segunda-feira, 12 de maio de 2025

Caim as Rosas Brancas! (¡Que caigan las rosas blancas!, Argentina/Brasil/Espanha, 2025)

Albertina Carri, nome essencial do cinema latino-americano, entrega em Caiam as Rosas Brancas! uma obra que desafia convenções narrativas e estéticas, reafirmando sua habilidade de transitar por gêneros e formatos. O filme, seu sétimo longa, é uma road movie queer que parte da citação de Simón Rodríguez – “Ou inventamos ou fracassamos” – para abraçar um cinema decolonial e mutante. A história segue Violeta (Carolina Alamino), uma cineasta que, após o sucesso de um porno amador lésbico, enfrenta conflitos criativos ao tentar dirigir um filme erótico mainstream. Sua fuga de Buenos Aires a São Paulo, junto a amigas e amantes, culmina numa ilha misteriosa onde o cinema se dissolve em vida.

A direção de Carri é um exercício de liberdade formal, misturando road movie, comédia, vampirismo lésbico, body horror e até musical, como descrito pela própria cineasta. A narrativa, orgânica e não linear, acompanha as mutações das personagens, evocando a metamorfose de uma crisálida, como Carri sugere. Simbolismos são centrais: a estrada representa emancipação, enquanto o BDSM, presente em cenas de erotismo explícito, explora dinâmicas de poder e entrega, desafiando tabus.

Carolina Alamino, reprisando o papel de Violeta de As Filhas do Fogo (2018), brilha com magnetismo e vulnerabilidade, ancorando a narrativa fragmentada. O elenco, majoritariamente composto por atrizes de trabalhos anteriores de Carri, como Rocío Zuviría, Mijal Katzowicz e Maru Marcet, cria uma química sororal que sustenta o filme. A brasileira Renata Carvalho, em espanhol, traz uma presença poderosa como parte desse grupo queer, sua militância trans ecoando na subversão do filme.

A participação de Renata Carvalho é um destaque político e artístico. Sua atuação em espanhol, fluida e intensa, sublinha a universalidade da luta por visibilidade trans, conectando-se ao ethos decolonial do filme. Carri, ao incorporar uma atriz militante, amplifica vozes historicamente silenciadas, alinhando-se à proposta de reinventar narrativas. 


Essa recusa ao convencional que faz de Caiam as Rosas Brancas! uma obra singular. Carri não busca agradar, mas provocar, questionando o que o cinema pode ser em uma era de plataformas conservadoras. A trilha sonora de Paloma Peñarrubia e a cinematografia de Sol Lopatín, Inés Duacastella e Wilssa Esser complementam a atmosfera disruptiva, com sons e imagens que oscilam entre o onírico e o visceral.

Caiam as Rosas Brancas! é um manifesto cinematográfico que celebra a reinvenção e a resistência. Ao desmontar as “rosas brancas” – símbolos de pureza e fidelidade ocidental – Carri propõe um cinema que não apenas reflete, mas transforma. O filme oferece uma experiência única, onde a sororidade, o desejo e a subversão se entrelaçam para reescrever as regras do narrar e do viver.


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