A primeira temporada transformou Wandinha Addams em um fenômeno cultural: de musa gótica no TikTok a ícone de resistência para quem se recusa a se encaixar na normalidade pasteurizada das séries teen da Netflix. Agora, na segunda temporada, o desafio é maior: como sustentar o hype sem perder a mordida sarcástica, o humor macabro e o charme camp que fez dela mais queer do que muitos dramas que tentam deliberadamente ser?
Logo nos primeiros episódios, Tim Burton e sua equipe dobram a aposta. A atmosfera é mais carregada, os figurinos flertam com o teatral e a direção parece ter descoberto que Nevermore é menos colégio e mais passarela gótica, onde cada corredor pode virar palco de um desfile de monstros.
Agora o foco recai sobre os afetos improváveis: a amizade feminina, os pactos entre outsiders, as alianças que se formam justamente nas frestas do que é considerado “normal”. Wandinha continua repelindo a normatividade com frases afiadas e olhares que poderiam dissolver um corpo em ácido sulfúrico. Jenna Ortega, mais uma vez, entrega uma performance calculadamente minimalista que se expande em camadas a cada episódio.
Entre as novidades, a própria diretora Larissa Weems (Gwendoline Christie) retorna do além como uma guia espiritual, indesejada, claro, que insiste em atormentar Wandinha. O passado também volta a assombrá-la com a reaparição de Tyler Galpin (Hunter Doohan), o temido Hyde, e a presença de sua mãe Françoise (Frances O’Connor). A temporada ainda introduz o ambíguo Barry Dort (Steve Buscemi) como novo diretor de Nevermore e Judi (Heather Matarazzo), cuja presença é um deleite cult dentro desse universo pop-gótico. Há também espaço para o macabro clássico com Isaac (Owen Painter), um zumbi que carrega ecos e referências de “Frankenstein”.
As tensões se multiplicam com a chegada de Agnes (Evie Templeton), fã obsessiva de Wandinha, e com os dilemas de Enid (Emma Myers), que segue tentando equilibrar sua licantropia com a amizade leal, e quase codependente, que mantém com a protagonista. Nesse quebra-cabeça, Bianca Barclay (Joy Sunday) também ganha mais espaço, usando o canto da sereia para manipular e seduzir. A família Addams, por sua vez, tem arcos ampliados: Morticia (Catherine Zeta-Jones) ressurge com mais consistência e peso dramático, Feioso (Isaac Ordonez) encontra um amigo “especial”, e até a misteriosa avó Hester Frump (Joanna Lumley) surge como uma “morcega velha” elegante e enigmática, redefinindo o legado da família.
E então chega ELA. Lady Gaga, como Rosaline Wotwood, uma aparição deusa-louca-feiticeira que lança um feitiço babado sobre Wandinha e Enid (sem spoilers aqui, mas é de arrepiar). Sua presença não é só um truque de marketing: Gaga oferece a Jenna Ortega a chance de explorar novas camadas de sua personagem, criando um dos encontros mais comentados do ano. O impacto se multiplica com o lançamento do single inédito “The Dead Dance”, uma batida funky-gótica que transforma o luto em festa e se torna trilha da sequência mais opulente da temporada: um baile de máscaras que promete dominar o TikTok.
Essa temporada também entende que os Addams são, acima de tudo, um clã unido contra qualquer adversidade. Morticia e Feioso ganham espaço, o vínculo com a avó Hester adiciona novas camadas à mitologia familiar, e até os personagens secundários brilham em seus próprios arcos. Tudo isso reforça que o sobrenatural é pano de fundo para uma narrativa essencialmente sobre pertencimento e resistência, valores intrinsecamente queer.
No fim, entre o choro de Chavela Vargas e a catarse de BLACKPINK “Wandinha” não se preocupa em ser cult. Ela prefere ser pop, gótica, sarcástica e deliciosa em seu exagero. E nessa mistura, entrega entretenimento puro, mas sem abrir mão de uma mensagem sobre a força de permanecer unido, seja em família, seja em comunidade. Entre acordes de violino, batidas pop espectrais e o feitiço de Lady Gaga, a temporada deixa no ar suas pistas para o que pode vir na terceira parte. E, convenhamos: já estamos prontos!
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