segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Priscilla, a Rainha do Deserto(The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, Austrália, 1994)



Muito antes de RuPaul levar à arte Drag para o mainstream com seu reality RuPaul’s Drag Race, o longa australiano Priscilla: A rainha do Deserto apresentava para o mundo à cultura drag queen, com caracterizações exuberantes, dublagens icônicas e trazendo representatividade e verdade para esses artistas e performers, que tanto fazem pela cena noturna.


O filme de Stephan Elliot, começa quando Hugo Weaving, o Agente Smith de Matrix, caracterizado como Mitzy dubla a balada I’ve never been to me, da cantora Charlene. A drag  é acompanhada da amiga, Felicia ou Adam, personagem de um irreconhecível Guy Pearce, cheio de afetações e pinta. A bicha linda!


Bernardette, a trans interpretada por Terence Stamp, acabou de perder o companheiro, e topa fazer uma viagem junto de Tick(Weaving) e Adam pelo interior da Austrália. Com uma garrafa de champanhe, eles batizam um velho ônibus de Priscilla e partem para o road movie mais gay já feito


Com uma trilha sonora recheada de hinos de Pet Shop Boys, Gloria Gaynor, Abba e Alicia Bridges, o filme é um retrato não só sobre a arte drag, mas sobre amizade e descoberta de valores pessoais. Ao som de I love the nightlife, elas chegam à uma pequena cidade, onde literalmente causam.

Mas quando vão ao bar do povoado enfrentam o preconceito e a intolerância de todos, acabam, no entanto, convertendo a situação com bom humor e muita bebida. Mesmo assim não escapam de voltar para a estrada com uma enorme pixação no ônibus AIDS FUCKERS GO HOME.


Temos então a cena mais icônica no filme, a dublagem de uma ópera em cima do ônibus com um pano prateado esvoaçante. Essa cena simboliza o espírito de liberdade que o filme traz para pessoas queer, além de ser o momento mais lírico e poético da obra.


Quando o ônibus empaca no meio do deserto, e eles lá entediados e sem perspectiva, decidem pintar Priscilla de rosa enquanto as horas não passam. À noite porém encontram um grupo de aborígenes que estão acampados e apresentam a emblemática dublagem de I Will Survive, o maior de todos os hinos gays.


Com um roteiro muito bem construído, nossos protagonistas são salvos pelo mecânico Bob, um dos personagens mais boa-praça do filme, e de sua exótica esposa Cynthia. A mesma protagoniza um dos momentos mais impagáveis, ao fazer um show expelindo bolinhas do ânus o que se tornou uma piada interna, que perdura até hoje.


Quando Felicia vai montada à um churrasco é olhada com desaprovação por todos e mais um momento de intolerância acontece. Ser vítimas de ataques homofóbicos até parecia rotina para aqueles personagens que encaravam com a coragem as adversidades, pois de dificuldade já bastava o fato de ser gay.


Tik revela que é casado e que encontrará sua mulher assim que chegarem a seu destino. Bernardette flerta com Bob e Adam delira, ainda se recuperando do trauma da noite anterior, enquanto vão embora da cidade acompanhados do mecânico.Quando finalmente chegam ao seu destino, a cidade de Alice, Tik encontra o filho, a quem tanto temia e se surpreende com a boa aceitação por parte da criança.


O número pelo que todos esperavam acontece, as três drags fazem uma performance de Finally, de CeCe Penniston, com direito a muita coreografia, troca de figurinos e o desmaio de Mitzy ao final da música.


Trazendo brilho, plumas e muita maquiagem para o meio do deserto, o longa é um grito de liberdade para a comunidade queer e que inspirou não apenas obras futuras, como Para Wong Foo Obrigada por tudo Julie Newmar, como também incentivou milhares de artistas ao redor do mundo a expressar sua arte, além de espalhar a cultura transformista.


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