domingo, 28 de setembro de 2025

Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente (Brasil, 2025)

“Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente”, idealizada por Thiago Pimentel, criada e roteirizada por Patrícia Corso e Leonardo Moreira, dirigida por Marcelo Gomes e Carol Minêm, é mais que uma minissérie: em cinco episódios, reabre feridas com delicadeza, coragem e beleza, transformando dor, silêncio e estigma em memória viva.

A série revisita a epidemia de HIV/AIDS nos anos 80 no Brasil, mostrando como o diagnóstico era sinônimo de exclusão, medo e ostracismo, mas também revelando os espaços de resistência que surgiram na clandestinidade: o contrabando de AZT, pactos de amizade e gestos de solidariedade que se tornaram formas de sobrevivência. É ficção que pulsa como documento afetivo.


Nando (Johnny Massaro) e Léa (Bruna Linzmeyer), comissários de bordo da AirFly, e Raul (Ícaro Silva), astro magnético da Paradise, formam o eixo afetivo e político da narrativa. Em suas fragilidades, desejos e confrontos com o medo, encontramos ecos de uma geração inteira que ousava amar, cuidar e resistir, mesmo diante da morte.


Os arcos secundários ampliam a teia emocional da série: Francesca (Kika Sena), amante trans; Sonia (Rita Assemany), a viúva; Yara (Eli Ferreira), que assume responsabilidades decisivas; Antunes (Júlio Machado), piloto e futuro pai do bebê de Léa, peça-chave no contrabando do AZT; e Paka (Matheus Costa), cuja dor evidencia o peso silencioso do estigma. Participações de Sérgio Menezes, Lucas Drummond, Veronica Valenttino. Igor Fernandes e Andréia Horta adicionam novas camadas de intensidade e diversidade.


A Paradise se mantém como espaço central de resistência: boate, refúgio, lar escolhido, palco de performances memoráveis, desejo, festas e encontros que salvam. Ali, corpos se encontram e se expõem, dançando e resistindo em meio à tragédia, reafirmando a importância da comunidade LGBTQIA+ como rede de apoio e sobrevivência.


A estética da série é arrebatadora, um "Trem para as Estrelas": o Rio dos anos 80 aparece entre neon e sombra, figurinos e cenários imersos em brilho e tragédia. A trilha sonora, Marina Lima, Cazuza, Sylvester, Titãs e até Locomia, não apenas acompanha, mas pulsa como manifesto político e afetivo, atravessando dor, erotismo e resistência.


Temas como desejo, sorofobia, estigma, política do corpo, redes de apoio e denúncia social são tratados sem concessões. A série equilibra didatismo com emoção, mostrando que o passado não é distante, mas feridas que ainda reverberam e ensinam sobre coragem, empatia e solidariedade.


No desfecho, o último episódio explode, com fogos de artifício, em intensidade e segredos revelados, levando Nando e os demais personagens a confrontarem verdades evitadas, enquanto a escassez de recursos vitais cria tensão e urgência. “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente” não é apenas produção televisiva, é memória coletiva em movimento. Em tempos de apagamentos e retrocessos, a série é convocação: para resistir, para amar, para se unir, e para nunca esquecer o peso da história, o valor da solidariedade, do cuidado e da coragem comunitária.


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