sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A Maioria das Pessoas Morre No Domingo (Los Domingos Mueren Más Personas, Argentina/Itália/Suíca, 2024)

Por Bruno Weber

Quando conhecemos David, personagem interpretado por Iair Said, ele está no seu pior momento. Chorando nu num quarto de hotel, ele implora que seu namorado o aceite de volta. A partir do insante que a porta de seu relacionamento se fecha - literalmente - a vida de David se torna uma sequência de erros e pequenos acidentes, que servem apenas para acentuar sua tristeza, apatia e mortalidade. Logo após o término, ele precisa voltar para Buenos Aires para o funeral de seu tio-avô. E esse retorno também marca uma oportunidade de se reconectar com sua mãe, Dora (Rita Cortese), com sua irmã, Silvia (Antonia Zegers) e com o resto de sua família judia, enquanto todos aguardam que o inevitável aconteça com seu pai, que está hospitalizado há algum tempo. E isso tudo acontecendo durante o Pessach, a "Festa da Libertação", segundo a tradição judaica.

Iair Said, que também escreve e dirige esse "A Maioria das Pessoas Morre No Domingo", buscou muito das próprias experiências para contar a história de David. Em seu segundo longa-metragem, Said mostra muito do domínio de uma comédia cheia de sutilezas que ele já havia demonstrado antes. Uma forma de humor que é permeada por momentos de tristeza contemplativa, ainda mais pelo fato dessa história ter sido inspirada pelo sentimento de perda após a morte do pai do diretor. O filme retrata essas épocas recorrentes da vida de todo mundo, em que grandes mudanças acontecem e nos deixam um pouquinho perdidos. No caso de David, pequenas humilhações e desconfortos que acontecem em sequência, e no geral não deviam ter nenhum significado, ganham importância por estarem acontecendo no meio dessa jornada de perda.


Ao mesmo tempo, cresce seu sentimento de não pertencer. Como um homossexual fora do padrão, acima do peso e tímido, e ainda por cima após voltar para sua cidade natal após anos fora, ele se vê totalmente separado do resto da comunidade. Ele tem uma atração forte por quase todos os homens que encontra, mas é desajeitado demais para ter alguma chance com alguém. E mesmo quando a oportunidade de uma transa cai em seu colo, ele se sente totalmente desconectado para fazer funcionar. Essa falta de conexão se estende para seu relacionamento com a família. Acima de tudo com sua mãe, que tenta desesperadamente se comunicar com ele.


Essa apatia do personagem se reflete nos aspectos técnicos da produção. Não apenas nas cores frias que retratam as ruas de Buenos Aires como locais monótonos e vagarosos, mas no próprio ritmo da narrativa, que infelizmente sofre um pouco com isso. É como se o filme quisesse que acompanhássemos David em seu aborrecimento e tédio. O que funcionaria, se ele fosse um protagonista um pouco mais carismático.



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