segunda-feira, 12 de maio de 2025

Warm Film (Topli Film, Sérvia, 2024)


“Warm Film”, de Dragan Jovićević, emerge como uma tentativa ambiciosa de mapear a representação queer no cinema iugoslavo e sérvio, uma região historicamente marcada por tensões culturais e políticas. Através dos jovens atores Đorđe Mišina e Đorđe Galić, o documentário híbrido resgata momentos significativos, como os beijos homossociais em “The Life and Deeds of the Immortal Leader Karađorđe” (1911), e avança até produções mais explícitas dos anos 1990, como “Marble Ass” de Želimir Žilnik. Jovićević combina entrevistas com profissionais do cinema, como o ator Miloš Timotijević, e recriações dramatizadas, criando um tom acessível que busca dialogar com um público amplo.

A força de “Warm Film” está na sua missão de visibilizar narrativas queer frequentemente apagadas ou marginalizadas no cinema da ex-Iugoslávia. O filme destaca como obras como “The Parade” (2011) trouxeram avanços na representatividade, mas também expõe a persistência de estereótipos e a crescente onda de homofobia na Sérvia contemporânea, agravada pelo nacionalismo. A escolha de um formato conversacional, com os atores guiando a narrativa, é um acerto, remetendo ao estilo descontraído de documentários como “The Celluloid Closet” (1995), que também explora a história queer no cinema. Contudo, o tom leve por vezes trivializa a complexidade do tema, especialmente ao tratar de períodos históricos mais sombrios.


Um dos pontos altos é a análise de filmes pioneiros como “Marble Ass”, que desafiou tabus ao abordar a identidade trans em meio à guerra dos Balcãs, e “Take a Deep Breath” (2004), um dos primeiros dramas sérvios a retratar um relacionamento lésbico.

As recriações dramatizadas, embora criativas, patinam. Cenas inspiradas em filmes como “The Harms Case” (1987) ou “When I Am Pale” (1980) muitas vezes carecem de contexto, tornando-se desconexas para quem não conhece as obras originais. Essa escolha estética, que poderia enriquecer a experiência, acaba se mostrando mais decorativa do que funcional.

Apesar das falhas, “Warm Film” é uma contribuição relevante para o cinema LGBTQIA+ na Sérvia, especialmente por sua coragem em questionar o status quo em um momento de crescente conservadorismo. Sua estreia no Festival de Documentários de Tessalônica e a indicação a prêmios no Beldocs reforçam seu valor como um catalisador de discussões sobre identidade e representação.

Em suma, “Warm Film” é um documentário que brilha por sua intenção e relevância, mas tropeça na execução. Ele abre portas para um diálogo necessário sobre a presença queer no cinema dos Balcãs, mas deixa o espectador desejando uma exploração mais aprofundada. Para um público interessado em descobrir filmes como “Marble Ass” ou “The Parade”, ele serve como um ponto de partida valioso, ainda que imperfeito. Jovićević acerta ao aquecer a conversa, mas falta o calor emocional que poderia transformar sua obra em um marco inesquecível.

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