“Smoggie Queens” transforma Middlesbrough em palco para uma celebração alta e cheia de falhas da vida queer, com humor, camp e identidade regional. Criada e escrita por Phil Dunning, que também interpreta Dickie (seu personagem drag/narcisista com coração), a série da BBC Three e BBC iPlayer conta com episódios de cerca de 30 minutos. A ambientação não é figurante, é personagem: teares industriais, neblina de chaminés, brasas de orgulho.
A série funciona como declaração de pertencimento, resgatando o termo “Smoggie”, insulto antes usado contra os de Middlesbrough, e transformando-o em troféu comunitário. “Família Escolhida” molda o núcleo narrativo: Dickie, Mam (Mark Benton), Lucinda (Alexandra Mardell), Sal (Patsy Lowe) e Stewart (Elijah Young) formam um grupo de amigos queer com diferentes idades, identidades e feridas, todos unidos pelo afeto, pelo absurdo e pelo desejo de viver com visibilidade.
Dickie é o epicentro do caos e humor, uma drag queen que exige amor, atenção e validação, entretando agride, tropeça, e aos poucos revela a humanidade escondida atrás da vaidade. Sua jornada se alimenta de risos e de reveses, espelhando o imperfeito de existir LGBTQIA+ no interior.
O humor de “Smoggie Queens” não se limita ao físico ou ao bizarro: referências locais, cenas de drag brunch temático, eventos comunitários absurdos, spinoffs de Titanic, comparsas travestidos em carruagem de Cinderela, tudo com pitadas de “deadpan britânico”. A estética é propositalmente viva, extravagante, mas também costurada nas imperfeições, maquiagem malfeita, figurinos exagerados, erros visuais assumidos, o que empresta originalidade, e reforça que comunidade queer também é feita de tentativa, de erro, de riso e de reparação.
Mesmo com suas piadas que nem sempre acertam o alvo, com humor que às vezes parece leve demais e com a tentação de se tornar uma caricatura vazia, “Smoggie Queens” deixa sua marca: uma série que não foge do orgulho, que apresenta a vida queer fora dos centros metropolitanos, que reconstrói identidade num cenário antes estigmatizado, que diz “aqui nós existimos, somos imperfeitos, somos hilários”.
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