sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

VISIBILIDADE QUEER NO OSCAR 2025

 

A representatividade queer no Oscar 2025 marca um momento significativo na história da premiação, refletindo avanços e desafios na inclusão da comunidade LGBTQIA+ no cinema. Com indicações históricas, como a de Karla Sofía Gascón, a primeira atriz trans a concorrer a Melhor Atriz por Emilia Pérez, e a presença de figuras como Colman Domingo e Cynthia Erivo, a edição destaca narrativas e talentos queer em categorias de peso. Apesar de ausências notáveis, o Oscar 2025 sinaliza uma evolução na busca por diversidade, ecoando mudanças iniciadas com movimentos como #OscarsSoWhite e as regras de inclusão da Academia implementadas desde 2024. Esse cenário evidencia tanto o progresso quanto o caminho ainda a percorrer para uma representatividade plena.



Um marco histórico com Karla Sofía Gascón

Pela primeira vez na história da premiação, uma mulher trans, Karla Sofía Gascón, foi indicada na categoria de Melhor Atriz por seu papel em Emilia Pérez, dirigido por Jacques Audiard. A indicação de Gascón marcou um momento de celebração para a comunidade LGBTQIA+, reforçando a visibilidade de narrativas trans no cinema mainstream. Sua personagem, uma ex-líder de cartel que passa por uma transição de gênero, foi elogiada por muitos como um retrato complexo e humano, mas também gerou críticas por sua abordagem sensacionalista.


A(s) problemática(s) envolvendo Emilia Pérez

Apesar do sucesso inicial em festivais como Cannes e de suas 13 indicações ao Oscar, Emilia Pérez enfrentou uma onda de polêmicas que abalou sua campanha. A protagonista, Karla Sofía Gascón, viu-se no centro de controvérsias após o ressurgimento de postagens antigas nas redes sociais, consideradas racistas e xenófobas, o que gerou acusações de incoerência com os valores progressistas que o filme supostamente defende. Além disso, o longa foi criticado por sua representação estereotipada do México e pela falta de atores mexicanos em papeis principais, levantando questões sobre apropriação cultural e autenticidade.



Outras Vozes Outro nome que brilha entre os indicados é Colman Domingo, abertamente gay, que concorre a Melhor Ator por Sing Sing. Após sua indicação em 2024 por Rustin, Domingo se consolida como uma força no cinema, trazendo uma performance poderosa que reflete sua própria identidade e experiência. Já Cynthia Erivo, atriz bissexual, disputa o prêmio de Melhor Atriz por Wicked, reforçando a presença de artistas queer que interpretam personagens marcantes e acessíveis a um público global. A inclusão de Elton John, concorrendo a Melhor Canção por Never Too Late (do documentário Elton John: Never Too Late), também adiciona um ícone da comunidade aos indicados. Além disso, o longa Conclave, também contem elementos que o colocariam no espectro da sigla LGBTQIA+.


Memórias de um Caracol
A narrativa delicada e introspectiva de Adam Elliot, em Memórias de um Caracol, permeada por uma estética peculiar, tece uma teia de temas queer, como a não conformidade de gênero, a busca por identidade e a construção de comunidades de apoio fora das normas heterocentradas. A indicação ao Oscar de Melhor Animação, além de reconhecer a excelência técnica e artística da obra, ressalta a importância de narrativas que desafiam as expectativas e celebram a diversidade das experiências humanas, abrindo espaço para diálogos profundos sobre identidade e aceitação.


Wicked
A adaptação cinematográfica de "Wicked" carrega consigo a expectativa de ampliar a representatividade queer no cinema mainstream. O musical da Broadway já é celebrado por suas personagens complexas e pela subversão de estereótipos, elementos que podem ser intensificados na versão para as telas. A relação entre Elphaba e Glinda, por exemplo, frequentemente interpretada como uma amizade profunda com nuances românticas, tem potencial para ressoar com o público LGBTQIA+. Além disso o elenco, além das protagonistas Cynthia Erivo e Ariana Grandes, dois ícones queer, conta com Bowen Yang e Jonathan Bailey.

Ausências
Filmes como Queer e Rivais, ambos de Luca Guadagnino, que tinham grande expectativa por sua abordagem explícita da sexualidade e identidade queer, não receberam nenhuma indicação, gerando frustração. Da mesma forma, o documentário Will & Harper, que acompanha a jornada de amizade entre Will Ferrell e Harper Steele após a transição de gênero desta última, foi apontado como um dos grandes esquecidos da temporada, apesar de seu impacto emocional e relevância cultural. 

Concluindo

Às vésperas da cerimônia, a representatividade queer no Oscar 2025 é um reflexo de conquistas históricas, como as indicações de Gascón, Domingo e Erivo, e de um caminho ainda em construção. O cinema, como espelho da sociedade, continua a desafiar preconceitos e celebrar identidades, mas o silêncio sobre certas obras lembra que a inclusão total permanece um horizonte a ser alcançado. No domingo, o mundo assistirá não apenas à entrega das estatuetas, os brasileiros torcerão por Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui, e mais um capítulo dessa evolução poderá ser escrito.



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Orfeu do Carnaval (Orphée Noir, França/Itália/Brasil, 1959)

Orfeu Negro ou Orfeu do Carnaval, dirigido por Marcel Camus nos transporta para um Rio de Janeiro pulsante, onde o Carnaval não é apenas uma festa, mas o coração de uma tragédia moderna. O filme, que adapta o mito grego de Orfeu e Eurídice para os morros cariocas, me envolveu com sua mistura única de exuberância e fatalidade. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ele é um marco do cinema, mas também um retrato que, olhando hoje, revela tanto seus encantos quanto suas limitações. Para mim, é uma obra que brilha pela música, pela energia e pelas atuações, mas que às vezes tropeça ao tentar capturar a alma do Brasil com um olhar estrangeiro.

A história segue Orfeu (Breno Mello), um condutor de bonde e sambista carismático que encanta a todos com seu violão, e Eurídice (Marpessa Dawn), uma jovem que chega ao Rio fugindo de um passado misterioso. Eles se apaixonam durante o Carnaval, mas o destino — aqui personificado por uma figura sombria chamada Morte (Adhemar da Silva) — os persegue implacavelmente. O enredo é simples, quase mitológico, mas o que me pegou foi como Camus usa o Carnaval como um palco vibrante para essa dança entre amor e tragédia. As cenas dos ensaios de escola de samba, dos blocos e da favela me fizeram sentir a alegria caótica da festa, enquanto a inevitável morte de Eurídice e o desespero de Orfeu me acertaram como um soco no estômago.


Visualmente, Orfeu Negro é um espetáculo. A fotografia de Jean Bourgoin captura o Rio em technicolor glorioso — os morros verdes, as fantasias coloridas, o sol queimando as ruas. Eu fiquei hipnotizado pela forma como a câmera acompanha os movimentos frenéticos do Carnaval, quase como se dançasse junto com os personagens. A trilha sonora, com composições de Luiz Bonfá e Tom Jobim, é simplesmente mágica — “A Felicidade” e “Manhã de Carnaval” grudaram na minha cabeça por dias, carregando toda a melancolia e o calor da história. É impossível não sentir o poder da bossa nova nascendo ali, uma revolução musical que o filme ajudou a levar pro mundo.


As atuações também marcaram. Breno Mello, que não era ator profissional, traz uma naturalidade magnética como Orfeu — ele é o cara que todo mundo quer por perto, com um sorriso que ilumina e uma tristeza que corta fundo quando tudo desmorona. Marpessa Dawn, americana com ascendência afro-caribenha, dá a Eurídice uma fragilidade doce, mas com um brilho nos olhos que me fez torcer por ela, mesmo sabendo o fim. Lourdes de Oliveira, como Mira, a ex-namorada ciumenta de Orfeu, rouba cenas com uma paixão explosiva que dá um tempero a mais à trama. O elenco, majoritariamente negro e brasileiro, é um ponto forte, mostrando rostos e corpos reais da favela, algo raro pra um filme da época.



Um detalhe que me chamou atenção em Orfeu Negro foi o leve, mas intrigante, subtexto queer que surge em alguns momentos, mesmo que não seja o foco da trama. O Carnaval, com sua explosão de liberdade e subversão, abre espaço pra leituras além do romance central entre Orfeu e Eurídice. Por exemplo, as figuras dos dançarinos e foliões, com suas fantasias extravagantes e gestos exagerados, flertam com uma ambiguidade de gênero que ecoa a cultura queer — algo que o filme não explora diretamente, mas que eu senti nas entrelinhas. A própria relação de Orfeu com a música e sua aura quase mítica tem um tom de sensualidade fluida, que transcende o heterosexual normativo, especialmente na forma como ele encanta a todos ao seu redor. Claro, sendo um filme de 1959, isso fica mais na sugestão do que na afirmação, mas pra mim, esse aspecto sutil reforça como o Carnaval é um terreno fértil pra identidades que desafiam regras, dando um charme extra à visão de Camus sobre o Brasil.


Mas nem tudo me convenceu. Como francês, Camus às vezes parece mais encantado com uma ideia romantizada do Brasil do que com sua realidade. O filme pinta a favela como um lugar exótico, quase mítico, cheio de música e dança, mas ignora as durezas da vida ali — a pobreza e a violência mal aparecem. Isso me deixou com a sensação de que ele viu o Carnaval e o povo brasileiro com lentes de turista, querendo capturar a "alma selvagem" sem entender os tons mais profundos.


Ainda assim, Orfeu Negro me conquistou. Talvez seja pela forma como ele transforma o mito em algo tão brasileiro — o Orfeu de Camus não desce ao Hades, mas carrega o corpo de Eurídice morro acima, numa cena que me arrepia só de lembrar. Ou talvez seja o Carnaval em si, que pulsa como um personagem vivo, misturando festa e fatalidade num só batuque. Pra mim, o filme é encantador — uma carta de amor ao Brasil que, mesmo com seus deslizes, acerta em cheio ao mostrar como o amor e a morte dançam juntos na cadência do samba.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Memórias de um Caracol (Memoir of a Snail, Austrália, 2024)

Quando vi Memoir of a Snail, dirigido por Adam Elliot, não estava preparado para o turbilhão de emoções que me envolveria. Este filme, uma tragicomédia animada em stop-motion, me levou pela mão através da vida de Grace Pudel, uma mulher melancólica e solitária dublada com uma profundidade dilacerante por Sarah Snook. Desde o primeiro fotograma, ambientado na Austrália dos anos 70, soube que estava diante de algo especial: uma história que não teme mergulhar nas sombras da dor humana, mas que também encontra luz nos cantos mais inesperados. Elliot, conhecido por seu curta vencedor do Oscar Harvie Krumpet e pelo inesquecível Mary and Max, retorna com uma obra que reafirma seu gênio para contar histórias de outsiders com uma mistura única de humor ácido e ternura.


A trama segue Grace, uma menina que cresce ao lado de seu irmão gêmeo Gilbert (Kodi Smit-McPhee) sob os cuidados de seu pai Percy (Dominique Pinon), um ex-malabarista francês, paraplégico e alcoólatra. A morte de sua mãe ao dar à luz marca o início de uma série de infortúnios que perseguem Grace como uma sombra implacável. Quando Percy morre, os gêmeos são separados e enviados a lares adotivos opostos: Grace para um casal em Canberra que a negligencia, e Gilbert para uma família religiosa cruel em Perth. Fiquei impressionado com a forma como Elliot tece essa narrativa com um ritmo lento, porém hipnótico, permitindo que cada tragédia — a solidão de Grace, o bullying por seu palato fendido, a perda de seu irmão — se sentisse como um golpe pessoal. No entanto, nem tudo é escuridão; a aparição de Pinky (Jacki Weaver), uma idosa excêntrica e bondosa, me deu um alívio, uma faísca de esperança que ilumina o caminho de Grace rumo à redenção.


Visualmente, o filme é um deleite. O estilo de Elliot em stop-motion, com suas figuras de argila de formas tortuosas e cores apagadas, me lembrou uma pintura de Edward Gorey: feio e belo ao mesmo tempo. Cada cena está impregnada de detalhes que contam sua própria história, desde os caracóis decorativos que Grace acumula como escudo contra o mundo até as chamas de celofane que dão vida às memórias mais dolorosas. A animação não busca ser polida nem perfeita; pelo contrário, sua imperfeição me fez sentir mais perto dos personagens, como se eu pudesse tocar suas feridas. A trilha sonora, com seu tom clássico e melancólico, acompanhou cada momento como um sussurro que amplifica as emoções sem sobrecarregá-las.


O que mais me cativou foi como Elliot equilibra o trágico e o cômico. Há momentos que me fizeram rir alto — como as excentricidades de Pinky ou as peculiaridades dos personagens secundários —, mas logo em seguida vinha um golpe de realidade que me deixava em silêncio. Grace, com sua obsessão por caracóis e sua tendência a se fechar em si mesma, é um reflexo do que significa sobreviver quando a vida parece determinada a te derrubar. Sua relação com Gilbert, rompida pela distância e pelo destino, partiu meu coração. E então há Pinky, cuja amizade com Grace me ensinou que, mesmo na desolação, um vínculo genuíno pode ser a chave para sair do casulo.


Um aspecto que me emocionou profundamente em Memoir of a Snail foi sua representatividade queer sutil, mas poderosa, encarnada na figura de Gilbert Pudel. Embora o filme não o coloque como foco principal, a história de Gilbert — um jovem gay separado de sua irmã Grace e enviado a uma família religiosa opressiva — ecoou em mim como um reflexo das lutas reais de tantas pessoas queer que enfrentam rejeição e isolamento. Seu amor pela arte e seu destino trágico, revelado quando Grace descobre sua morte após anos de silêncio, me fizeram sentir o peso de uma vida interrompida pela intolerância. Adam Elliot não força essa narrativa com discursos óbvios; ao contrário, ele a entrelaça com delicadeza na trama, permitindo que a identidade de Gilbert seja um reflexo natural de sua humanidade.


E agora, permitam-me concluir com o coração na mão: essa animação merece o Oscar. Não só pela sua maestria técnica, que transforma pedaços de massinha em almas viventes, nem pelo seu roteiro, que encontra poesia na tristeza mais crua. Merece ganhar porque é um grito silencioso em favor dos marginalizados, daqueles que carregam cicatrizes visíveis e invisíveis, dos que encontram refúgio nas coisas pequenas — como caracóis — quando o mundo lhes vira as costas. Cada lágrima que derramei por Grace, cada sorriso que Pinky me arrancou, me lembraram por que o cinema existe: para nos fazer sentir vivos. Se a Academia reconhecer o poder dessa história, não estará apenas premiando Adam Elliot, mas dizendo ao mundo que as vozes quebradas também merecem ser ouvidas. Por favor, que este caracol cruze a linha de chegada e leve a estatueta dourada; ele merece com toda a alma.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

I Don't Want to Be Just a Memory (Alemanha, 2024)

O documentário "I Don't Want to Be Just a Memory", de Sarnt Utamachote, é uma obra profundamente pessoal e politicamente engajada que emerge nas camadas emocionais e sociais da comunidade queer de Berlim. O filme oferece um retrato comovente e multifacetado sobre luto, memória e resiliência em meio às crises de saúde mental e abuso de substâncias que afetam a comunidade LGBTQIA+. Utamachote, cineasta não-binário de origem sudeste-asiática radicado em Berlim, utiliza o cinema como ferramenta de cura coletiva, transformando a dor da perda em um exercício de resistência e conexão.

O filme centra-se em membros da comunidade queer de Berlim que compartilham memórias, rituais e reflexões sobre amigos perdidos para o abuso de substâncias e a crise de saúde mental. A metáfora central do documentário — a comparação com fungos bioluminescentes que brilham na escuridão — é tanto visual quanto conceitual, sugerindo que, mesmo na morte, as relações e os legados podem iluminar e sustentar os vivos. 


O documentário aborda de forma sensível e poderosa a representatividade queer em diálogo com o luto, explorando as camadas emocionais e sociais que atravessam as vivências de pessoas LGBTQIA+. A obra mergulha nas memórias e nas perdas de uma comunidade frequentemente marginalizada, destacando como o luto não é apenas uma experiência individual, mas também coletiva, marcada por lutas contra a invisibilidade e o apagamento. 


Estilisticamente, o filme parece equilibrar uma estética crua e documental com momentos de poesia visual. A escolha de filmar em locações reais de Berlim reforça a autenticidade da narrativa, ancorando-a no contexto urbano que molda as experiências dos personagens. 


O diretor estabeleceu uma equipe de conscientização para garantir consentimento contínuo durante e após a produção, refletindo um compromisso com a segurança emocional dos participantes. Essa abordagem ética não é apenas um bastidor técnico, mas uma extensão da própria narrativa, que busca dar voz a indivíduos frequentemente traumatizados sem explorá-los.


Uma das maiores forças de "I Don't Want to Be Just a Memory" é sua capacidade de transformar o luto em um ato coletivo de resistência. Ao focar em rituais de memória e na crítica à cena clubber de Berlim (descrita como emocionalmente fria e incapaz de lidar com a dor), o filme desafia a superficialidade muitas vezes associada à nightlife e propõe uma reflexão mais profunda sobre cuidado e pertencimento.


A metáfora dos fungos bioluminescentes é um dos elementos mais intrigantes. Ela sugere uma rede interconectada de suporte que transcende a morte, remetendo a ideias de ecologia emocional e memória como sustento para o futuro. Esse simbolismo eleva o filme de um simples registro de perdas a uma reflexão filosófica sobre como as comunidades podem se regenerar em tempos de crise.


"I Don't Want to Be Just a Memory" é oportuno e necessário. Ele dialoga com outras obras contemporâneas que exploram o luto queer,  como os registros históricos da crise da AIDS, nos anos 1980 e 1990 , mas atualiza essa narrativa ao abordar os desafios do século XXI, como a solidão nas metrópoles e os impactos do hedonismo.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Alvo Primário (Prime Target, Reino Unido, 2025)

"Prime Target", a minissérie de suspense de Steve Thompson, para Apple TV+, chega com a promessa de um enredo tecnológico tenso e cerebral, mas também carrega o peso de expectativas modernas quanto à representatividade. Em um gênero dominado por narrativas heteronormativas, a série tenta inserir personagens e temas queer em seu núcleo, uma escolha que reflete o momento cultural da indústria. No entanto, enquanto acende uma faísca promissora de inclusão, a atração hesita em deixá-la incendiar-se completamente.

Estrelada por Leo Woodall como Edward Brooks, um matemático genial, e com Fra Fee, em um papel coadjuvante marcante como Adam, um bartender com segredos, a série mergulha em uma conspiração global envolvendo matemática, espionagem e traição. Produzida com o selo de qualidade de Ridley Scott e uma estética impecável, "Prime Target" tem momentos de brilho, mas também escorrega em sua ambição, deixando o espectador dividido entre fascínio e frustração.


A trama segue Edward Brooks, um pós-graduando em matemática da Universidade de Cambridge, obcecado por encontrar um padrão nos números primos que poderia desbloquear todos os sistemas digitais do mundo. Quando sua pesquisa atrai a atenção de forças obscuras, ele se vê caçado por aqueles que querem destruir ou apropriar-se de sua descoberta. Ao seu lado está Taylah Sanders (Quintessa Swindell), uma agente da NSA que transita entre aliada e observadora.


A série se inspira em referências como "Uma Mente Brilhante" e "Identidade Bourne", combinando o cerebral com o visceral. A direção de Brady Hood e a produção executiva de Ridley Scott garantem um visual elegante, com cenas em Cambridge e locações internacionais que transpiram sofisticação. 


Leo Woodall, após conquistar corações em "The White Lotus", assume um papel desafiador como Edward, um protagonista neurodivergente (sugerido, mas nunca explicitado) que vive para sua pesquisa. Woodall traz uma intensidade contida ao personagem, com maneirismos sutis — como escrever equações freneticamente em cadernos. que transmitem sua obsessão. A escolha de torná-lo queer, com uma relação casual com Adam, é um toque refrescante. 


A representatividade queer, ainda que limitada, é um bônus. Edward e Adam formam um contraponto bem-vindo à heteronormatividade típica do gênero, e a decisão de não fazer da sexualidade de Edward um plot central é acertada, alinhando-se a uma narrativa moderna e descomplicada.



Do You Want to Die in Indio? (EUA, 2024)

"Do You Want to Die in Indio?", de David Moreton, é um drama que mergulha nas agruras da juventude em um contexto de desencanto e violência, ambientado no calor escaldante do deserto da Califórnia. Com um título provocador que sugere tanto um questionamento existencial quanto uma ameaça iminente, o filme acompanha Salvador, ou "Salvi" ( Joshua De Jesus), um jovem de 17 anos preso entre os sonhos de escapar de sua cidade natal, Indio, e as forças caóticas que o arrastam para um fim de semana de excessos, armas e ambiguidade sexual. Moreton, conhecido por explorar a vulnerabilidade da juventude em obras como "Edge of Seventeen" (1998), parece aqui intensificar sua abordagem, mas não sem tropeçar em algumas armadilhas narrativas que diluem o impacto potencial da história.

A trama segue Salvi, um artista de rua que pinta murais pop-art nas paredes de um viaduto, enquanto pedala pelas ruas empoeiradas de Indio, sonhando com um futuro além daquele lugar que ele percebe como um beco sem saída. Quando um romance promissor desmorona e uma bolsa para a USC lhe é arrancada, Salvi se vê lançado às ruas cruas de Palm Springs, onde se envolve com um traficante empreendedor (Robert Kazinsky) e uma série de personagens que o arrastam para um turbilhão de festas, violência armada e questionamentos sobre sua identidade. 


Os temas centrais, alienação juvenil, a busca por identidade em meio ao caos e o peso das escolhas em um ambiente hostil,  são familiares, mas ganham um tom particular pela ambientação desértica, que funciona como uma metáfora visual para o vazio existencial de Salvi. O calor opressivo e os céus azuis infinitos contrastam com a sensação de aprisionamento, criando um pano de fundo que amplifica o desespero do protagonista. Contudo, a promessa de uma narrativa incendiária parece se perder em uma execução que não consegue sustentar a profundidade emocional ou a originalidade que o título sugere.


David Moreton demonstra um olhar atento para os detalhes visuais: a estética do deserto, com sua luz crua e paisagens áridas, é um acerto que reforça a solidão de Salvi. A escolha de inserir os murais pop-art como expressão do protagonista é intrigante, sugerindo uma tentativa de encontrar cor e significado em um mundo monocromático de desilusão. 


Joshua De Jesus, como Salvi, carrega o peso de ser o coração do filme. Sua interpretação, presumivelmente marcada por uma mistura de melancolia e rebeldia, é essencial para que o público se conecte à jornada do personagem. Há potencial para uma performance crua e memorável, especialmente nas cenas em que Salvi confronta a violência e reflete sobre seu futuro. 


A narrativa, ao tentar abraçar múltiplas camadas, romance fracassado, perda de uma bolsa, tráfico de drogas, violência armada, corre o risco de se tornar episódica demais, sem tempo suficiente para desenvolver cada subplot. Comparado a filmes como "Kids" (1995) ou "Spring Breakers" (2012), ele compartilha o interesse por jovens à deriva em ambientes de excesso, mas parece menos interessado em chocar e mais em oferecer uma redenção.


domingo, 23 de fevereiro de 2025

Invisible Boys (Austrália, 2025)

 

Invisible Boys, a mais recente empreitada de Nicholas Verso, é uma série australiana de 10 episódios que adapta o premiado romance de Holden Sheppard para a tela, oferecendo um olhar emotivo sobre a experiência de adolescentes queer em uma cidade remota da Austrália.

Ambientada em Geraldton contra o pano de fundo do plebiscito de 2017 sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a série explora temas de identidade, visibilidade e resiliência em um contexto de isolamento geográfico e social. Com uma mistura de crueza e ternura, Verso cria uma obra que é um retrato específico da juventude LGBTQIA+ australiana quanto uma narrativa universal sobre pertencimento.


A série segue um grupo de adolescentes gays, Charlie (Joseph Zada), Zeke (Aydan Calafiore), Hammer (Zach Blampied) e Matt (Joe Klocek), cujas vidas se entrelaçam após um evento catalisador: Charlie é exposto nas redes sociais por um encontro com um homem casado. Esse incidente desencadeia uma série de consequências que reverberam pela comunidade de Geraldton, forçando cada jovem a confrontar sua sexualidade, suas relações familiares e seu lugar no mundo. A narrativa expande o escopo do livro de Sheppard, utilizando os 10 episódios para dar mais espaço às perspectivas individuais dos personagens e à dinâmica de grupo que se forma entre eles.


O ritmo da série alterna entre momentos de tensão dramática e pausas contemplativas que permitem ao espectador absorver as emoções em jogo. A decisão de Verso de “borrar” os pontos de vista, como ele próprio descreveu em entrevistas, é um acerto: à medida que os garotos se conectam, a narrativa reflete essa união, criando uma sensação de coragem que dá profundidade à história..



Nicholas Verso, já conhecido por Boys in the Trees (2016) , traz para Invisible Boys uma direção que equilibra realismo e simbolismo. Filmada em locações reais em Geraldton durante uma onda de calor de 49 graus, a série usa a paisagem árida e o isolamento da cidade como personagens por si sós. 


O elenco é um dos grandes trunfos de Invisible Boys. Joseph Zada, como Charlie, entrega uma performance magnética, combinando a raiva adolescente com uma fragilidade que corta o coração. Sua jornada de exposição pública e autodescoberta é o fio condutor da série, e Zada a carrega com uma intensidade que evita melodramas. Aydan Calafiore, interpretando Zeke, surpreende ao trazer camadas a um personagem que lida com dismorfia corporal e uma família italiana conservadora; sua vulnerabilidade nas cenas de webcam é particularmente comovente.


Invisible Boys é, em sua essência, um grito por visibilidade. Situada no contexto do plebiscito de 2017 – um momento divisivo na história australiana , a série não foge das realidades duras enfrentadas por jovens queer em comunidades regionais: homofobia, isolamento e a pressão para se conformar. A exposição de Charlie nas redes sociais é um ponto de partida contemporâneo que ressoa na era digital, enquanto as histórias de Zeke, Hammer e Matt abordam facetas menos vistas da sexualidade gay, como a interseção com deficiência, masculinidade tóxica e o peso da tradição rural.


Entre as melhores coisas estão as atuações excepcionais, a direção atmosférica e a coragem de retratar histórias queer sem suavizar suas arestas. A autenticidade da locação e a representação diversa dentro da narrativa LGBTQIA+ são dignas. Por outro lado, a série às vezes sofre com um escopo excessivamente amplo, o que pode fazer com que certos arcos secundários pareçam apressados ou subdesenvolvidos. O final, embora emotivo, deixa algumas questões em aberto, o que pode frustrar quem busca conclusões mais firmes.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Limonov (Limonov: The Ballad of Eddie, Itália/França/Espanha, 2024)

Kirill Serebrennikov, do monumental “A Esposa de Tchaikovsky (2022)” volta às cinebiografias pouco usuais com "Limonov: The Ballad of Eddie",  baseado no romance de Emmanuel Carrère que explora a vida tumultuada de Eduard Limonov. O enredo acompanha a trajetória de Limonov desde sua juventude na União Soviética, passando por seus dias como poeta punk e até sua ascensão como uma figura política e literária controversa. Interpretado por Ben Whishaw, Limonov é retratado como um militante revolucionário, dandy, vagabundo, e até mesmo um mordomo em Manhattan antes de se tornar um ídolo underground e um líder do Partido Nacional Bolchevique na Rússia pós-soviética.

O filme explora as várias fases da vida de Limonov, incluindo suas experiências sexuais e relações. O protagonista é mostrado como um indivíduo que não se encaixa em uma única orientação sexual; ele tem relações com homens e mulheres, o que reflete sua natureza provocativa e iconoclasta. A narrativa do filme sugere uma fluidez sexual, onde Limonov desafia as normas convencionais, vivendo sua vida de maneira que desafia e questiona as expectativas sociais e políticas de sua época. Isso é consistentemente entrelaçado com sua identidade como poeta, ativista e figura controversa, destacando sua rejeição a qualquer forma de conformidade.


Serebrennikov, conhecido por sua abordagem visualmente ousada, emprega aqui um estilo que mistura realismo com elementos quase teatrais. A cinematografia, de Roman Vasyanov, é vibrante e dinâmica, capturando a energia e a confusão da vida de Limonov através de longos planos-sequência e um uso inovador de cenários que evocam diferentes épocas e locais. A trilha sonora, com destaque para músicas de Lou Reed, adiciona uma camada punk-rock ao filme, refletindo tanto a personalidade quanto o espírito de rebelião de Limonov.


Ben Whishaw entrega uma performance poderosa e camaleônica, capturando as muitas facetas de Limonov de sua raiva e vulnerabilidade a seu carisma e egoísmo. A direção de Serebrennikov, embora visualmente impressionante, às vezes romantiza a figura complexa e controversa de Limonov, especialmente em relação a seu flerte com o fascismo.


Serebrennikov traz à tona a discussão sobre a identidade russa, a dissidência e a busca constante por significado em um mundo em transformação. No entanto, a abordagem à figura de Limonov, particularmente no que diz respeito às suas ideologias políticas mais controversas, não são aprofundadas.


A direção de Kirill Serebrennikov é audaciosa e visualmente rica, embora a narrativa e a representação do protagonista levantem questões sobre a intenção e a interpretação do filme. É um capítulo fascinante no cinema biográfico, mas que, como o próprio Limonov, deixa uma mistura de admiração e desconforto sobre como se lida com figuras históricas.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Straight (México, 2023)

"Straight", dirigido por Marcelo Tobar, segue a vida de Roberto (Alejandro Speitzer), um banqueiro que, após seis anos em um relacionamento estável com Elia, uma bióloga, se vê confrontado com suas próprias dúvidas e desejos ao iniciar um relacionamento sexual com um homem através de um aplicativo de encontros.

A trama é simples, mas eficaz. Tobar consegue capturar a complexidade da bissexualidade e da fluidez sexual de uma maneira sensível e direta. A decisão de Roberto de explorar sua atração por homens, mesmo estando em um relacionamento heterossexual, levanta questões importantes sobre felicidade, identidade e a pressão social sobre a conformidade sexual.

O roteiro de "Straight" apresenta uma trama que, à primeira vista, pode lembrar as clássicas novelas mexicanas, com seus dramas intensos, reviravoltas passionais e personagens caricatos. No entanto, o que diferencia esta obra é a maneira explícita e desinibida com que aborda o sexo, transformando as intrigas amorosas em algo mais visceral e provocante.


Alejandro Speitzer, no papel de Roberto, oferece uma performance intensa, retratando a confusão interna e a jornada de autodescoberta de seu personagem com uma autenticidade comovente. Bárbara López, como Elia, é igualmente impressionante, trazendo uma camada de realismo e dor ao retratar a traição e o questionamento de um relacionamento de longa data. Franco Masini, interpretando Cris, o interesse amoroso de Roberto, adiciona um frescor e uma vulnerabilidade que contrasta bem com a estabilidade que Roberto busca em sua vida.


Marcelo Tobar demonstra controle sobre o ritmo do filme, optando por longos planos sequência que intensificam a intimidade e a tensão das cenas. A fotografia é íntima, refletindo o estado emocional dos personagens, com uma paleta de cores que muitas vezes se inclina para tons mais escuros, simbolizando a jornada interna e as sombras da dúvida que cercam Roberto. 


"Straight" é um retrato sincero sobre a bissexualidade. Marcelo Tobar, com sua direção precisa, e o elenco, com suas performances profundas, criam um filme que é uma exploração pessoal e uma  discussão sobre as normas sociais que cercam a sexualidade, principalmente no contexto da sociedade mexicana.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

The Traitor (Landesverräter, Alemanha/Suiça, 2024)

 "Landesverräter" é uma cinebiografia histórica dirigida por Michael Krummenacher. A produção, que estreou no Festival de Cinema de Zurique, aborda a vida trágica de Ernst Schrämli, um vagabundo suíço durante a Segunda Guerra Mundial, que sonhava em se tornar um cantor na Alemanha.

O filme se passa na Suíça de 1942, onde Ernst Schrämli (Dimitri Krebs) é um jovem sem grandes perspectivas, vivendo à margem da sociedade. Na esperança de realizar seu sonho de cantar na Alemanha, ele vende informações militares suíças para um espião nazista, August Schmid, personificado por Fabian Hinrichs. Quando sua traição é descoberta, Ernst é julgado e condenado à morte por traição, tornando-se o primeiro suíço executado durante a guerra.

A homossexualidade no filme é retratada não apenas como uma questão de orientação pessoal, mas também como um ato de resistência contra as normas sociais e políticas repressivas da época. Através de cenas carregadas de tensão e emoção, o diretor consegue capturar a dualidade do amor proibido em tempos de guerra, onde o medo da perseguição e a busca por autenticidade pessoal se entrelaçam.


Michael Krummenacher demonstra habilidade na direção, especialmente em sequências que envolvem o uso de música e canto para pontuar momentos chave da obra, criando uma atmosfera que reflete a esperança e o desespero do protagonista. 


A fotografia, de Michael Saxe, e a direção de arte são notáveis, trazendo à vida a Suíça dos anos 40 com autenticidade. A música, composta por Björn Magnusson, é um ponto forte, embora o uso de canto como recurso narrativo possa ser polarizador.


“Landesverräter" não é apenas uma biografia dramática; é uma crítica ao papel da Suíça durante a Segunda Guerra Mundial, explorando temas de neutralidade, colaboração e justiça. O filme se baseia em eventos reais e em documentários anteriores para questionar a moralidade e as decisões políticas da época. 



The Last Showgirl (EUA, 2024)

"The Last Showgirl" de Gia Coppola, com roteiro de Kate Gersten, baseado na peça nunca produzida "Body of Work" apresenta Pamela Anderson no papel principal como Shelley, uma veterana dançarina de Las Vegas que, após três décadas no palco, enfrenta o inesperado encerramento de seu show e a necessidade de planejar um futuro incerto. 

O filme se debruça sobre a vida de Shelley, explorando temas como envelhecimento, reinvenção pessoal, e as complexidades das relações familiares. A história é tecida com um olhar melancólico e introspectivo, focando na luta de Shelley para encontrar seu lugar fora do brilho dos palcos. A direção de Coppola é íntima e sensível, captando a essência de uma mulher cuja identidade está profundamente ligada à sua profissão.


Pamela Anderson entrega uma performance que tem sido amplamente elogiada, a mais exigente e complexa de sua carreira. Ela traz uma fragilidade e uma intensidade emocional que ressoam profundamente com o público, especialmente nas cenas em que enfrenta o fim de sua carreira e a tentativa de reparar o relacionamento com sua filha, vivida por Kiernan Shipka.


Jamie Lee Curtis também tem um desempenho marcante como Annette, a melhor amiga de Shelley e ex-dançarina, trazendo uma mistura de humor e seriedade que complementa o tom do filme. Dave Bautista, como o diretor de palco Eddie, adiciona uma dimensão de realismo e tensão que contrasta com a fantasia do mundo do showbiz. 



Visualmente, o filme é um tributo ao glamour e à decadência de Las Vegas, com a fotografia em 16mm proporcionando uma textura rica e uma paleta de cores que evocam nostalgia, até mesmo à "Showgirls(1996)", de Paul Verhoeven. A escolha de usar figurinos reais do show "Jubilee!" adiciona verossimilhança. E a trilha sonora de Andrew Wyatt, com a música de Miley Cyrus e Lyke Li, e mais alguns hits, complementam bem a atmosfera, e garantem momentos de emoção narrativa.


"The Last Showgirl" pode ser visto como um filme sobre a humanidade por trás do glamour, uma história de resiliência e a busca por significado numa vida que se baseou em um único propósito. Ele desafia o espectador a refletir sobre o que define uma pessoa quando suas capacidades físicas ou profissionais declinam. 


Um aspecto queer marcante é a exploração da identidade e do desempenho de gênero dentro do contexto do mundo do showbiz de Las Vegas. A personagem de Brenda Song, por exemplo, é uma dançarina que navega através das expectativas de gênero com uma fluidez que reflete a diversidade das identidades queer. Suas interações com Shelley proporcionam momentos de reconhecimento mútuo e sororidade, destacando como o palco pode ser um espaço de liberdade e expressão onde as fronteiras de gênero são constantemente desafiadas e redefinidas.


Melancólico, o filme é um estudo de personagem que, ao mesmo tempo que homenageia a classe trabalhadora de Las Vegas, também serve como um lembrete da fragilidade e força da natureza humana. 



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Layla (Reino Unido, 2024)

 

"Layla" é o primeiro longa-metragem de Amrou Al-Kadhi, conhecido anteriormente por seu trabalho como drag queen Glamrou e por suas publicações literárias. O filme aborda temas como identidade queer, cultura árabe e a dinâmica complexa da família, oferecendo uma visão íntima e muitas vezes dolorosa da vida de Layla, um jovem árabe-americano que também se identifica como drag queen.

O enredo gira em torno de Layla, interpretado por Bilal Hasna, que está no limiar de se formar na universidade e enfrentando a expectativa de seus pais para que siga uma carreira tradicional. Paralelamente, Layla se envolve com Max(Louis Greatorex), cuja família é igualmente conservadora, mas de uma perspectiva britânica. A relação entre Layla e Max é o ponto central do filme, explorando não apenas o romance, mas também as tensões culturais, a exploração da sexualidade e a busca por aceitação tanto pessoal quanto familiar.


O romance entre Layla e Max é retratado com sensibilidade, explorando as nuances de identidade, amor e aceitação. Layla, uma drag queen árabe não-binária, e Max, um jovem britânico, encontram-se em uma jornada de autodescoberta e conexão emocional. O relacionamento deles desafia convenções sociais e familiares, enquanto ambos lidam com os desafios de serem verdadeiros consigo mesmos em um mundo que frequentemente não compreende ou aceita suas identidades


"Layla" brilha na representação autêntica da experiência queer árabe, algo pouco explorado no cinema convencional. Al-Kadhi traz uma perspectiva pessoal, com uma vivência LGBTQIA+, que enriquece o filme, dando voz a uma comunidade frequentemente marginalizada.


A direção de arte e a fotografia são usadas eficazmente para contrastar os mundos internos e externos de Layla, com cenas de drag encapsulando a liberdade e a expressão, enquanto momentos familiares são mais sombrios e restritivos.


A cena drag é retratada de maneira vibrante e autêntica, refletindo a complexidade e a beleza da identidade queer. Esse movimento não é apenas um momento de espetáculo, mas um ponto crucial na jornada de autodescoberta e aceitação de Layla, destacando a importância da comunidade e do apoio mútuo entre os performers. 


Apesar de alguns tropeços em termos de ritmo e desenvolvimento de personagens, Layla oferece uma narrativa comovente e necessária sobre identidade, amor e aceitação. Amrou Al-Kadhi mostra-se um diretor promissor, trazendo uma história com verdade e esperança para quem busca representação e compreensão em um mundo frequentemente binário.