sábado, 5 de setembro de 2020

Labirinto de Paixões(Laberinto de Pasiones, Espanha, 1982)


Em 1982, em meio a Movida Madrileña, movimento de contracultura que reunia artistas, junkies e homossexuais na Madri, dos anos 1980, Pedro Almodóvar realizou seu segundo longa-metragem Labirinto de Paixões, que certamente se inclui como uma manifestação do movimento.

Logo na primeira cena vemos Sexilia, personagem da jovem Cecilia Roth, ninfomaníaca desde menina, analisando o “pacote” de vários homens. Corta para o pintoso McNamara em uma mesa de bar soltando pérolas como “Que síndrome!”, “Que overdosis!” e “Estoy histérica!” enquanto cheira esmalte. Ao mesmo tempo Rizo(Imanol Arias) vê numa revista uma matéria sobre Patty Diphusa, a atriz de fotonovelas pornô que protagoniza um livro de Almodóvar.


A trama gira em torno de Rizo Nira filho do imperador do Tirã que se exila em Madri. Lá acaba envolvido com o homossexual Sadec, interpretado pelo jovem Antonio Banderas em sua primeira atuação com Almodóvar, de muitas que iriam vir. Também se envolve com Sexilia, uma banda de punk/rock e a princesa Toraya.


Numa longa galeria de personagens excêntricos ainda temos tramas paralelas como incesto, inseminação artificial, problemas sexuais e diálogos almodóvarianos sobre maternidade. O filme também serve escatologias, que rementem ao cinema John Waters como Pink Flamingos e Female Trouble. Em uma cena uma mulher defeca perna abaixo ou então McNamara no maior estilo Divine espanhola realiza um ensaio fotográfico coberto de sangue e fazendo amor com uma furadeira.


Cocaína, orgias, e bandas de rock servem para ilustrar a noite madrilhenha. É justamente nesse mote quando Almodóvar faz uma inesquecível apresentação cantando montada numa festa, essa referência seria resgatada mais tarde em uma fala do protagonista de Dor e Glória.


O grupo de garotas comandado por Sexilia lembra Pepi, Lucy, Bom y otras chicas de montón, filme de estreia do diretor espanhol. Ambos também se parecem pela falta de refinamento estético embora Almodóvar já caminhasse para criar sua linguagem própria.


No fim encontramos um filme sobre o desejo, tema tão recorrente na obra de Almodóvar. O desejo tratado de maneira surreal, lúdica caricata e absurda. Labirinto de Paixões é mais um experimento do que um filme para ser levado a sério, porém uma comédia que certamente possui seu valor.



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