sexta-feira, 16 de abril de 2021

Ainda há Tempo(Falling, Canadá, EUA, Reino Unido, 2020)


Viggo Mortensen sempre foi uma presença louvável no cinema, seja pela trilogia do Senhor dos Anéis, suas colaborações com David Cronenberg ou sua atuação formidável no ganhador do Oscar, Green Book. Agora ele escreve e dirige seu primeiro longa, um trabalho realmente valioso trazendo um olhar sombrio e amargo sobre o fim da jornada da demência.

O diretor transita em meio à dores de família, para contar a história de Willis, o ator veterano Lance Henriksen, que sofrendo de algum tipo de alzheimer precisa viajar com o filho Jonh(Mortensen) para Los Angeles, onde vive com o seu parceiro Eric(Terry Chan) e a filha Monica(Gabby Velis).


A atitude completamente homofóbica, misógina, racista e xenófoba, pois Eric é asiático, de Willis é desconcertante. A crueldade de suas frases são profundas, porém os personagens não estão permitidos a revidar pois o comportamento demencial é justificado.

Todo um passado flui sob este presente angustiante como uma corrente subterrânea: o das memórias de Willis - e as de John e Sarah, a irmã caçula. Sverrir Gudnason interpreta o jovem Willis, que nervoso e inseguro mostra que apesar de difícil como pessoa, nem sempre foi um monstro.


Hannah Gross interpreta Gwen, sua jovem esposa sensível, que chora com os LPs de Chopin; e Bracken Burns interpreta Jill, a mulher por quem ele deixa Gwen, uma madrasta cautelosa para as crianças ressentidas e desnorteadas.

Um dos grandes momentos do filme, é quando a irmã Sarah, em uma atuação forte de Laura Linney, almoça com sua família, enquanto o pai grita e rosna seus insultos e zombarias para os filhos, os netos e quem mais estiver por perto.

Ocasionalmente, há humor negro. O professor David Cronenberg tem uma participação especial como proctologista, que precisa fazer um exame retal no idoso, que faz todos os tipos de piadas de mau gosto sobre a sexualidade de seu filho.

No fim, Falling é uma história sobre família e a deterioração que uma fatalidade, como uma doença, pode trazer à tona. O longa é certamente pautado nas grandes atuações de Mortensen e Henriksen, que com toda sua arrogância rabugenta e autodestrutiva é puro autoritarismo. A sexualidade do protagonista acaba ficando em segundo plano, mas serve como ponte para momentos muito significativos de intolerância e homofobia. 


Um comentário:

  1. Bela descrição do filme e da tristeza da demência que se apresenta aqui de uma forma terrivel

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