quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Até o Cair da Noite(Bis ans Ende der Nacht, Alemanha, 2023)

O policial gay Robert (Timocin Ziegler) tem que interpretar o papel de amante da mulher trans Leni (Thea Ehre), recém saída da prisão. Os investigadores disfarçados devem invadir o acesso ao traficante Victor (Michael Sideris). Leni faz o papel de abrir as portas para Robert. Ela se chamava Lennart e trabalhava para Victor. 

O golpe pode dar certo, mas apenas se Robert mantiver suas emoções sob controle. Porque esse é o difícil para ele nessa missão: ele já foi apaixonado por Leni, antes da transição. E os sentimentos continuam a arder.


Na verdade, eles ardem tanto que o thriller policial, do diretor Christoph Hochhäusler, quase se transforma em um romance. Não fosse o mundo quebrado de falsas promessas, jogo duplo e uma máscara por trás da qual as fronteiras entre sentimentos reais e fingidos são irremediavelmente borradas. 


A cinematografia, de Reinhold Vorschneider, sempre reserva surpresas, que deliberadamente transcendem o realismo do ambiente sombrio, sujo e áspero do lugar. Eles transmitem um romantismo que também tem seu lugar no mundo pop da trilha sonora: kitsch, mas também de alguma forma sedutora nos múltiplos contrastes do filme. 


O cenário é Frankfurt, com suas contradições de miséria e glamour, ponto de drogas e torres bancárias. Onde o clássico thriller policial se transforma em melodrama, Christoph Hochhäusler parece se ligar à arte de estilização de Rainer Werner Fassbinder, especialmente com seu filme Num Ano de 13 Luas (1978), no qual uma mulher trans também desempenha o papel principal em um ambiente criminoso.


Em particular, o personagem do policial  Robert parece estar preso internamente. Na verdade, ele só consegue amar Lennart, com Leni ele só consegue se render com o freio de mão ligado.


Thea Ehre oferece uma performance admirável na mistura de vulnerabilidade e força interior. A atriz austríaca e ativista trans usa seu primeiro grande papel no cinema para fazer uma aparição intensa. Premiada com o Urso de Prata, no Festival de Berlim, Thea Ehre é a potência deste complexo melodrama policial. Em sua figura, os fios soltos se juntam novamente.


Com uma trama complexa, edição confiante e imagens atmosfericamente impressionantes, o diretor consegue criar uma reflexão emocionante sobre amor, manipulação, identidade de gênero, crime e, acima de tudo, confiança interpessoal. 



segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

20 ANOS DE DIA DA VISIBILIDADE TRANS

Hoje é 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans, data que foi instituída em 2004, e desde então celebra a evolução e as conquistas da comunidade transgênero em nossa sociedade. Nesse dia, a  página separou algumas dicas, com narrativas e pessoas trans por trás ou na frente das câmeras. 

Valentina(Brasil, 2020)



Valentina, de Cássio Pereira dos Santos, é um coming age moderno, que conta a história de uma adolescente trans, interpretada por Thiessa Woinbackk,que luta para ter o seu nome social na nova escola que foi matriculada na cidade em que se mudaram, no interior de Minas. A jornada de Valentina vai ao encontro de um caminho de descobertas, revelações, novas amizades e amadurecimento.



Meninos não Choram(EUA, 1999)



História de um garoto trans. Brandon Teena, morador de uma pequena cidade americana. Baseado em fatos reais, o roteiro mostra os violentos preconceitos que sofre quando sua transgeneridade é revelada. Um brutal e cruel retrato de transfobia, que rendeu à Hillary Swank, o Oscar de Melhor Atriz. Com Cloé Sevigny e Peter Sarsgaard, no elenco, o filme é um grito de socorro da comunidade LGBTQIA+, que ainda hoje segue passando tipos de situação assim


Mutt(EUA, 2023)



No filme, de Vuk Lungulov-Klotz, Feña que tenta manter sua vida estável durante uma noite e um dia caóticos, em Nova York, em que o passado continua se afastando dele enquanto o presente lança novos obstáculos. Ele quer desesperadamente convencer seus amigos, familiares e, principalmente, a si mesmo de que ele não é um perdedor, mas isso se mostra difícil.


Uma Mulher Fantástica(Chile, 2017)


Vencedor do Oscar de Filme Internacional, o filme conta a história de Marina, a ótima Daniela Vega,  uma mulher trans. Quando seu parceiro, um homem de meia idade, morre, ela se vê diante da raiva e do preconceito da família dele. Ela luta por seu direito de sofrer - com a mesma energia ininterrupta que ela exibiu quando lutou para viver como uma mulher. 


Lingua Franca(EUA/Filipinas, 2019)


Profundo e sentimental, o filme ganhador do Queer Lisboa, mira na alma, e acerta em cheio. Seu grande ponto alto, no entanto, é que a história é narrada e conduzida por uma mulher trans, Isabel Sandoval. Finalmente, estamos frente a tal visibilidade.


Paloma(Brasil, 2022)


Paloma, de Marcelo Gomes, é um filme baseado em fatos reais que denuncia a transfobia. O roteiro de Gustavo Campos, Armando Praça e Marcelo Gomes, parte de fatos reais para ficcionalizar esse drama que expõe a violência machista por questões de gênero.


Tomboy(França, 2011)



No filme de Céline Sciamma, Laure (Zoé Héran) é uma garota de 10 anos, que vive com os pais e a irmã caçula, Jeanne (Malonn Lévana). A família se mudou há pouco tempo e, com isso, não conhece os vizinhos. Um dia Laure resolve ir na rua e conhece Lisa (Jeanne Disson), que a confunde com um menino. Laure, que usa cabelo curto e gosta de vestir roupas masculinas, aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa, porém verdadeira, identidade de gênero


Num Ano de 13 Luas(Alemanha, 1978)




Em 1978, o gênio do cinema alemão Rainer Fassbinder já estava muito a frente de seu tempo e tratava com naturalidade temas como redesignação de sexo e transexgeneridade. Num Ano de 13 luas, filme intimista que realizou após a morte de um namorado, é um triste retrato de uma transgênero que sofre com sua condição e vive uma jornada existencial de desprezo e humilhações. Como toda a obra do diretor, o filme é impregnado de analogias e crítica social.


O Funeral das Rosas(Japão, 1969)


A obra prima e imersiva, de Toshio Matsumoto, relata a história de Eddie, uma trans excepcionalmente bonita e uma das melhores hostess em um dos mais famosos clubes noturnos do Japão. Eddie tem um amor obsessivo pelo proprietário do clube, que já está envolvido com, Leda, uma travesti madura e ciumenta. Eddie tem flashbacks confusos de sua infância: do seu pai sempre ausente e lembranças nebulosas e estranhas de sua mãe. Ela tem uma fotografia escondida em seu apartamento - mas o rosto na foto de seu pai foi queimado por sua mãe há alguns anos. À medida que o filme avança, começa-se a entender melhor a mente de Eddie e a juntar os pedaços da verdade terrível sobre o seu passado violento.


Vestida de Azul(Espanha, 1983)



o diretor espanhol Antonio Gimenez Rico estava inovando ao retratar a realidade de mulheres trans em seu país, em um período, de transição, pós ditadura franquista. Vestida de Azul é simplesmente um ícone sobre transgeneridade na Espanha. O filme narra a história real de Lorena, Reneé, Nacha, Tamara, Eva e Josette, contadas por elas mesmas.



Lola e o Mar(Bélgica, 2019)


O filme de Laurent Micheli, não se propõe a uma discussão profunda sobre identidade de gênero, não aquele gênero que estamos acostumados a nos ver atribuídos ao nascimento. Não há questão de fluidez, já que a heroína nascida Lionel vive e se vê como Lola, uma jovem mulher.


Vera(Brasil, 1986)


Vera é um homem trans que prefere ser chamado de Bauer. Embora afirme que é um homem, a sociedade não tolera e o vê como uma mulher lésbica. O filme, de Sérgio Toledo, é um marco do cinema nacional, por anos antes da retomada, trazer à tela um tema urgente, o da transexualidade masculina. Essa pérola, premiou Ana Beatriz Nogueira com o Urso de Prata, por sua atuação, no Festival de Berlim, mas passou anos esquecido e está enfim, sendo redescoberto.


Kokomo City(EUA, 2023)


Ousado, desinibido e direto são apenas alguns adjetivos para descrever o retrato fascinante, íntimo e honesto de D. Smith da vida de quatro trabalhadoras do sexo trans negras, Daniella Carter, Dominique Silver, Koko Da Doll e Liyah Mitchell. Das avenidas de Nova York às ruas de Atlanta, a intimidade com que cada mulher relata suas experiências e observações é única.


Monica(Itália/EUA, 2022)


Monica (Trace Lysette), uma mulher transgênero, está afastada de sua mãe, Eugenia (Patricia Clarkson), há 20 anos. Quando descobre que Eugênia está doente, ela volta para sua cidade natal para ajudar a cuidar dela. Ela também reencontra seu irmão, Paul (Joshua Close), que chega lá com sua esposa, Laura (Emily Browning) e seus filhos. O diretor Andrea Pallaoro tece uma exploração lírica e comovente do amor, compaixão, perdão, reconciliação e cura da dor emocional.


Transversais(Brasil, 2021)


O filme acompanha a vida de cinco pessoas, que possuem em comum, o fato da vida ser atravessada pela transgeneridade. Érikah é professora, Samilla é funcionária pública. Caio é paramédico, Kaio Lemos é pesquisador. Mara é jornalista e mãe de uma adolescente trans, Lara. Os cinco têm origens, formações e classes diferentes. 



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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A Cor Púrpura(The Color Purple, EUA, 2023)

A Cor Púrpura, de Blitz Bazawule, baseado na adaptação musical da Broadway, do romance da autora Alice Walker, começa grande para tentar ficar maior do que pode chegar.

O filme começa em 1906, onde Celie (interpretada quando criança por Phylicia Pearl Mpasi, uma adulta por Fantasia Barrino) sofre repetidas agressões sexuais de seu pai Alphonso (Deon Cole), levando a duas gestações e partos. Ela tem uma relação próxima com sua irmã Nettie (Halle Bailey).

A história salta para 1915, onde Mister (Colman Domingo) aborda Alphonso sobre se casar com uma das filhas. Célia torna-se sua esposa. Nettie é impedida de manter contato com ela. A vida de Celie muda quando ela conhece a cantora de blues Shug Avery (Taraji P. Henson).

Uma celebridade local, Shug vive uma existência glamourosa, muito além dos meios da comunidade pobre e segregada dos outros personagens. Shug e Celie se apegam romanticamente, enquanto uma das cartas de Nettie revela que ela está vivendo uma nova vida em uma aldeia africana.



A Cor Púrpura é muito atento ao papel da fantasia e da arte em servir de consolo para as mulheres que lutam contra vidas violentas. Várias canções são encenadas como fantasias de Celie, onde a pressão de ser tratada como lixo pelos homens desaparece temporariamente.


A história lida com a difícil questão do estupro, incesto e violência doméstica, então descobrir uma maneira de retratá-los sem acumular o trauma dos personagens negros pode ter levado Bazawule a jogar as coisas com bastante calma.


Dado o período, a trilha sonora, composta por Brenda Russell, Allee Lewis e Stephen Bray, se baseia no gospel, blues e jazz, mas introduz elementos mais modernos com o passar das décadas, com um elenco repleto de cantores de R&B. 


Infelizmente, no final, o maximalismo, tão empolgante no início, cansa. O filme faz um bom trabalho de equilibrar uma história complicada e grande elenco, e é mais rápido do que seus 140 minutos. A Cor Púrpura chega perto de alcançar a catarse a que se propõe, mas o desfecho se inclina para um espírito gourmet.





quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Todos Nós Desconhecidos(All of Us Strangers, Reino Unido/EUA, 2023)

Andrew Haigh é um mestre em explorar pessoas através da reflexão. Do seu inovador filme Weekend(2011) à fantástica série da HBO Looking: reflexos e luzes aparecem repetidamente, dando um infinito até mesmo aos espaços mais estreitos

Adam (Andrew Scott) está sozinho. Cheio de melancolia, ele olha pela janela desamparado, como se fosse o último morador de um dos prédios. Na verdade, ele é o primeiro a se mudar para um dos apartamentos e espera companhia.


À deriva desde que sua mãe (Claire Foy) e seu pai (Jamie Bell) morreram, quando ele tinha onze anos de idade, Adam vive sozinho e quieto, com televisão e comida boa. Qualquer desejo que ele possa ter por um futuro ele já se convenceu de não se importar. 


À medida que surge a possibilidade de uma conexão íntima com Harry (Paul Mescal), um vizinho igualmente solitário, Adam se conecta com as memórias do passado e se une com seus pais por meio de fenômenos metafísicos e/ou colapso esquizofrênico, encontrando-os e sua casa inalterados de suas memórias.




A beleza e a bondade da história de amor que Adam começa com Harry torna-se então o espelho apaixonado dessa abertura à vida, do desejo de se envolver não tanto consigo mesmo, mas profundamente com aquela parte sua que estava escondida porque estava muito escuro e dolorido.

Trabalhando em dois papéis tão bem definidos e profundos, foi praticamente impossível que Andrew Scott e Paul Mescal não acabassem proporcionando ótimas atuações e uma química palpável. Em particular, o primeiro demonstra uma maturidade artística que lhe permite livrar-se de alguns pequenos artifícios do passado. 


A escolha ousada de apresentar uma história de um ângulo diferente e arriscado paga um conceito artístico de nível inegável. Nesta adaptação, Andrew Haigh constrói um olhar cinematográfico que mistura docemente intimidade e estilização, criando um mosaico difícil de esquecer, impossível de não amar.


Baseado no romance Strangers, de 1987, do escritor japonês Taichi Yamada, o diretor e seus dois atores principais pegam o que tradicionalmente é uma história baseada em terror e a transformam em uma meditação assombrosa sobre o luto. Assim como o final do filme, tudo é passível de interpretação., o que é real ou imaginário? Mas uma coisa que você não pode discutir é que Todos Nós Desconhecidos vai te espantar com sua beleza.



Femme(Reino Unido, 2023)

SINOPSE: Femme conta a história de um artista drag queen chamado Jules (Nathan Stewart-Jarrett), que se torna alvo de um ataque homofóbico nas mãos de Preston (George MacKay) e seu grupo de amigos. Meses depois, Jules reconhece seu agressor em uma sauna gay e decide se vingar.

Quando Jules (Nathan Stewart-Jarrett) está no palco, ele está acostumado com os aplausos, como a drag queen Aphrodite Banks. Ela é um evento em Londres. Mas quando se depara com as pessoas erradas em um mercado, comprando cigarros, e, após uma breve provocação, é brutalmente espancado por um deles.

Após o ocorrido, Jules está quase irreconhecível. Ele evita ocasiões sociais e não se apresenta mais. Quando ele vai a uma sauna gay, ele mal consegue acreditar em seus olhos. Preston (George MacKay), está lá, o homem que abusou e o traumatizou. Em vez de fugir, no entanto, Jules busca a proximidade do bandido, que não o reconheceu, e bola um plano.


Jules e Preston começam a se relacionar regularmente para o sexo. A relação deles é brutal. Traficante de drogas, Preston banca seus encontros em restaurantes caros, mas ele tem problemas extremos de gerenciamento de raiva e está no armário e foge do controle de qualquer coisa que Jules faça que possa expor seu relacionamento. O sexo deles é selvagem e sem coração, sem beijos, mas ambos parecem gostar assim. Jules tenta criar oportunidades para filmar Preston para sua vingança, mas é difícil e ele arrisca a ira de Preston se ele for exposto. 


A mistura de drama LGBTQIA+ e suspense é bastante fascinante. Entre outros, Sam H. Freeman e Ng Choon Ping, que co-dirigiram e escreveram o roteiro, lidam com o tema da identidade e como ela pode ser fluida. Isso não se aplica apenas a Jules, que alterna entre sua persona de palco e o seu cotidiano. Preston também se comporta de forma diferente, dependendo do contexto em que o vemos. 

Femme é moralmente conflituoso até suas raízes, já que Jules busca inverter o roteiro e derrubar Preston quando ele está mais confiante, que foi justamente o que aconteceu com ele. Essa dinâmica de poder se desenrola de maneiras profundamente intensas que se tornam cada vez mais desconfortáveis, à medida que suas jornadas pessoais de gênero e sexuais chegam a um clímax bombástico. 


Stewart-Jarrett é impecável como Jules, sem medo de abraçar os cantos mais sombrios da história. MacKay é uma força absoluta, tecendo sem esforço nuances nas inseguranças de Preston que emergem em explosões de ódio aterrorizante. Juntos, eles geram um motor interminável de tensão que se recusa a desistir.


Personagens imprevisíveis e vulneráveis aumentam a tensão, assim como a dinâmica de poder em evolução entre Jules e Preston. O tema do poder percorre todo o filme... poder queer, poder drag, perder poder e recuperar poder. Trilha sonora, cenas realistas de sexo e vida noturna se combinam para alcançar uma história queer totalmente crível.




terça-feira, 23 de janeiro de 2024

REPRESENTATIVIDADE LGBTQIA+ NO OSCAR 2024

Entra ano e sai ano e as narrativas LGBTQIA+ seguem ganhando espaço naquela que é a maior premiação POP do Cinema; o Oscar. Em 2024, apesar de algumas indicações previsíveis, a Academia surpreendeu com outras, que agregam muito para a comunidade queer.


Jodie Foster e Annette Bening foram indicadas por seus papeis em ‘Nyad’. Com mais de 60 anos de idade, a atleta Diana Nyad se prepara para realizar o sonho da sua vida: nadar de Cuba até a Flórida, uma travessia em águas abertas de mais de 160 km.


American Fiction não tem o protagonista gay, apesar de interpretado por Jeffrey Wright, no entanto seu irmão é. Escrito e dirigido por Cord Jefferson, o longa sobre um escritor que precisa ‘embranquecer’ seu trabalho. É uma surpresa, com suas várias indicações, incluindo Melhor Filme.

‘Anatomia de uma Queda’ não foi o selecionado para representar a França, no entanto o longa de Justine Triet recebeu indicações por seu roteiro, atuação e também direção. Na história, a bissexualidade da protagonista, é usada contra ela, de forma pejorativa no tribunal.


Maestro também foi indicado por seu Roteiro, Fotografia, Ator, Atriz e ainda Filme, contrariando muita gente que torceu o nariz para o longa de Bradley Cooper. O filme foca especificamente na relação entre Bernstein (interpretado pelo próprio Cooper) e sua esposa Felicia Montealegre (Carey Mulligan)



Rustin compartilha algo em comum com outras cinebiografias, e essa é uma performance indicado ao Oscar de  Colman Domingo, que interpreta Bayard Rustin, um homem cujos esforços foram em grande parte apagados da história.


Barbie é um filme feminista sobre um produto mas também é muito gay, seja por suas cores, por sua trilha POP ou pelo personagem Adam. No entanto Margot Robbie e Greta Gerwig não foram indicadas em suas respectivas categorias, do longa que concorre como Melhor Filme.

Essa foi uma agradável surpresa! Nimona está indicado como Melhor Animação. Ambientado em um mundo de fantasia, sci-fi e com temática medieval, Nimona é alegre, hilário e às vezes doloroso, que aborda o que significa ser diferente e explora como a comunidade queer pode literalmente salvar vidas.


Com 11 indicações Poor Things é muito coisa e também é um conto queer. O filme, de Yorgos Lanthimos, narra o despertar de Bella Baxter, em um capítulo ousado na liberação sexual, mas também controverso.




Quem Fizer Ganha(Next Goal Wins, Reino Unido/EUA, 2023)

O time de futebol de Samoa é considerado o pior do mundo. Depois de demitir seu último treinador (David Fane), o presidente da federação, Tavita Taumua (Oscar Kightley), contrata Thomas Ronger (Michael Fassbender), um holandês que foi demitido nos Estados Unidos por seu mau comportamento.

Após um documentário em 2014, a história da equipe de futebol samoana tornou-se ficção neste filme de Taika Waititi, uma história que mistura comédia e drama, com momentos estrategicamente divertidos.


Em 11 de abril de 2001, em uma eliminatória para a Copa do Mundo de 2002, a Samoa Americana perdeu para a Austrália por 31-0, estabelecendo o recorde de maior saldo de gols já levados. Para reanimar a equipe, a Federação Americana de Futebol envia um novo técnico para o arquipélago do Pacífico Sul, de volta de várias suspensões devido a problemas comportamentais. 


Inicialmente furioso com a punição, Thomas aos poucos entrará no espírito da ilha e convencerá seus jogadores improváveis a dar tudo para alcançar o objetivo: marcar pelo menos um gol e deixar o último lugar no ranking mundial da Fifa.


Quem Fizer Ganha é um clássico filme esportivo cujo começo, meio e fim são conhecidos. Mas o conhecimento desses elementos fundamentais não arruína a visão de um filme que não aspira a revolucionar o gênero e só quer contar uma história simples, sempre um símbolo de como a vida e o esporte podem se entrelaçar.


O longa foca tanto no esporte do futebol quanto na vida da ilha, os membros da equipe que são personagens reais. Alguns são ingênuos, outros são simplesmente serenos, todos com uma bondade subjacente que, embora possa não se refletir na realidade, é funcional para a síntese da história.


Mas, além de imergir o público nas belezas naturais e peculiaridades da cultura samoana americana, a releitura cômica de Waititi traz uma subtrama que acompanha Jaiyah Saelua, a primeira jogadora de futebol transgênero a competir em uma Copa do Mundo. Interpretada no filme pelu artista não-binárie Kaimana, Saelua é uma mulher trans não-binária que é fa'afafine, um terceiro gênero reconhecido na sociedade polinésia.


Considerada pela Fifa como a primeira mulher transgênero a disputar uma eliminatória para a Copa do Mundo, Saelua abriu caminhos dentro do esporte, falando abertamente sobre sua transição e usando maquiagem em todas as partidas.






segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Anatomia de uma Queda(Anatomie d'une chute, França, 2023)

Sandra (Sandra Hüller) e seu marido Samuel (Samuel Theis) são escritores. Eles vivem há um ano em um chalé isolado nas montanhas, com Daniel (Milo Machado Graner), seu filho com deficiência visual. Um dia, ao voltar de um passeio com seu cachorro, a criança encontra o pai morto ao pé da casa. Parece que ele caiu de um andar mais alto. Lá dentro, a mãe, que estava tirando um cochilo, não percebeu nada. Uma investigação é aberta para uma morte suspeita e Sandra é logo acusada, apesar da dúvida: suicídio, acidente ou homicídio?

O thriller jurídico, de Justine Triet, sopra constantemente quente e frio. No filme, o comportamento gelado de Sandra, as respostas ambíguas e os olhares evasivos funcionam contra ela. Ela não chora o suficiente, tem moral livre demais, ela parece a culpada ideal. É isso que o advogado misógino da parte civil tenta demonstrar.


Anatomia de uma Queda é também a dissecação de um casal, a dissolução de uma história de amor, neste caso dois artistas em rivalidade. Em flashbacks, as cenas de argumentos são confusamente precisas.


O advogado de Sandra, Vincent (Swann Arlaud),  tem que distorcer a imagem de seu falecido marido para que todos no tribunal acreditem na história de seu suicídio. Mas não conhecemos os heróis e só vemos o que o filme decide nos mostrar.


Uma história que o promotor conta é sobre a bissexualidade de Sandra. Seis meses antes da morte do marido, ela o traiu com uma mulher. A infidelidade é usada como prova de sua ambiguidade. O promotor se alimenta de um estereótipo clássico. Ele enquadra Sandra como uma mulher bissexual criminosa conivente que emasculou seu marido e depois o empurrou para a morte.


Apesar de sua duração, a relação e o drama de tribunal são fascinantes, e esperamos até o último momento para ver quais perguntas o filme responderá e quais permanecerão apenas vagando.  São levantados os temas de saúde mental, infidelidade e sexualidade, culpa, aspirações de carreira e realização artística, ideia de criar um filho. E, no final, o veredito cabe ao público.



terça-feira, 16 de janeiro de 2024

10 RAZÕES PARA VER E REVER ‘TATUAGEM’

O emblemático Tatuagem completou 10 anos e a página listou 10 razões para ver e rever o filme, de Hilton Lacerda, que é fundamental dentro da cinematografia queer brasileira. Mas porque o longa, disponível na Reserva Imovision, é tão importante?


ESTREIA NA DIREÇÃO DE HILTON LACERDA

O filme marca a estreia do pernambucano, que já havia trabalhado no roteiro do poderoso ‘Baile Perfumado’, de Lírio Ferreira, e parcerias com Cláudio Assis, em ‘Amarelo Manga’, ‘Baixio das Bestas’ e ‘Febre do Rato’, por trás das câmeras. Aqui o filme é inteiramente seu, e oferece sua visão única e poética, sempre destacando Recife.


TRAMA

A trama de ‘Tatuagem’ envolve revolução, romance, poesia e filosofia. O filme, em toda a sua libertinagem, baseia-se no ciúme e nas relações instáveis, ao mesmo tempo que tenta controlar a situação política e a repressão vivida na época.


REFERÊNCIAS
É nos pequenos detalhes(inclusive no colarinho com triângulos rosas de Clécio), que o filme faz inúmeras referências, tanto à arte, como à literatura, inclusive a de Cordel, o Cinema Novo, em alguns momentos acena para cineastas como Almodóvar, mas sobretudo reverencia os icônicos Dzi Croquettes.


TRILHA SONORA

A trilha sonora, composta pelo DJ Dolores, é hipnótica(‘A Polka do Cu’ é um novo clássico). Além disso, a obra traz canções de Caetano Veloso, Angela Rô Rô, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Maria Callas e a poderosa ‘Volta’, em uma bela participação de @johnnyhooker.


ELENCO

O filme conta com atuações impecáveis de Irandhir Santos, Rodrigo Garcia e Jesuíta Barbosa, antes de se tornarem grandes estrelas de cinema e TV, misturando momentos de seriedade, extravagância, anarquia e humor. 


CONTEXTO HISTÓRICO

Mesmo que com leveza, a história se passa quando a ditadura militar está instalada, mas a sociedade vive o eco da revolução sexual e dos novos modelos familiares. É nesse contexto que o grupo teatral desafia as normas, e não hesita em criticar a realidade social do país.


PRÊMIOS

Para um filme de estreia, ‘Tatuagem’ tem uma bela galeria de estatuetas, incluindo Melhor Filme no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro(2014), o Kikito, de Melhor Filme, em Gramado(2013), o Prêmio do Júri, do @fmixbrasil, entre vários outros, destacando sua direção, elenco e equipe.



CHÃO DE ESTRELAS

Um cabaré e boate que é o palco de números icônicos, e exuberantes, onde teatro, poemas, dança, filosofia e música compõem a diversão subversiva e a liberdade de expressão censurada por uma temida ditadura militar.


DESCENTRALIZAÇÃO EIXO RIO-SP
Ambientado no Recife, da década de 70, ‘Tatuagem’ representa um marco gigante no cinema pernambucano, evidenciando a riqueza cultural da região e inspirando outros cineastas locais a explorarem novas narrativas e abordagens. 


FAMÍLIA ESCOLHIDA

Em certo momento, Clécio que já tem um filho de uma relação livre com Deusa, vai morar numa comuna com o restante dos personagens. O ambiente se torna cenário de conflitos, mas também reforça o conceito de acolhimento familiar, tão comum entre a comunidade LGBTQIA+.