terça-feira, 31 de agosto de 2021

Retake(EUA, 2016)


O solitário Jonathan (Tuc Watkins), um charmoso homem de meia-idade, contrata um garoto de programa para o que inicialmente parece ser uma encenação. No entanto, por algum motivo, o prostituto acha tudo uma maluquice e vai embora, no início de Retake, longa de estreia de Nick Corporon.

Jonathan sai em busca de outro jovem, escolhendo um cara que parece se encaixar melhor no que deseja que Brandon, seu personagem, seja. Um rapaz(Devon Graye) concorda em partir com Jonathan em uma viagem pelo oeste americano, de Seattle ao Grand Canyon, sendo pago ao longo do caminho. No entanto, aos poucos fica claro que esta não é uma viagem aleatória com um jovem como companhia, e que o cliente está tentando recriar algo de seu passado.


À medida que a viagem avança, para os dois a intensidade cresce e as linhas emocionais ficam confusas entre o personagem e o jovem rapaz que concordou em assumir o papel, tornando difícil saber o que é real e quais são os ecos do passado .

 

O longa é um road movie com uma sensibilidade muito indie, o que significa que não será para todos, mas para quem gosta de um drama de personagens onde as linhas são tortas e as motivações nem sempre são claras.

Retake é apoiado por uma sensação de mistério hitchcockniana, enquanto você tenta descobrir exatamente o que Jonathan está tentando recriar - Brandon já foi real? Jonathan já esteve nesta viagem antes? Por que ele quer recriar isso? Torna-se ainda mais interessante quando o jovem trazido para fingir ser o amante sente que está começando a romper as rachaduras de uma ficção que parece quase impossível de acompanhar. 


O filme é um estudo de personalidade interessante de duas pessoas que inicialmente parecem ter pouco em comum além do gosto por sexo e o fato de terem entrado em uma transação comercial. No entanto, com o passar do tempo, torna-se claro que há mais semelhanças do que parecem à primeira vista. Ambos estão bastante perdidos, almas deslocadas, assombradas por seus passados ​​de maneiras diferentes e procurando algum tipo de conexão.


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A Rainha Diaba (Brasil, 1974)


Quando os créditos de A Rainha Diaba aparecem na tela, ao som de Índia seus cabelos, somos avisados que todos os personagens são ficcionais, porém sabemos que o argumento do dramaturgo Plínio Marcos, se inspirou na figura de João Francisco dos Santos, o Madame Satã.

O longa, de Antônio Carlos da Fontoura, é um marco por ser um dos primeiros no cinema brasileiro, em plena ditadura, a trazer o protagonismo negro e homossexual, ainda que esse viesse acompanhado de bandidagem e caricatura.

A Rainha Diaba, interpretada pelo gigante Milton Gonçalves tem um reino aos seus pés. Administrando o tráfico ela mora em um cenário kitsch, atrás de um bordel, com homossexuais, travestis, prostitutas e a cafetina, vivida por Yara Cortez. Há até uma referência ao clássico Navalha na Carne, também de Plínio Marcos, com um dos personagens se chamando Veludo.

Com um de seus protegidos, Robertinho(Edgar Gurgel Aranha), correndo o risco de ser preso, a Rainha bola um plano para que um bode expiatório seja pego no seu lugar. Mas a partir daí, a trama toma outros rumos, com o inabalável reinado da protagonista sendo ameaçado.


“Como pode uma bicha comandar a boca?”, Catitu(Nelson Xavier) conspira contra a Diaba e para isso conta com a ajuda do belo Bereco(Stepan Nercessian), um malandro que só quer se dar bem e está envolvido com a prostituta Isa(Odete Lara).

A propósito de Odete Lara, ela protagoniza duas belíssimas cenas, onde canta La Mujer que no se Asoma e Molambo, na boate Leite da Mulher Amada, onde ocorre parte da ação do filme. Em um breve momento também vislumbramos a jovem Zezé Motta que aparece para iluminar a tela com sua nudez.

Quando Milton Gonçalves aparece se maquiando no espelho, vemos a força e o poder da personagem. A Diaba sabe que querem derrubá-la, mas armada de sua navalha, não permitirá que isso aconteça. As cenas coloridas na casa da personagem, ressaltando a estética e a trilha dos anos 1970, com Roberto Carlos, Dolores Duran e James Brown, contrastam com a bandidagem que toma conta da cidade.

O ato final de A Rainha Diaba possui um total estágio de histeria. O desfecho de seus personagens não é algo difícil de prever, porém esse filme, ainda que com algumas falhas, é um pioneiro na abordagem de figuras LGBTQIA+ no cinema nacional. Um triunfo!

domingo, 29 de agosto de 2021

Are We Lost Forever(Suécia/EUA, 2020)



Em que ponto termina a esperança, o otimismo e a paixão de um relacionamento? Esta questão está no cerne da estreia de David Färdmar, à medida que amor, separação, arrependimento e desejo se fundem. Aqui, não há melodrama, sem clichês preguiçosos e sem conclusões simples. Em vez disso, temos um retrato delicado, amoroso, doloroso e real dos fins e começos que cercam a vida.

A jornada que fazemos ao lado de Adrian (Björn Elgerd) e Hampus (Jonathan Andersson) é cheia de uma emoção amarga em torno de uma separação. Ao mesmo tempo, refletindo uma verdade eterna; enquanto um parceiro pode seguir em frente, o outro muitas vezes lutará para aceitar o caráter definitivo de um rompimento.


Conforme os dias se transformam em semanas e semanas em meses, eventualmente surge com as palavras devastadoras "não há mais nós". A realidade do desespero oculto, a dor e a sensação de desconexão de um relacionamento fracassado de repente toma conta.

E com o passar do tempo, os caminhos de ambos se cruzarão; sua história sexual, dor e amor passado se fundindo em um mar de turbulência não resolvida. No entanto, enquanto um seguirá em frente, o outro lamentará as oportunidades perdidas que talvez nunca recupere.


O roteiro é belo na construção, permitindo a Adrian e Hampus uma voz distinta e envolvente em todo o filme. Mas é em sua delicada mas poderosa discussão sobre o amor perdido que Are We Lost Forever encanta.

Sem poupar na ousadia nas cenas de sexo, este é um filme que arde tão intensamente quanto as emoções em seu núcleo. Ao mesmo tempo, permitindo discussões cruas e honestas sobre relacionamentos que os homens muitas vezes preferem ignorar, em seu prejuízo.

sábado, 28 de agosto de 2021

Caracóis na Chuva (Shablulim BaGeshem, Israel, 2013)


Baseado no livro Jardim das Árvores Mortas, de Yossi Avni Levy, Caracóis na Chuva, de Yariv Mozer, começa em Tel Aviv, no Verão de 1989. O filme segue o estudante de linguística, Boaz (Yoav Reuveni), que tem uma namorada e parece estar a caminho de uma vida de sucesso.

Boaz começa a receber cartas de amor anônimas de outro homem, que são apaixonadas. O filme olha para a dificuldade de homens enrustidos que estão lutando com o fato de que a vida que levam não corresponde ao que sentem.

O filme contrapõe o presente com o passado, quando Boaz estava no exército, quase o apogeu da masculinidade aos olhos da sociedade e, ainda assim, para muitas pessoas, no caso o personagem principal, será onde elas expressarão pela primeira vez seus sentimentos pelo mesmo sexo.


As cartas começam a desafiar a ideia do personagem sobre si mesmo, à medida que ele começa a olhar para outros homens e ver as possibilidades sexuais, bem como se lembrar de suas experiências no exército. Ele está longe de estar feliz com isso e seu tormento começa a chegar ao limite da violência, mesmo quando ele deseja que as cartas continuem.


Caracóis na Chuva é um filme desafiador, interessante e até certo ponto triste, mas não 100% bem-sucedido. De repente, tudo ao redor do protagonista, se torna homoerótico. Parece que ele não pode se mover sem homens olhando para ele ou lhe oferecendo uma possibilidade sexual.

O filme consegue superar o conflito que Boaz sente, atraído e repelido por um lado de si mesmo. O longa captura a luta de viver no armário quando a vida correta que você construiu para si mesmo é desafiada pelo fato de que você não é realmente assim. 



sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Não sei se corto os pulsos ou se Deixo Crescer(No sé si Cortarme las venas o dejármelas largas, México, 2013)


Antes de tornar-se internacionalmente conhecido graças ao sucessos das séries La Casa de las Flores e Alguém tem que Morrer, Manolo Caro, reflete em Não sei se corto os pulsos ou Deixo Crescer: um melodrama que trata dos conflitos do casal e da aceitação da realidade, e cuja tensão se rompe ao se deparar com situações cômicas e enredos que rompem o drama.

Originalmente uma peça de teatro, seu elenco quase completo permaneceu para a versão cinematográfica. O filme é sobre os vizinhos de um edifício: um casal recém-casado, seus vizinhos judeus, o novo inquilino e o vizinho antissocial espanhol. Todos eles compartilham o chão em seus diferentes apartamentos, mas em geral estão distantes e raramente trocam uma palavra. Todos vivem em seus próprios microuniversos que se limitam às paredes de seus apartamentos, onde tudo e nada acontece, dia a dia.


Assim, cada núcleo de personagens se desdobra em seu habitat, mas às vezes devem interagir com outros nos espaços que lhe foram designados. No entanto, haverá momentos em que terão que abrir as portas de sua casa e habitar lugares que não foram definidos para isso, o que os enche de desconforto. O diretor conseguiu deixar claro esse desequilíbrio em sua perspectiva visual, enquanto algum comentário sarcástico quebra o silêncio constrangedor e produz risos na sala.


 Um terceiro lugar está integrado na história. Em uma trama paralela (como em flashback), todos os personagens são interrogados por um agente do Ministério Público em uma sala escura que remete a um lugar sombrio e sufocante. Esses momentos têm uma forma bem diferente do resto do filme, com closes, câmera na mão e ares de documentário, nos quais os personagens - em forma de monólogo - revelam seus pensamentos mais profundos. 

Há vários momentos no filme que denotam uma mão inspirada no estilo de Pedro Almodóvar. Cenas com a vizinha Lola, interpretada pela colaboradora constante do diretor espanhol Rossy de Palma, provam isso, sendo através dos figurinos excêntricos, pela profissão de cartomante ou pelo gaspacho que oferece aos seus convidados.

Mesmo apesar da simplicidade de enquadramento e narrativa, e do fato de seus cenários (exceto a delegacia) serem bastante utilitários, o filme de Caro respira uma pitada de nostalgia. Nostalgia do que não é, do que está escondido, dos segredos, da saudade do passado, dos desejos, das saudades. Nostalgia que obriga os personagens a se questionarem. Até a música evoca esse sentimento, com canções bem conhecidas de um passado próximo.


A linha que divide este filme entre ser divertido e virar algo parecido com uma novela mexicana é muito tênue. No entanto, ela consegue se safar, talvez pelo cuidado com os detalhes que o diretor colocou, observando a história de diversos ângulos. Há Lucas(Luis Gerardo Mendes), que está apaixonado pelo amigo “hétero” Félix(Luis Ernesto Franco). Há Nora(Ludwika Paleta) que enfrenta problemas conjugais e há até a famosa Cecilia Suarez, fazendo uma ponta como atriz de telenovela.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Lazy Eye(EUA, 2016)



No longa, de Tim Kirkman, Dean (Lucas Near-Verbrugghe) é um designer gráfico que trabalha em Los Angeles. Ele recebe uma mensagem inesperada de Alex (Aaron Costa Ganis), o amante que havia desaparecido de sua vida 15 anos antes. Eles marcam um encontro na casa de verão de Dean, perto de Joshua Tree, onde as paixões reacendem quase que instantaneamente - na verdade, para Dean, elas reacenderam antes mesmo de Alex aparecer.


No entanto, embora inicialmente consigam cair de volta em um mundo fácil de contentamento, sexo e companheirismo, logo as perguntas começam a surgir. Dean não sabe por que Alex partiu repentinamente mais de uma década antes, e ele também manteve aspectos das mudanças em sua própria vida.


Para ambos, o relacionamento anterior ficou no passado e eles devem descobrir se há algo com futuro, ou se sua reconexão é mais sobre tentar ignorar os problemas atuais de suas próprias vidas. Dean está num relacionamento estável, o que acaba por abalar o encontro.


Cerca de 90% de Lazy Eye, são apenas os dois personagens principais na tela, e não há muita ação. Enquanto eles tomam banho de piscina e vão para o deserto, a maioria do tempo são apenas eles conversando, discutindo suas vidas, amores, as mudanças que aconteceram com eles com a idade, o que seu relacionamento significava e o que significa agora. 


Flashbacks nos levam ao passado e em seguida, é comparado com quem eles são agora quando segredos são revelados, e eles tentam descobrir por que estão juntos novamente. Para os dois, seu relacionamento passado se tornou a idealização de uma época mais simples e esperançosa, o que parece atraente para se refugiar em vez de lidar com o lugar onde eles acabaram.


Com algumas sequências muito sensuais, dois homens bonitos e uma genuína saudade da juventude, temperada por uma esperança de como a vida pode ser à medida que você amadurece, Lazy Eye é melhor do que possa parecer e quem saber até ser audaciosamente apontado como uma versão gay dos filmes Before de Richard Linklater.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Consequences(Posledice, Eslovênia/Áustria, 2018)



Aos 18, Andrej(Matej Zemljic) é colocado em um centro de detenção juvenil. Ele se junta a um grupo de meninos delinquentes com quem se perde nas drogas e na violência. Mas logo os desejos de Andrej o alcançam. Desmascarado, ele terá que fazer uma escolha para permanecer fiel a si mesmo.

Neste centro para delinquentes juvenis onde  Andrej acaba de desembarcar, o respeito e até mesmo a amizade, é conquistado por meio de rajadas, intimidações e lutas pelo poder. O cineasta Darko Štante, que assina o seu primeiro filme, conhece bem este difícil universo masculino, pois ele próprio trabalha como educador.

Mesmo os adultos que tentam reeducar esses jovens são totalmente desprovidos de qualquer resposta educacional além de ameaçar chamar a polícia. A violência está aí, irremediável, potente, como motor da vida entre esses adolescentes, cujo destino se suspeita ser o da criminalidade e da prisão.


Desde as primeiras sequências, por trás dessas figuras viris emerge uma sensualidade muito grande. As relações que se estabelecem entre os jovens dão lugar a uma espécie de dança de sedução, onde a masculinidade é tanto uma arma contra a agressividade mas também uma busca pela conquista. Andrej está completamente apaixonado por Zeljko(Timon Sturbej), o líder informal do lugar, e as vezes ele é correspondido e às vezes não, mas o sexo é uma necessidade masculina que certamente acontece.

O cineasta oferece um filme denso, preciso e maravilhosamente escrito, que dá uma visão apurada da direção e da conduta dos atores. Suavidade, aspereza, frieza, raramente alegria, angústia. são todas as emoções que atravessam o rosto do jovem protagonista, sem que ele precise fazer muito.

O personagem é habitado por um desejo de infância e afeto, e ao mesmo tempo pela necessidade de se tornar um adulto duro e retraído antes do final de sua própria juventude. De certa forma, Consequences conta a história da incapacidade dos centros de recuperação eslovenos de mudar esses seres feridos e de revelar neles a sua parte humana mais bela.



terça-feira, 24 de agosto de 2021

Marilyn(Argentina/Chile, 2018)

Fica claro desde a abertura de Marilyn, de Martin Rodriguez Redondo, que o protagonista, Marcos (Walter Rodríguez), admira roupas e acessórios femininos. Ele ajuda sua mãe Olga (Catalina Saavedra) a escolher vestidos e muitas vezes os usa em segredo.

Marcos é um adolescente reticente, muitas vezes levado a realizar tarefas na fazenda da família, que se tornam mais necessárias após a morte repentina de seu pai.

No Carnaval, Marcos decide ir a uma festa na cidade vestido de mulher. A cena ao som da batucada do samba ou da cúmbia Mi nombre es Marilyn é libertadora. Infelizmente, apesar das satisfação com aparência feminina, ele é reconhecido por um grupo de outros jovens, que costumam o perseguir, e depois de sair do bar é brutalmente atacado e sexualmente abusado.

Tão repressora quanto a natureza da sociedade que o rodeia é a mãe de Marcos. Ele chega em casa aos farrapos, apenas para Olga descobrir as roupas femininas do filho. Enquanto ela os queima, o público vê as lágrimas nos olhos do jovem, como se sua identidade tivesse sido cremada simbolicamente. Apesar da condenação de Olga, Marcos acha impossível negar quem ele realmente é.


A história de Marilyn é contada com naturalidade, o que ajuda este filme em particular a brilhar. A decisão do diretor de contar a narrativa com franqueza não apenas chama a atenção do público, mas torna as cenas impactantes mais profundas porque não são exageradas. É revigorante ver um diretor adotar essa abordagem.


Baseado em chocantes acontecimentos reais, o  primeiro longa de Redondo pode não ser particularmente ousado, mas dá um relato íntimo de seu protagonista. Marilyn é gentil ao contar a história de seu tema, mas não é ostentosa em sua apresentação de pessoas que de alguma forma ainda estão sujeitas à opressão e à discriminação.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

American Horror Stories(EUA, 2021)


American Horror Stories
, o spin off da aclamada série antológica American Horror Story, de Ryan Murphy e Brad Falchuk, apresenta mais do mesmo; histórias macabras, com a diferença de que dessa vez é uma uma por episódio, exceto nos dois primeiros que se complementam.

Estamos de volta à Murder House, a casa assassina da primeira temporada do programa original. Querendo tirar vantagem, o casal homoafetivo Troy(Gavin Creel) e Michael(Matt Bomer)se mudam com a filha adolescente Samantha(Sierra McCormick) para a fatídica residência.  Rubber (Wo)man traz de volta a icônica roupa de látex, que dessa vez é descoberta pela jovem e revela o seu pior lado.

Os pais estão preocupados com a garota pois ela se interessa por pornografia hardcore e na escola está sofrendo bulliyng das colegas incluindo Maya, personagem de Paris Jackson. Esse primeiro episódio acena para Tarantino, tanto na violência gráfica, quanto no uso da trilha, quando escutamos o inesquecível assobio de Elle Driver, de Kill Bill.

Na segunda parte do episódio, Samantha segue explorando a casa, que está cada vez mais sombria, com mortes e aparições, e se apaixona pela fantasma que vive lá, a roqueira Ruby(Kaia Gerber) O romance dá combustível para um capítulo incrível, sexy, visceral e com um visual muito caprichado. No Halloween, os espíritos podem sair da casa e é aí que vislumbramos uma belíssima cena ao som de Heads Will Roll, do Yeah Yeah Yeahs. De virgem à heroína sádica, Samantha tem uma jornada reveladora na Murder House, mas quem lá morre, de lá não poderá mais sair.


Quando chegamos no terceiro episódio, Drive In, já estamos sedentos por sangue e é isso que a série dá. A carnificina continua com Rabbit, Rabbit, um filme amaldiçoado, que será exibido ao ar livre e provocar muitas mortes. Há personagens de sexualidade fluida, heróis, muito sangue, e uma homenagem aos filmes de terror B.

Flertando com Black Mirror, The Naughty List acompanha quatro amigos influencers, que moram na BroHouse fazendo coisas sem noção ao estilo Jackass, para postar no Youtube, mas um dia eles erram feio e sua popularidade cai. Tentando recuperar os seguidores eles, exibem os corpos entre outras tentativas, até irritar um papai-noel de shopping, interpretado por Danny Trejo,

O quinto episódio talvez seja o mais enigmático e atmosférico de todos. Fazendo uma clara homenagem ao clássico O Bebê de Rosemary, BA’AL, apresenta Liv, interpretada por Billie Lourd, de várias temporadas da série de origem. A personagem quer engravidar e para isso faz um ritual com a ajuda de um totem. À medida que a gravidez vai avançando a personagem vai ficando perturbada, porém um plot twist atrás do outro, resultará num final inusitado e estranhamente sedutor.

Quando você acha que Feral, será uma simples história de acampamento, com lago, floresta e o filho do casal desaparecido na selva a série ganha nuances de Roanoke(2016), uma das temporadas esteticamente mais perturbadoras de American Horror Story.  O episódio conta com Cody Fern, outro colaborador constante de Murphy.

Novamente flertando com a tecnologia, chegamos ao fim em Game Over, um jogo que nos levará mais uma vez para a Murder House, e dessa vez alguns de seus moradores originais estão de volta, como o terapeuta Dr. Ben(Dylan McDermott). O fim se entrelaça com o começo e nessa história onde uma mãe e um filho enfrentam dramas para desenvolver o jogo, mortes não faltarão,  enquanto Ruby e Samantha podem ter o seu tão esperado e morbidamente romântico desfecho.

A mesma música tema de American Horror Story embala a abertura de cada episódio que varia de acordo com sua temática. A antologia parece não ter a mesma força de sua série original por não se aprofundar tanto nos enredos, mas a marca de Ryan Murphy está aqui e traz deliciosas e assustadoras pílulas de terror, que dão fôlego para uma já renovada segunda temporada.

domingo, 22 de agosto de 2021

O Outro Lado de Hollywood(The Celluloid Closet, EUA, 1995)

O Outro Lado de Hollywood, dos documentaristas Rob Epstein e Jeffrey Friedman, é inspirado no livro, de 1981, do ativista Vito Russo, que escreveu como um homem gay tinha que olhar nas sombras e subtextos dos filmes para encontrar os personagens homossexuais que certamente estavam lá. 

Naqueles poucos filmes que eram abertamente sobre gays, suas vidas quase sempre terminavam em loucura ou morte. Há uma montagem de homossexuais morrendo na tela. Há um cuidadoso estudo sobre a homossexualidade na trajetória da sétima arte.


O filme, narrado por Lily Tomlin, contém entrevistas com várias testemunhas da época em que os gays estavam no armário de Hollywood. O bate-papo com Gore Vidal lembra de como foi contratado pelo diretor William Wyler para reescrever Ben-Hur. Um dos problemas do filme era que não havia explicação plausível para o ódio entre os personagens interpretados por Charlton Heston e Stephen Boyd, ele sugeriu então que eles tivessem sido amantes na juventude.


Às vezes, os diretores apagavam cenas com temáticas gays por causa do estúdio ou da pressão da censura e o filme nos satisfaz com essas imagens deletadas de Tarzan ou Spartacus, de Stanley Kubrick, onde Tony Curtis relembra uma cena com Laurence Olivier onde os dois flertam em um banho quente.


O Outro Lado de Hollywood, pesquisa filmes desde os primeiros tempos até 1995, quando o documentário foi realizado, mostrando personagens que que viviam nas entrelinhas, devido ao conservadorismo e ao antiquado Código Hays, que por anos censurou e baniu filmes. Mas há um vislumbre quando vemos Marlene Dietrich de calças no filme Marrocos de 1930, ou o pioneiro Rainha Cristina, de 1933.
Há uma luz quando o inovador filme de 1970, Os Rapazes da Banda é lançado. Homossexuais já não estavam mais fadados a serem maníacos no cinema, porém períodos difíceis estavam por vir e isso certamente afetaria a produção cinematográfica e colocaria um estigma novamente na comunidade já tão marginalizada.

De Rock Hudson a Doris Day, o filme revisita um riquíssimo acervo cinematográfico analisando obras, como Cabaret, Making Love, O Falcão Maltês, Juventude Transviada, Parceiros da Noite, Sunday Bloody Sunday, Quanto mais quente melhor, Rebecca, Johnny Guitar, Gata em Teto de zinco quente, entre muitos outros.

O Outro Lado de Hollywood é uma verdadeira aula de cinema e conta ainda com depoimentos do diretor William Friedkin, Whoopi Goldberg, Susan Sarandon, diversos roteiristas, diretores, além de Tom Hanks, que naquela época estava colhendo os frutos de seu Oscar, por Philadelphia.

sábado, 21 de agosto de 2021

Canário(Kanarie, África do Sul, 2018)



Em Canário, dirigido por Christiaan Olwagen, temos um vislumbre do mundo de meninos  à medida que eles se tornam homens, lutando tanto com o mundo externo quanto com o interno, moldados pelas táticas de sobrevivência.

O longa, escrito por Olwagen e Charl-Johan Lingenfelder, acompanha o reservado Johan Niemand(Schalk Bezuidenhout), convocado para um treinamento militar de dois anos durante a última década do apartheid sul-africano. Para evitar a linha de frente da guerra, Johan se inscreve e é escolhido para ingressar no grupo de Coro e Concerto das Forças de Defesa da África do Sul: os “Canários”. No conjunto, o protagonista conhece novos amigos Ludolf Otterman (Germandt Geldenhuys) e Wolfgang Müller (Hannes Otto).

Seu novo lar com o coro e com os militares torna-se uma espécie de faca de dois gumes: quanto mais próximo ele se torna de sua unidade e amigos, e quanto mais ele se sente confortável consigo mesmo, maior sua pressão interna e confusão aumentam. Quando Johan e Wolfgang começam um relacionamento íntimo e romântico, o personagem deve escolher se fechar para sempre ou enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.


Os compatriotas de Johan, Ludolf e Wolfgang, também são homossexuais. Enquanto o primeiro caminha pela vida com confiança extravagante, o último simplesmente ri e Johan constrói barreiras entre ele e outras pessoas. Se ele não consegue se conectar, ele não pode se machucar; se ele não pode sentir, ele não pode sofrer.


Protegendo-se do mundo exterior, Johan encontra conforto em Culture Club, Kate Bush, Grace Jones, Bronski Beat e na música e moda fluida de meados dos anos 1980. Em fantásticos interlúdios musicais, o protagonista se imagina como Boy George, livre para usar maquiagem e vestidos e ser um farol para os meninos que lutam para sobreviver em um mundo que quer que eles sejam qualquer um, menos eles próprios.

Johan encontrou a música como uma forma inicial de se proteger de insultos e abusos de seus colegas. E com os "Canários", a melodia prova ser mais uma ferramenta para se proteger da guerra, mas também se torna a própria coisa que o conecta à sua unidade e especialmente a Wolfgang.

Enquanto mais Johan se move da linha de frente de sua luta interna, mais ele exterioriza a dor que deve enfrentar para encontrar uma solução. Johan expressa flashes de emoções profundas: tristeza, raiva, brutalidade e amor. O uso da música é essencial porque destaca a coordenação entre esta faceta distinta do armário e a própria jornada de Johan. O hino Do You Really want hurt me, do Culture Club, define perfeitamente o protagonista;


Johan enfrenta o legado da religião e da guerra em um país dilacerado pela supremacia branca, por um país fazendo tudo o que pode para silenciar e encobrir os horrores de seu passado e presente. A certa altura, o líder do coro, o reverendo Engelbrecht (Jacques Bessenger), diz aos meninos para "lembrar dessa raiva, para que ela não se transforme em nostalgia". O filme evita a nostalgia o tempo todo e visa apaziguar as massas e solidificar as histórias e estruturas que permitem que o ódio perdure. 


Johan, como todos nós, é moldado pelo mundo que o rodeia, sejam palavras ou lugares. No entanto, também destaca o fato de que ele é inteiramente de onde ele vem, como ele vê esse lugar e como os outros o veem. Dentro dele estão Boy George, sinos de bicicleta, sua família, seus amigos, seu dever para com Deus e com a pátria, seus desejos, suas habilidades e, principalmente, as palavras das pessoas que o cercam, para o bem ou para o mal. São essas partes de Johan que unem o próprio filme em estilo e substância e refletem a vida interna de seu personagem central de forma tão ressonante e bonita. E faz isso porque busca ver Johan por inteiro.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Adeus, Minha Concubina(Bàwáng Bié Jī, China, 1993)


Adeus, Minha Concubina
, de Chen Keige, contém praticamente dois filmes juntos: um épico que abrange meio século da história chinesa moderna e um melodrama sobre a vida nos bastidores da famosa Ópera de Pequim. O filme flui com tal urgência que todas as suas conexões parecem lógicas. E é filmado com tal esplendor visual que possíveis objeções são postas de lado.

O longa começa quando dois jovens órfãos são introduzidos na dura e perfeccionista academia de treinamento da Ópera de Pequim. As dificuldades físicas e mentais mal são suportáveis, mas eles produzem, depois de anos, artistas clássicos que são primorosamente treinados para seus papéis.


Encontramos o delicado Douzi (Leslie Cheung), que é designado para o papel da concubina em uma famosa ópera tradicional, e o mais masculino Shitou (Zhang Fengyi), que fará o papel do rei. Ao longo de suas vidas, eles estarão presos a esses personagens no palco, enquanto seu relacionamento pessoal de alguma forma sobrevive às convulsões da Segunda Guerra Mundial, à conquista comunista da China e à Revolução Cultural.


Sob os nomes artísticos de Cheng Dieyi e Duan Xiaolou, os dois atores se tornaram extremamente populares entre o público de Pequim. Mas eles não são sofisticados politicamente, e Dieyi em particular toma decisões imprudentes durante a ocupação japonesa, levando a acusações posteriores de colaboração com o inimigo.



Seu relacionamento pessoal é igualmente instável. Dieyi, um homossexual, sente um grande amor por Xiaolou, mas o "rei" não compartilha seus sentimentos e, eventualmente, se casa com a bela prostituta Juxian, interpretada por Gong Li. Dieyi é ressentido e ciumento, mas durante longos anos de tempos difíceis, Juxian permanece heroicamente ao lado de ambos.

É surpreendente que a Ópera de Pequim tenha sobrevivido durante cinco décadas de turbulência; aparentemente, suas origens monarquistas e burguesas se contrapõem à sua longa história como tradição cultural chinesa, de modo que até os chineses ortodoxos aceitam toda a sua glória anacrônica.


O que é incrível, dadas as condições em que o filme foi feito, é a liberdade e a energia com que ele atua. A história é quase inacreditavelmente ambiciosa, usando nada menos do que toda a história moderna da China como pano de fundo, já que a vida privada dos personagens reflete sua mudança.

A própria Ópera de Pequim é filmada em detalhes luxuosos, os figurinos se beneficiam de cores ricas e uma direção de arte impecável, como deveria ser. O filme é uma demonstração de como um grande épico pode funcionar, nos transportando a outro lugar e época, os tornando emocionalmente compreensíveis.


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

En Algun Lugar(México/EUA, 2017)

O escritor e diretor Tadeo Garcia nos traz uma poderosa história de amor contra o polêmico sistema de imigração dos EUA, na era Trump. Tanto Abel (Nelson A. Rodriguez), que trabalha em Chicago no serviço social, e Diego (Andrew L. Saenz), mecânico de automóveis, esperaram muito pelo amor. Depois de vários encontros frustrados, os dois finalmente se acham e rapidamente se apaixonam profundamente um pelo outro. 

Diego tem um encontro casual com Abel nas ruas de Chicago. Existe atração, mas os dois homens são tímidos. Eventualmente, depois de mais duas reuniões inesperadas, eles começam a namorar. Eles têm conexão instantânea e logo estarão encontrando familiares e amigos.

Mas Diego parece estar escondendo algo. Sendo de ascendência mexicana, o vemos enfrentando calúnias racistas e, portanto, ele se tornou um homem de opiniões fortes. O romance está no auge quando descobrimos que a mãe de Diego está morrendo no México. Diego, na verdade veio para os EUA quando tinha 6 anos e ainda, depois de tantos anos é um imigrante ilegal sem documentos.

Abel o convence e se junta a ele para ir para o México, mas a mãe já faleceu. Diego tenta se reconectar com sua irmã e com suas origens, mas logo chegará a hora de voltar para os EUA e terá que ser ilegalmente. Abel se recusa a embarcar diretamente e insiste que se juntará a Diego de qualquer maneira.


O ritmo e o clima do filme são muito contrastantes em duas metades. Enquanto a primeira metade é um drama romântico focado apenas nos homens se conhecendo e se apaixonando, a segunda metade é muito mais sombria.

En Algun Lugar mostra como é estar ilegal em um país estrangeiro, as pressões e situações que os sem documentos enfrentam. Esta é a história real de uma comunidade com pessoas de diferentes origens, diferentes níveis de educação mas com um mesmo objetivo: viver uma vida melhor.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Eu te Amo(From Zero to I Love You, EUA, 2019)


Eu te Amo
nos leva em uma jornada romântica tortuosa, com personagens complexos, valores  impressionantes e uma narrativa calmamente envolvente. Escrito e dirigido por Doug Spearman, o filme acompanha Peter (Darryl Stephens), um homem gay que tende a se apaixonar pelos homens errados.

Ele logo conhece o enrustido Jack (Scott Bailey), casado com Karla(Keili Lefkovitz) e pai de dois filhos e começam um relacionamento. A narrativa coloca diversos obstáculos para esses amantes, com muito em comum, mas vivendo de maneiras que parecem determinadas a separá-los.


Peter enraizado em uma vida de relacionamentos casuais, Jack em suas circunstâncias familiares. Enquanto Jack explora seu relacionamento com Peter em segredo e os sentimentos só ficam mais fortes entre os dois, ainda há uma sensação cativante de conflito narrativo crescendo em segundo plano à medida que a suspeita sobre o relacionamento aumenta.


Há coragem suficiente em ambos os personagens para adicionar mais conflito em Eu te Amo. Pete tem uma qualidade autodestrutiva, colocando obstáculos no caminho de sua própria felicidade e iniciando um novo relacionamento. A primeira despedida de Jack e Pete é ao som de Everytime we say goodbye, de Cole Porter, como em Eduardo II(1991).


A cinematografia discreta de Kevin James Barry e Peter Steusloff captura uma qualidade encantadora nos cenários da Filadélfia, tornando-o o local perfeito para um romance queer urbano contemporâneo. O sexo, apesar de constante, é delicado e não muito revelador.

Eu te Amo é um romance envolvente que investe em situações impecáveis ​​e complexas. O escritor e diretor Doug Spearman mantém a narrativa fundamentada, mas imprevisível em suas impressionantes reviravoltas. 


terça-feira, 17 de agosto de 2021

Peles(Pieles, Espanha, 2017)



Filmes muitas vezes nos lembram que a beleza física e o grotesco são apenas conceitos superficiais, mas a estreia do espanhol Eduardo Casanova, Peles, mostra isso de uma forma criativa e divertida. Combinando a efervescência kitsch do início de Almodóvar com o amor transgressivo de John Waters pelo proibido, esta série de histórias interligadas sobre pessoas com diferenças físicas que buscam seu lugar no mundo tem a virtude de apresentar ao espectador um universo desequilibrado.

Peles foi produzido por Alex de la Iglesia  e utiliza muitos dos seus atores. O filme abre sombriamente bizarro, quando Simon (Antonio Duran) descobre por telefone que sua esposa acabou de dar à luz. Ele chora de vergonha quando uma mulher idosa nua mostra a ele fotos de meninas com quem, é sugerido, Simon quer fazer sexo. Ele acaba escolhendo uma, que conheceremos mais tarde na vida como Laura (Macarena Gomez), obviamente bonita, exceto pelo fato de que ela não tem olhos. Ela agora é uma prostituta, seus clientes são fortalecidos pelo fato de que Laura não pode vê-los.


Ainda menos afortunada em sua aparência é Samantha (Ana Polvorosa). A infeliz nasceu com o sistema digestivo invertido - seu ânus e sua boca foram trocados. Corajosamente, ela decide sair da cabana de madeira onde mora com seu pai e buscar aceitação social, com resultados de esmagar a alma. Em um café, ela é cruelmente ridicularizada.

Outros personagens incluem Ana (Candela Peña), que tem um grande tumor no rosto e está tendo um caso com a vítima de queimadura Guille (Jon Kortajarena) e ignora Ernesto(Segun de la Rosa), que se sente atraído por sua deformidade; Cristian (Eloi Costa), que sonha em não ter pernas para virar sereia; e a pequenina com nanismo Vanesa (Ana Maria Ayala), que despreza seu trabalho fantasiando-se de urso de pelúcia na TV. Enquanto isso, a mãe histérica de Christian, Claudia (Carmen Machi), é emocionalmente desafiada.

São muitos personagens, tramas e ideias para lidar, mas Peles praticamente faz tudo se encaixar ao colocá-lo em um mundo separado, mas coerente do nosso, um que é surreal e altamente estilizado, cheio de interiores em tons pastéis com nuances cor-de-rosa predominantes, que deve ter parecido um presente para a designer de produção Idoia Esteban.


Inteligentemente, o objetivo do filme - que é pedir aos espectadores para reajustar suas percepções do que a beleza significa - se estende à estética visual. Esse efeito kitsch é bruto e eficaz, reforçado pelo uso exagerado de canções pop melodramaticamente piegas dos anos 1960 e 1970, além da maravilhosa cena ao som de Carmen, de Bizet.


Apesar das imagens às vezes perturbadoras na tela, Peles é realmente bonito, embora às vezes não seja tão engraçado quanto parece. O filme levanta todos os tipos de questões sobre se enquadrar e ser aceito ou não.