quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Love Bites (Dracula est amoureux, França, 2025)

Laméo Florès, em sua estreia em longas, constrói com “Love Bites” uma obra que ultrapassa o rótulo de romance juvenil para se afirmar como um retrato das incertezas do amor. Ambientado em uma festa de Halloween, o filme transforma máscaras, fantasias e jogos sociais em metáforas visuais para desejos escondidos, medos íntimos e verdades que resistem em emergir. É um cenário de caos festivo que reflete o turbilhão interno de personagens tentando se reconciliar com o passado e com eles mesmos.

A narrativa acompanha Liam (Lyad Smain), ainda despedaçado após o término com Anatole (Roman Freud). Em um gesto desesperado, ele invade a festa organizada pelos amigos do ex, fantasiado de Drácula, mentindo para conseguir entrar. A farsa logo se complica quando Camilia (Harper Andria) o chantageia para cuidar do irmão caçula Gabriel (Nathan Haggege), fantasiado de fantasma. Nesse espaço barulhento, entre Teletubbies dançantes, Elviras reluzentes e luzes que oscilam entre sonho e pesadelo, Liam enfrenta não apenas a presença do ex, mas a lembrança insistente dos oito meses que viveram juntos, revelados em flashbacks de ternura, desejo e brigas mal resolvidas.


A direção de Florès, que também assina o roteiro, revela uma segurança impressionante. Seu olhar mescla humor camp, delicadeza e elegância visual. O ritmo desacelerado permite ao espectador mergulhar no ambiente sufocante e sedutor da festa, embalado por uma trilha sonora que oscila entre batidas eletrônicas e melodias melancólicas. Cada detalhe visual carrega sentido.


A alma de “Love Bites” está em seu comentário sobre intimidade e medo. O verdadeiro terror não vem dos monstros que circulam pela festa, mas da dificuldade de se entregar por completo. Liam encarna a coragem de amar sem filtros, enquanto Anatole representa o peso da hesitação, sufocado por expectativas sociais e pelo receio de assumir plenamente o que sente. Entre eles, o filme expõe como inseguranças, silêncios e julgamentos moldam os caminhos do desejo.


Há uma honestidade rara no modo como Florès trata o coming-of-age queer. O filme não suaviza a dor do coração partido, mas tampouco se entrega ao melodrama. Ele encontra potência no detalhe,  um olhar que se desvia, um abraço interrompido, um beijo lembrado. Essa escolha faz com que as mordidas do amor, aqui, não sejam apenas feridas, mas também lembranças de intensidade, marcas que nos transformam mesmo quando doem.


“Love Bites” pode não ser perfeito em todos os seus movimentos, mas sua mistura de doçura, travessuras, melancolia e irreverência é irresistível. Florès entrega um debut que fica na memória como as melhores noites de juventude: confusas, caóticas, às vezes doloridas, mas sempre inesquecíveis. Um filme que ri, sofre e ama junto de seus personagens, lembrando que o amor, mesmo quando falha, nunca deixa de marcar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário