissexualidade de François, que também se envolve com Maïté (Élodie Bouchez), reflete a fluidez do desejo adolescente, um tema que ecoa sua busca por identidade em um mundo em transformação.
A Guerra da Argélia serve como pano de fundo político, mas também como metáfora para os conflitos internos dos personagens. A amizade entre François, Serge, Maïté e Henri (Frédéric Gorny), um jovem pied-noir, é tensionada pelas divisões sociais e ideológicas da época. Henri, marcado pela violência colonial, contrasta com a ingenuidade de François, enquanto Maïté representa uma voz de rebeldia intelectual.
A direção de Téchiné é o highlight de "Rosas Selvagens". Sua câmera, fluida e contemplativa, captura a beleza melancólica dos campos e a crueza das emoções juvenis. A fotografia de Jeanne Lapoirie utiliza luz natural para destacar a sensualidade dos corpos e a vastidão do cenário, criando uma atmosfera ao mesmo tempo íntima e expansiva.
As atuações são outro pilar do filme. Gaël Morel, um nome importante no cinema francês atual, em seu primeiro papel, transmite a fragilidade e a curiosidade de François com uma naturalidade desarmante, enquanto Stéphane Rideau traz uma energia física e carismática a Serge. Élodie Bouchez, como Maïté, oferece um contraponto emocional, com uma performance que mistura força e suavidade. A química entre o elenco é essencial para o impacto do filme.
"Rosas Selvagens" é uma obra-prima que equilibra desejo, política e juventude com uma sensibilidade rara. Apesar de sua simplicidade narrativa, o filme carrega uma profundidade emocional que o torna atemporal, celebrando a complexidade do amor em suas muitas formas. A jornada de François, entre roseiras e conflitos, é um lembrete da beleza caótica da autodescoberta, um tema universal que Téchiné captura com maestria.
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