domingo, 20 de outubro de 2024

Memórias de um Caracol (Memoir of a Snail, Austrália, 2024)


Por Marco Gal A animação "Memórias de um caracol", novo filme do diretor de "Mary e Max", diverte e emociona com uma  história sobre enxergar a vida com o copo meio cheio.

O filme é sobre Grace e Gilbert (dublados por Sarah Snook e Kodi Smit Mc-Fee), dois irmãos gêmeos que são separados após a morte de seu pai paraplégico. Enquanto Gilbert é explorado por sua nova família de fanáticos religiosos que mantém uma fazenda de maçãs, Grace vive sozinha na casa de seus novos pais ausentes, tomada por cacarecos de caracóis, sua maior obsessão. Apesar de tentarem seguir com a nova rotina, os dois irmãos ainda planejam se encontrar, mas a vida tem muitas surpresas.


"Memórias de um caracol" tem bastante semelhanças com "Mary e Max", filme anterior do diretor Adam Elliot. Primeiro, o visual. Embora tenham paletas de cores diferentes (esse tem tons mais terrosos e o anterior é preto e branco), os personagens têm o mesmo design e poderiam viver todos no mesmo universo. Segundo, a estrutura narrativa. Ambos os filmes têm a maior parte da sua história narrada e isso permite que a trama possa ir e voltar no tempo sem confundir o espectador. Por último, e mais importante, as duas animações dividem o mesmo tema, o underdog que encontra alegria mesmo na adversidade.


Elliot se interessa muito por sujeitos marginalizados pela sociedade e Grace, a protagonista de "Memórias de um caracol", enfrenta várias dificuldades em sua vida. Sua mãe morre no parto, é feita de chacota pelas outras crianças por nascer com lábio leporino, perde o pai e é separada do irmão, seu melhor amigo. Na vida adulta, ela lida com problemas de peso e desenvolve até transtorno de cleptomania. Tanta tragédia poderia pesar a história, mas o filme nunca esquece o senso de humor.


Essas semelhanças poderiam fazer de "Memórias de um caracol" uma versão reduzida de "Mary e Max", mas o que acontece aqui é que a animação, além de emocionar o público com sua história tragicômica, também permite que possamos reconhecer melhor o olhar do diretor sobre a vida e o mundo. Um belo trabalho autoral.


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