
Ninguém entende mães como Pedro Almodóvar. Em seu universo de vermelhos vibrantes, lágrimas exageradas e abraços que curam, as matriarcas são o pulsar de cada história. De Que Fiz Eu Para Merecer Isto? a O Quarto ao Lado, elas são sobreviventes, devotas, caóticas, redentoras – sempre intensas, nunca perfeitas. Neste Dia das Mães, o CINEMATOGRAFIA QUEER celebra as mães almodovarianas, classificando-as em tipos que capturam sua essência dramática e seu amor incondicional. Prepare-se para uma 'movida' de emoções, com um toque kitsch e muito coração!
Mãe Caótica
Gloria (Que Fiz Eu Para Merecer Isto?, 1984) enfrenta o caos de Madrid com anfetaminas e um grito preso, uma dona de casa que faz do desespero uma arte. A mãe de Ángel (Matador, 1986) sufoca o filho com culpa católica, tecendo uma teia de repressão que explode em tragédia. As freiras de Maus Hábitos (1983, Julieta Serrano, Marisa Paredes e cia.), mães subversivas, adotam marginais com um evangelho de purpurina e pecado, rindo do caos como divas de cabaré. E em A Lei do Desejo(1987) a mãe da pequena Ada, interpretada pela trans Bibi Andersen é puro desapego. São rainhas do improviso, dançando com a loucura sob luzes neon, como se a vida fosse um bolero de Bola de Nieve. Mãe à Beira de um Ataque de Nervos
Pepa (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, 1988, Carmen Maura), grávida e abandonada, incendeia Madrid com um amor caótico que é quase uma ópera, enquanto espera um telefonema que não vem enche o gazpacho de soníferos. A mãe de Leo (A Flor do Meu Segredo, 1995, Chus Lampreave) briga com a filha sob o sol de La Mancha, soltando xingamentos icônicos em espanhol. Elas vivem no limite, com corações que batem em ritmo de comédia espanhola, prontas para explodir ou abraçar, como heroínas de um Almodóvar devoto por Sara Montiel e Lola Flores
Mãe Melodrama
Becky del Páramo (De Salto Alto, 1991, Marisa Paredes), diva dos palcos retorna para reconquistar a filha com canções e culpas. Julieta (Julieta, 2016, Emma Suárez) carrega o luto pela filha distante, escrevendo cartas que sangram em silêncio. Manuela (Todo Sobre Mi Madre, 1999, Cecilia Roth) transforma a perda do filho em laços queer, criando uma família de corações partidos em Barcelona. Martha (O Quarto ao Lado, 2024, Tilda Swinton) enfrenta o câncer e a distância da filha. Suas histórias são contos de dor e redenção, com lágrimas escandalosas que ecoam o coração almodovariano e a voz chorona de Chavela Vargas. Matriarca
Raimunda (Volver, 2006, Penélope Cruz) esconde crimes com sensualidade feroz, protegendo sua filha como uma leoa de batom vermelho. Irene (Volver, 2006, Carmen Maura), um fantasma materno, volta para costurar velhas feridas. Janis (Mães Paralelas, 2021, Penélope Cruz) luta pela filha e pela memória dos desaparecidos, sua maternidade um hino revolucionário. Elas são rainhas que comandam com força e paixão, moldando o mundo com unhas pintadas e olhares que desafiam o destino ao som de um mambo selvagem da La Lupe.
A Mãe do Almodóvar
Francisca “Paquita” Caballero não foi só a mãe de Pedro Almodóvar – foi sua musa, sua diva, sua raiz. Em Dolor y Gloria (2019), Julieta Serrano encarna Jacinta, a matriarca de La Mancha que molda Salvador (Antonio Banderas) com amor austero e memórias de um vilarejo ensolarado. Paquita, porém, roubou a cena na tela, com papéis pequenos em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Kika (1993) e Áta-Me(1989). Sua autenticidade trazia humor e ternura, como se dissesse: “Pedro, me filma”. De Paquita a Jacinta, Almodóvar eterniza a mãe como o coração de seu cinema – um bolero de sacrifício, vermelho, saltos e amor incondicional.

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