Em O Jardim, Derek Jarman faz uma analogia bíblica para refletir sobre intolerância, cristianismo, AIDS e perseguição aos homossexuais. Evocando os quatro elementos da natureza, o filme tem um visual ousado, conceitual, colorido e mórbido, com uma câmera nervosa e o uso do fundo verde.
Numa mistura peculiar de surrealismo e fúria, O Jardim, é tão misterioso quanto intenso. Há uma imagem dos Doze Apóstolos como 12 mulheres em babushkas, sentadas a uma mesa à beira-mar enquanto correm solenemente os dedos nas bordas de taças de vinho para criar um zumbido sinistro.
Cristo é substituído por um casal gay, que nas cenas iniciais são vistos como amantes inocentes, mais tarde começam a ser assediados e perseguidos, inclusive por uma gangue de papais Noel, que cantam “God Rest Ye Merry, Gentlemen”.
Tilda Swinton, a musa de Derek Jarman, aparece como a Madona, ora vestida de rainha com um bebê, ora sendo fotografada por paparazzis mascarados ou desesperada acompanhando a crucificação dos homossexuais. Maria Madalena é uma drag queen esfarrapada e cintilante. Judas tem dois cartões de crédito.
O senso estético e imersivo do diretor eclipsa facilmente seus talentos conceituais. O Jardim tem uma energia ardente e caleidoscópica para compensar a natureza fácil de alguns de seus pensamentos mais inevitáveis. Além disso, tem a autenticidade da sua própria condição de soropositivo.
Moderno e com linguagem de videoclipe, o filme que quase não tem falas, ainda invoca imagens de uma usina nuclear, saunas com gays mais velhos e um momento musical Think Pink, que traz um pouco de leveza para um filme irônico e sombrio. As flores do jardim, do próprio Derek Jarman, são usadas como fonte de esperança diante de um cenário assombroso de caos.
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