segunda-feira, 8 de março de 2021

Flores Raras(Brasil, 2013)


Explorar a sexualidade humana não é novidade para o cineasta Bruno Barreto, de Dona Flor e seus dois maridos(1976) e Beijo no Asfalto(1984), mas ele nunca tinha ido tão a fundo ao revelar a relação biográfica entre duas mulheres. Baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmen L. Oliveira, a trama narra o romance entre a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares, a primorosa Glória Pires, e a poetisa americana Elizabeth Bishop, interpretada pela australiana Miranda Otto.

Convidada por Mary(Tracy Middenford), a namorada de Lota, a conhecer a mansão opulente projetada pela arquiteta, no sítio Samambaia, em Petrópolis, Elizabeth acaba ficando e se envolvendo com Lota, que constrói para ela um lugar único, onde possa escrever. O amor entre as duas, inspira Bishop a redigir Norte e Sul, ganhador do Pulitzer, em 1956.

Num Brasil onde nascia a bossa nova e JK construía Brasília, o empoderamento feminino era raro, e é disso que o filme trata com muita autoridade. Sobre ser mulher e assumir o seu lugar na sociedade. Gloria Pires brilha, no papel de autoritária, com um inglês na ponta da língua, já que filme é quase que totalmente falado em inglês.

Frequentando as altas rodas do Rio de Janeiro, Elizabeth Bishop e Lota Macedo Soares acabam sendo bem aceitas, o que talvez seja uma visão utópica do filme. Amiga íntima do futuro governador, Carlos Lacerda(Marcello Airoldi), a arquiteta sugere a construção do Parque do Flamengo, fazendo uma alusão ao Central Park das memórias de Elizabeth.

A construção do Parque é também o pano de fundo para a ruína do relacionamento. Sofrendo com o alcoolismo, Elizabeth está cada vez mais fora de si. Lota ainda precisa lidar com Mary e a menina que clandestinamente adotaram.

Mesmo sendo dirigido por um homem, Flores Raras transborda feminilidade, graças às grandes atuações de suas intérpretes e aos belos poemas de Elizabeth Bishop, que de certa forma fazem parte da narrativa e ilustram um lindo, boêmio e histórico, Rio de Janeiro, da década de 1950.


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