Em "Rua do Medo: Rainha do Baile", a cidade amaldiçoada de Shadyside volta a ser palco de horrores em 1988. Na Shadyside High, dirigida por uma contida Lily Tailor, o baile de formatura está a todo vapor, e as "it girls" competem ferozmente pela coroa de Rainha do Baile. Mas com a chegada de Lori (India Fowler), que carrega nas costas o passado da sua mãe, as concorrentes começam a desaparecer misteriosamente, e a noite que deveria ser de glamour se transforma em um banho de sangue. O filme é uma adaptação do livro The Prom Queen (1992), de R.L. Stine, e marca o quarto capítulo da franquia Rua do Medo, na Netflix.
Diferente dos capítulos anteriores, "Rainha do Baile" é uma narrativa independente, sem conexão direta com os eventos ou personagens da trilogia original. Sob a direção de Matt Palmer, que coescreveu o roteiro com Donald McLeary, o filme mantém a essência slasher da série, mas busca um tom mais contido, focado na tensão psicológica e nas dinâmicas sociais do ensino médio, com essas garotas que, além de enfrentarem um assassino, são pura rivalidade.
Um dos pontos altos do filme é sua ambientação oitentista, que captura bem a estética e a energia da época. A trilha sonora, repleta de hits de Billy Idol, Roxette, Laura Branigan, Eight Wonder, Duran Duran, Power Glove, Rick Astley e Tiffany, garante a vibe. Agora pense em cabelos volumosos, ombreiras e vestidos de baile brilhantes: o visual cria uma atmosfera nostálgica que dialoga diretamente como se fosse "Carrie, a Estranha" (1976) encontrando "Scream Queens", de Ryan Murphy. Há ainda referências diretas a outros filmes, como "Os Garotos Perdidos"(1987), e easter eggs a serem caçados.
A representatividade queer, um dos pilares da franquia, está presente, mas de forma mais sutil do que nos filmes anteriores. A protagonista Lori, interpretada por India Fowler, é uma jovem outsider que desafia as normas sociais de Shadyside, e sua jornada carrega ecos de aceitação e resistência. Há momentos de química genuína entre ela e sua melhor amiga Megan (Suzanna Son), que desafia normas binárias, trazendo uma camada emocional que ressoa com o público LGBTQIA+.
No que diz respeito às mortes, não são exatamente criativas, nem nada que já não tenhamos visto antes, referenciando sequências clássicas de filmes como "Pânico" (1996) e até "O Iluminado" (1980), mas sem o mesmo impacto. O sangue jorra, com membros decepados, em um gore sutil. Lori e Megan se veem em um jogo apavorante de caça e rato naquela que deveria ser a noite mais inesquecível de suas vidas, o que de fato é, ecoando medos reais de exclusão e violência enfrentados por pessoas queer.
O ritmo de "Rainha do Baile" é equilibrado. Enquanto a primeira metade constrói bem o mistério e as rivalidades entre as garotas, especialmente com a mais popular Tiffany (Fina Strazza), o terço final se apressa para revelar o assassino e amarrar as pontas, mas acaba oferecendo um fator surpresa.
"Rua do Medo: Rainha do Baile" entrega uma experiência divertida para os fãs do gênero. É um filme que sabe brincar com os clichês do terror adolescente, e o elenco jovem injeta energia na história. Como uma adição à franquia, é um capítulo mais simples, mas que ainda carrega o espírito sangrento e nostálgico de Rua do Medo, provando que Shadyside ainda tem histórias para contar – e sustos para dar.
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