“O Banquete de Casamento" , de Ang Lee, é um representante do New Queer Cinema na Ásia, entrelaçando amor gay, tradição familiar e identidade cultural com uma sensibilidade poética. O filme desafia convenções para época ao contar a história de Wai-Tung (Winston Chao), um taiwanês-americano gay, que orquestra um casamento falso com Wei-Wei (May Chin), uma artista chinesa, para aplacar as expectativas de seus pais (Sihung Lung e Ah-Lei Gua).
A trama acompanha Wai-Tung (Winston Chao), que vive em Nova York com seu parceiro, Simon (Mitchell Lichtenstein), em um relacionamento estável, mas escondido dos pais taiwaneses. Sob pressão da mãe (Ah-Lei Gua) e do pai (Sihung Lung), que sonham com um neto, Wai-Tung aceita casar com Wei-Wei (May Chin), sua inquilina, para garantir a ela um green card e acalmar a família. O plano desmorona quando os pais chegam de Taiwan para um banquete suntuoso, transformando a farsa em um redemoinho emocional. A comédia nasce dos choques culturais — os pais tentando decifrar a vida americana, Wei-Wei brincando com o papel de noiva — enquanto o drama cresce nos segredos e na culpa de Wai-Tung.
Os personagens são a alma do filme. Wai-Tung , preso entre dever filial e amor por Simon reflete os dilemas de imigrantes queer. Simon paciente e firme, é o alicerce, enquanto Wei-Wei , com humor e rebeldia, eleva sua “noiva de fachada” a uma aliada complexa. Os pais, especialmente o pai, com saúde frágil e sabedoria silenciosa, ancoram a trama em tradições taiwanesas, mas surpreendem com gestos de aceitação. As interações, pontuadas por olhares e pausas, forjam uma família improvisada que desafia normas, um eco das famílias escolhidas do cinema queer.
A relevância cultural do filme reside em sua ousadia ao abordar questões queer em um contexto taiwanês, algo raro na época. As pressões familiares, enraizadas em valores confucianos de continuidade e honra, chocam-se com a individualidade de Wai-Tung, ecoando os conflitos de imigrantes queer. Ang Lee não aponta culpados, mas convida à empatia, mostrando que amor e tradição podem coexistir. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme abriu portas para narrativas asiáticas queer, influenciando gerações. Sua poesia visual e narrativa, desafiadora para os anos 90, continua a inspirar.
Em paralelo com o remake de Andrew Ahn (2025), "O Banquete de Casamento" de Ang Lee mantém uma sensibilidade introspectiva e poética, contrastando com a energia cômica e coreana, além da inclusão sáfica no remake. O original, ambientado nos anos 90, reflete um mundo menos progressista, onde o casamento falso de Wai-Tung é um ato de sobrevivência; o remake transforma a farsa em uma celebração efervescente de aceitação.
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