O Segredo do Rio (El Secreto del Río, México, 2024)

O Segredo do Rio, dirigida por Ernesto Contreras, e criada por Alberto Barrera, mergulha na atmosfera melancólica e inquietante de uma pequena cidade mexicana onde os segredos estão enterrados mais fundo do que o próprio rio. A série da Netflix mistura uma sensação de mistério sobrenatural com drama emocional e realista.

Em uma pequena vila em Oaxaca, dois garotos muito diferentes, Erik(Mauro Guzmán) e Manuel(Frida Sofia Cruz Salinas), estão passando o verão juntos. Eles são os dois amigos que se tornam as únicas testemunhas da morte inesperada da cena de abertura.

O segredo  torna a amizade deles inquebrável. É um segredo que eles devem manter para garantir sua própria segurança e sobrevivência. Apesar de ser uma cidade onde homens, mulheres e muxes vivem juntos, nem todos ficam muito felizes em ter pessoas "queer" por perto.

Muxes são pessoas que são designadas como homens ao nascer, mas se apresentam como mulheres. Esse "terceiro gênero" é um tema central na série, particularmente por meio do personagem Manuel, que eventualmente faz a transição para Sicarú. Conforme a atração avança, vemos como a autodescoberta é moldada por essa comunidade tradicional mexicana.

Mais tarde, há um salto temporal de 20 anos. Os dois agora são adultos e seus caminhos se cruzam novamente, mas suas diferenças são ainda maiores. Agora, eles são Erik (Diego Calva) e Sicarú (Trinidad González). Esta última agora é uma mulher. Seu grande segredo do passado e os problemas do presente serão o teste final dessa amizade.

Quando se encontram como adultos, Erik se depara com a realidade da transformação de Sicarú, e a série faz um bom trabalho em mostrar o quão complicada é essa reunião, não apenas por causa do segredo compartilhado, mas por causa das pessoas muito diferentes que eles se tornaram.

Além da questão das muxes, outro ponto forte é o foco na conexão emocional entre Erik e Sicarú. A amizade deles, nascida na infância e testada na vida adulta, é o coração da história. A série, de 8 episódios, sabiamente evita fazer do romance o tema central, focando em vez disso no vínculo.

A cinematografia, lembra o longa de Ernesto Contreras, Sonho em Outro Idioma, tratada com maestria por César Gutiérrez Miranda, que usa o rio como um motivo visual por toda parte, criando metáforas e uma sensação quase tátil de presságio.