segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Chavela(EUA/México, 2017)


Em 17 de abril de 1919, na Costa Rica nascia Isabel Vargas Lizano, que mais tarde se tornaria Chavela, a llorona. Masculina desde criança sofria com a repressão da sociedade e da igreja até que nos anos 1930,  partiu para o México, país que assumiu como pátria.

O documentário, de Catherine Gund e Daresha Kyil, narra a trajetória de Chavela através de um depoimento próprio captado em 1991, em meio à belíssimas canções que fazem parte da narrativa junto a lindas imagens de arquivo.


Chavela Vargas quebrava os padrões das cantoras de rancheira como Lucha Villa. No México conheceu o compositor José Alfredo Jiménez, com quem começou a trabalhar e gravar suas músicas que sintetizam a festividade mexicana com a alma ferida.

 

Vivendo num mundo de machos, Chavela virava noites em meio a garrafas de tequila e música. Construiu sua personalidade num mundo masculino onde todos, veladamente, sabiam sobre sua homossexualidade. A cantora abriu caminho para lésbicas, mas por sua condição nunca ocupava os grandes palcos da Cidade do México.


Convidada por um amigo acabou indo para Coyocán, onde conheceu Diego Rivera e Frida Kahlo. A relação das duas fica apenas subentendida com uma bela canção e fotos e vídeos raros que rendem uma bela celebração à arte das duas no longa.


Quando José Alfredo Jiménez morre e ouvimos a bela canção En el último trago, usada por Almodóvar e A flor do meu Segredo, a fama de bêbada de Chavela começa a se espalhar. Não é mais chamada para shows e fica anos no ostracismo, sem receber o dinheiro de seus discos.O povo acredita inclusive que, devido ao sumiço, ela tenha morrido.


Em setembro de 1988, em Tepeztlán começou um relacionamento com a advogada a quem chamava de Nina. A namorada define a relação como uma experiência vital que transcendia o que quer que fosse.


Mas enquanto o alcoolismo só piorava, Nina lhe dá um ultimato. Chavela procura pelo misticismo, mas graças ao amor por Nina e seu filho pequeno consegue deixar de beber e as portas voltam a se abrir para ela.


Seu retorno aos palcos foi marcado no El Habito Cabaret, e foi um estrondoso sucesso, onde Chavela cantou por mais de 1h chorando. As donas do bar dão um importante depoimento em diversos momentos do filme.


Quando rompe sua relação com Nina, ouvimos Luz de Luna, clássico que é tocado em Kika de Pedro Almodóvar, artista esse que logo se tornaria seu amigo íntimo quando ela se muda para Madri em 1992. O próprio Almodóvar aparece lhe apresentando no El Caracol.

 

Almodóvar, de que se tornou amiga próxima, também fala sobre a influência da música dela nas cenas de seus filmes como Kika, A flor do meu segredo, De Salto Alto e postumamente Dor e Glória. O diretor espanhol a define como uma sacerdotisa.


Na Espanha, Chavela viveu anos muito felizes, fez várias amizades e finalmente assumiu com orgulho ser homossexual. No México, não há lésbica que não a celebre por ter aberto muitos caminhos para a comunidade LGBTQIA+.


Almodóvar a levou ao Olympia em Paris divulgando o show boca a boca. O concerto lotou e de lá ela iria para o Bellas Artes na Cidade do México, lugar onde sempre sonhou cantar, mas onde nunca tinha tido uma oportunidade.


Vinte anos de êxito se passaram. Em 2012 Chavela já tinha problemas de mobilidade e andava da cadeira de rodas, mesmo assim voltou até a Espanha para realizar seu último show e regressar ao México, onde faleceu em 7 de agosto daquele ano.


Simplesmente belíssimo, emocionante e sensível, o filme é uma homenagem a um ícone da cultura LGBTQIA+ latino-americana. Uma aula sobre viver intensamente e construir um legado ao lado de pessoas como Frida Kahlo e Pedro Almodóvar, por exemplo.


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