Por Marco Gal
Falta emoção em "Alma do deserto", um registro árido sobre uma trans indígena e sua busca pela identidade.
Premiado com o "Queer Lion" no Festival de Veneza, o documentário "Alma do deserto" é uma coprodução entre Brasil e Colômbia e conta a história de Georgina Epiayu, uma idosa mulher trans, da comunidade Wayúu, que quer regularizar os documentos com seu nome social.
Essa é a segunda vez que a diretora Mónica Taboada-Tapia documenta a vida de Georgina (as duas trabalharam primeiro no curta "Two spirit"). No entanto, já ter uma familiaridade com a personagem e seu ambiente não evitou que "Alma do deserto" apresentasse um problema básico de história: faltar emoção.
A montagem é de Wil Domingos, editor dos longas "Vento seco", "Fogaréu" e do curta "Vigia", e ele enfrenta um desafio, pois retratar a luta burocrática de alguém que vive isolada em uma região desértica pede um certo ritmo de duração de cenas e isso às vezes pode ser entendido como falta de objetividade.
Porém, o problema maior vem no terço final de "Alma do deserto". Acontece uma tragédia na vida de Georgina e o filme a apresenta ao público em uma cena de fofoca entre vizinhos. Retratar desse jeito remove qualquer peso dramático do acontecimento, reduz a situação a nada e impede que o público sinta o mesmo que Georgina. O filme explora ao máximo o que acontece na vida dela, daí quando algo realmente importante acontece ele passa por cima, tratando quase como boataria?
Destaco as belíssimas imagens da Fotografia de Rafael González Granados e Tininiska Simpson.
Nenhum comentário:
Postar um comentário