terça-feira, 27 de abril de 2021

Fassbinder(Alemanha, 2015)

Rainer Werner Fassbinder teve uma das carreiras mais prolíficas de todos os tempos. Dirigindo mais de quarenta longas, telefilmes e curtas-metragens, bem como duas longas séries de TV, em apenas quinze anos, a produção cinematográfica de Fassbinder, onde também atuava em alguns filmes, é simplesmente alucinante. 

Investigando as motivações que levaram Fassbinder a tal excesso artístico e à sua morte por overdose aos 37 anos, a diretora Annekatrin Hendel, oferece um retrato biográfico abrangente repleto de clipes de filmes, imagens de arquivo e entrevistas com colaboradores, familiares, e diretores, como Wolf Gremm, com quem trabalhou, em seus últimos dias, como ator em Kamikaze.


Enquanto Fassbinder - que nasceu na Baviera em 1945 - é reconhecido como um dos mais importantes diretores alemães da era pós-guerra, ao lado de Win Wenders, o filme mostra que nem sempre foi assim. A exibição de seu longa-metragem de estreia, O Amor é mais frio que a morte, no Festival de Cinema de Berlim de 1969, mostra que o filme foi recebido com vaias e gritos do público e da crítica local.


Apesar da narrativa do documentário ser permeada por suas obras, o filme é um retrato do homem e não dos filmes, concentrando-se em como uma infância caótica mas feliz o transformou em um perfeccionista obsessivo que, em um recorde, dirigiu cinco longas em apenas cinco meses , enquanto afirmava dormir apenas três horas por noite.


Sua homossexualidade e suas paixões arrebatadoras e trágicas por seus atores, como El Heide ben Salem, astro de O Medo Devora a alma(1974), são descritas com detalhes por parte dos entrevistados, assim como sua personalidade difícil e o seu uso compulsivo de tabaco, álcool e cocaína. 



Com uma obra permeada por personagens marginalizados e de sexualidade ambígua a homossexualidade e a transexualidade só foram protagonistas mesmo em O Direito do mais forte é a liberdade(1975), Num ano de 13 luas(1978), As lágrimas amargas de Petra Von Kant(1972) e Querelle(1982).

Fassbinder acreditava que sua educação tumultuada, em que foi criado por uma mãe solteira, que aparece em diversos filmes,lhe deram força.  Sempre em busca de uma nova família, ele conseguiu criar a sua própria com o círculo de atores que ele escalaria repetidamente em seus filmes: Hanna Schygulla , Gunther Kaufmann, Ingrid Caven, Kurt Raab, Gottfried John, Irm Hermann e Harry Baer. A trupe do diretor dividia o mesmo teto e compartilhava ideias e conceitos.


O filme também utiliza de storyboards para fazer analogias com histórias de seu alter ego Franz, por exemplo, além de mostrar o processo de filmagens de As lágrimas amargas de Petra Von Kant, e sua escalação para dirigir a grandiosa série Berlin Alexanderplatz(1980), que a princípio causou dúvida nos executivos do canal devido a sua má reputação.


Rodando um filme atrás do outro, em 1982, mesmo ano de sua morte, Fassbinder enfim foi premiado com o Urso de Prata, no Festival de Berlim, por O Desespero de Veronika Voss(1982). Seu último filme, Querelle, no entanto, foi lançado postumamente. 


O documentário é um rico perfil temático e psicológico do gênio e de sua riquíssima obra. “Eu só pensava que existia quando estava trabalhando”, menciona. E no final das contas o longa revela como, e talvez por que, o grande autor acabou filmando até sua morte precoce, que marcou o fim de uma era para o cinema alemão.




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