segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Maus Hábitos(Entre Tinieblas, Espanha, 1983)

Após seus dois primeiros filmes, Pepi, Lucy, Bom y otras chicas de montón e Labirinto de Paixões, Pedro Almodóvar comprovaria em seu terceiro longa, Maus Hábitos, de 1983 que era realmente um diretor controverso e subversivo. O filme fazia uma provocação direta à Igreja Católica, colocando freiras em situações inusitadas e transgressoras. A crítica ou referência à religião sempre esteve presente na obra do diretor principalmente em A Má Educação, onde tratava de experiências pessoais.

Entardecer em Madri, enquanto passam os créditos iniciais. Observamos em planos mais bem elaborados, janelas, um fetiche do diretor, e conhecemos Yolanda, Cristina Pascual, que leva heroína para um cliente. Ao voltar do banheiro o encontra morto de overdose.


Na cena seguinte ela usa um reluzente vestido de paetês vermelhos e está pronta para entrar no palco, até que é abordada por dois homens, começa então uma fuga. Sai correndo do Rojo Molino, referência à Moulin Rouge e acaba encontrando um cartão das Redentoras Humilhadas, que lembra de terem ido assisti-la em um show.

O convento entra em cena. Aos poucos conhecemos as humihadas Irmã Perdida(Carmen Maura), Irmã Esterco(Marisa Paredes), Irmã Rata de Esgoto(Chus Lampreave) e  Irmã Víbora, Lina Canalejas, a única que não continuou a trabalhar com Almodóvar, além da Madre Superiora interpretada pela brilhante Julieta Serrano.


A Senhora Marquesa conversa com Irmã Perdida, as freiras oram e cantam, até que Yolanda adentra a capela envolta por uma luz. Os olhos da Madre, na hora, olham apaixonados para ela.


Como o convento é um refúgio para os necessitados, Yolanda fica. A madre lhe dá o quarto de Virgínia, filha da Marquesa e logo lhe oferece heroína para relaxar, com quem também se injeta numa cena visualmente chocante. Pela janela, Yolanda vê o Niño, que é na verdade um tigre criado pela personagem de Carmen Maura.


Irmã Rata de Esgoto, fala sobre sua autora preferida Concha Torres, de literatura sensacionalista. A autora é na verdade um alter ego de Chus, e essa ideia seria melhor abordada por Almodóvar em 1995, com Amanda Gris de A Flor do meu Segredo.


Irmã Esterco, a sempre ótima Marisa Paredes, conta que matou um homem a facadas e por isso se humilha e se flagela para viver um eterno castigo, além disso ela também toma algumas doses de ácido, que a fazem enxergar um mundo psicodélico.


A Madre Superiora mima Yolanda, a traz drogas, faz companhia e ao som de Encadenados de Lucho Gatica, elas têm o momento mais romântico do filme. Ao fundo, o altar da Madre, com divas como Marilyn Monroe e Brigitte Bardot.

O universo do convento é riquíssimo, sempre com muita coisa acontecendo. Meche, personagem de Cecilia Roth aparece em apuros numa noite. Irmã Víbora têm um ateliê e comparte muito tempo com o padre, por quem é apaixonada, Irmã Rata faz uma bela oração. Irmã Esterco se ajoelha em vidros.


Yolanda, farta do amor da Madre, e cansada por sua insistência, decide deixar a droga e têm uma violenta crise de abstinência, onde vê todo o tipo de símbolos religiosos. Mesmo assim, ela volta a cheirar cocaína com a Superiora para disfarçar enquanto procura uma carta para a marquesa.

Numa festa promovida pelas freiras, talvez tenhamos a cena mais emblemática do filme, quando Yolanda canta Sali porque Sali de Cheo Feliciano, no talvez primeiro número burlesco dos muitos que viriam na obra do diretor. Apaixonada, a madre acompanha tudo sem tirar os olhos da cantora.

Mas ao fim do número, a Madre Geral avisa que o convento irá acabar, que não existirá mais isso de ordem da humilhação e que elas serão reintegradas. Yolanda vai embora com a marquesa. Irmã Víbora declara seu amor pelo padre e adotam o Tigre, já que Irmã Perdida também vai embora. A Madre dá um grito desesperado e ensurdecedor ao descobrir que perdeu Yolanda.

Apesar de Maus Hábitos ainda ser um filme muito do começo da carreira de Almodóvar, já mostrava a que ele vinha, fazendo uma crítica social voraz e trabalhando com aquelas que seriam atrizes chave em boa parte de seus filmes. Não é o meu preferido, mas já mostra um grande amadurecimento como cineasta e crítico social depois dos dois primeiros longas.

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