quarta-feira, 3 de março de 2021

O Lugar sem Limites(El lugar sín limites, México, 1978)



Arturo Ripstein, de O Evangelho das Maravilhas e La Reina de la Noche, é um dos grandes mestres do cinema mexicano, que começou nos anos 1960 ao lado de Luis Buñuel e segue na ativa até hoje realizando filmes maravilhosos, como o recente El Diablo entre las piernas, obra prima sobre o sexo na terceira idade. Seus filmes geralmente destacam a decadência e a luxúria, com personagens marginalizados e fora das normativas.

Com O lugar sem limites, ele recorre a um dos maiores escritores do “boom” literário latino-americano, José Donoso, e adapta seu romance homônimo. La Manuela (Roberto Cobo), é uma travesti que dirige um bordel decadente, com sua filha La Japonesita (Ana Martín). Ela é fruto de uma aposta entre a dona do bordel La Japonesa, a grande estrela mexicana Lucha Villa, e Don Alejo, o veterano Fernando Soler, de El Gran Calavera de Luis Buñuel, o maior latifundiário e chefe político da cidade.

Se La Japonesa conseguisse fazer com que La Manuela transasse com ela, Don Alejo lhe daria o bordel. Mas ela acaba grávida e o fruto desse casamento, La Japonesita disputa agora o amor de Pancho(Gonzalo Vega), um caminhoneiro violento, que parece estar mais interessado na personagem trans. Destaque para Lucy, papel de Carmen Salinas, que está sempre presente ao lado de Manuela, nos dois tempos do filme.

Como crítica social, o filme coloca a homofobia e o machismo no centro de seu alvo. O longa ameaça, ridiculariza, explode e desconstrói a macheza mexicana ao demonstrar as ansiedades que estão por trás de seus desejos. É esse estereótipo da homossexualidade reprimida do macho, que o filme desmascara.

O close do beijo entre o hiper-masculino Pancho e a rainha La Manuela é provavelmente uma das cenas mais marcantes da filmografia de Ripstein e da história do cinema mexicano. A sequência de La Manuela dançando vestida de espanhola é simplesmente icônica.


Bem construído, sagaz e ácido, o roteiro teve colaboração do argentino Manuel Puig, autor de O Beijo da Mulher Aranha e que inspirou Happy Together, de Wong Kar Wai, embora por questões pessoais e políticas não tenha sido creditado.

Obra prima do cinema mexicano, O Lugar sem limites, tem uma ambientação típica da terra de Frida Kahlo, com elementos característicos do país, como a devoção por imagens de santos, e uma trilha sonora sensacional, com boleros e mambos clássicos de artistas como, Sara Montiel, Pepe Avelar e Célia Cruz. O filme ganhou quatro prêmios Ariel, o Oscar mexicano, incluindo melhor filme, melhor ator (Roberto Cobo), melhor atriz coadjuvante (Lucha Villa), melhor ator coadjuvante (Gonzalo Vega) e foi ainda ganhador do prêmio especial do júri no Festival de Cinema de San Sebastian, de 1978.

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