A história central gira em torno de dois prisioneiros vizinhos, um maduro e solitário, o outro jovem e narcisista, e o policial ciumento que abre caminho entre eles. Os dois prisioneiros estão separados pela espessa parede de pedra, mas existem alguns meios de comunicação que são as imagens mais poderosas apresentadas no filme.
O ramo de flores que transita pela grade é uma imagem repetida ao longo do filme, de 26 minutos. O guarda, patrulhando o exterior da prisão, vê essa tentativa de união e se inspira no ato de percorrer as celas internas e espionar os presos.
O segundo ato de comunicação no filme é o canudo transportando a fumaça pela parede. O cigarro tem um papel interessante no mundo dos prisioneiros porque, embora sua função seja principalmente de confiança, sua imagem é de penetração e ejaculação, e seu conteúdo é simplesmente um reflexo.
O último ato remonta uma fantasia erótica onde o guarda, num momento abusivo, faz um dos prisioneiros colocar a arma na boca simulando sexo oral. O jovem, sozinho em sua cela, sabe que também está ocupando dois sonhos ao mesmo tempo. Este é o seu ato de poder.
Genet transformou a divisão da prisão em algo como uma mente onde sonhos e fantasias permanecem adormecidos até que algo da realidade os desperte. Canção de Amor apresenta um mundo interior, semelhante a algo da própria consciência, sendo acessado e interagindo com o exterior e apresentando um universo que futuramente seria abordado em obras como Querelle e O Beijo da mulher aranha.
Um dos primeiros filmes explicitamente gays, Canção de Amor é junto aos curtas de Kenetth Anger, como Fireworks(1947), um dos precursores da arte queer e mesmo sem falas, segue até hoje, devido a seu ponto de vista ousado e vanguardista, influenciando gerações de artistas.
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