“One Last Night of You” começa com uma quebra literal e metafórica: o carro de Evan (Lou-Andreas Robert), prestes a desistir da vida, estraga no meio da estrada. A solução surge na figura de Léo (Léo Simonot), um estranho que oferece carona e uma possibilidade inesperada de conexão. A partir daí, o filme conduz o espectador por uma paisagem emocional que oscila entre melancolia e esperança, com roteiro e direção em sintonia com os conflitos queer contemporâneos.
Sem depender de declarações explícitas, o encontro entre Evan e Léo se constrói por olhares, silêncios e gestos que carregam passado e possibilidade de futuro. Théodore Tomasz investe na sutileza das entrelinhas: o que não é dito reverbera com mais força. A cumplicidade que nasce durante essa fatídica noite traz à tona temas como redenção, pertencimento e a urgência de viver.
Tomasz, que também assina roteiro e montagem do filme, acerta ao manter o ritmo tenso de um road‑trip emocional. A transição gradual da depressão de Evan para a esperança palpável reserva um espaço para apreciação. O isolamento da estrada e o interior da cabine do carro funcionam como extensão dos estados íntimos dos personagens, assim, o ambiente amplifica a narrativa, em vez de distraí-la
O filme dialoga com o afeto queer em sua forma mais pura: urgência, incerteza e frágil intimidade. A quebra do carro pode ser lida como um momento de suspensão, um intervalo existencial em que Evan se permite ser visto e tocado. Essa metáfora ganha significado quando a companhia de Léo se coloca como antídoto ao isolamento emocional.
Com 81 minutos, “One Last Night of You" evita redundâncias, mas às vezes peca pela brevidade, algumas camadas poderiam ganhar mais espaço. No entanto, sua economia narrativa também é sua força: tudo é medido, sem sobras ou excessos. O filme deixa o espectador com aquela sensação agridoce de quem acompanhou um encontro que poderia ter continuado por mais tempo, evidenciando sua honestidade emocional
No fim, o que “One Last Night of You" oferece é muito mais do que um romance em estrada: é um gesto comovente de esperança, em que dois jovens quebrados encontram um ao outro, e talvez algo pelo que viver. Tomasz entrega uma narrativa minimalista, porém eficaz, que reflete o poder transformador da solidariedade e do afeto queer.
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