sábado, 31 de outubro de 2020

The Rocky Horror Picture Show(EUA, 1975)



Apesar dos antigos musicais serem muitas vezes feitos para alcançar o público homossexual, com divas como Judy Garland, Julie Andrews e Doris Day, foi em 1975, que The Rocky Horror Picture Show fez história, trazendo uma trama feita exclusiva para essa plateia. Embora a crítica especializada torcesse o nariz, o filme foi um fenômeno entre as sessões da meia-noite.

Dirigido por Jim Sharman, o filme é uma adaptação do espetáculo musical, Off Broadway escrito por Richard O Bien, e levado aos palcos em 1973. No longa ele misturou astros em ascensão ao elenco da peça. O mote principal de The Rocky Horror Picture Show é ser uma sátira dos filmes de terror, por isso há muitas referências à mansões mal assombradas, cientistas loucos e Frankestein ,por exemplol

Logo na abertura uma boca vermelha canta uma música apresentando a história que está por vir, divaga sobre vários personagens de filmes B,  enquanto passam os créditos iniciais. Em seguida somos apresentados aos noivos interpretados por Susan Sarandon e Barry Bastwick, que em uma festa de casamento irão apresentar o primeiro número musical e já dar o tom do filme.


Quando o casal fica preso numa tempestade, acaba encontrando a mansão dos horrores e personagens bizarros, como a empregada Magenta. A narrativa é toda construída por diferentes musicais com muita dança, pinta e figurinos, que misturam erotismo e terror. A chegada do Dr. Furter, interpretado por Tim Curry, é triunfal. Ele entra cantando Transex Transylvania, música que anos mais tarde se tornaria um hino.




O filme foi filmado no Reino Unido, no Bray Studios e utiliza parte do acervo da lendária produtora de filmes de terror, Hammer, em sua ambientação, que é realmente impecável aliada à uma iluminação teatral escandalosa e ousada direção de arte.


Com a chegada do cientista louco, que é na verdade um travesti alienígena, os rumos do filme vão ficando cada vez mais absurdos. Ele cria um homem de sunga dourada a quem chama de Rocky, que acaba se tornando objeto de desejo. Essa criatura, faz lembrar Pygar, personagem de Barbarella, filme de anos antes.


Com uma estética única, o filme vai crescendo pouco a pouco, a ponto de atingir uma catarse queer. Clássico absoluto que homenageia ícones de terror, enquanto faz uma própria leitura ácida e irônica sobre homossexualidade.  Os figurinos, com meias arrastão e espartilhos passaram a ser usados pela comunidade queer, que hoje tem The Rocky Horror Picture Show como referência de sua cultura. A obra musical é uma verdadeira celebração LGBTQIA+.


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Party Monster(EUA, 2003)


Money! Success! Fame! Glamour! Em 1998, Fenton Bailey e Randy Barbato realizaram o documentário, onde contaram a história de Michael Allig, uma personalidade da noite nova yorkina detido por assassinar o seu traficante, Angel. Anos depois, a dupla realizou o longa produzido pela World of Wonder, a mesma que hoje é responsável por RuPaul’s Drag Race.


O filme marcou o retorno triunfal de Macaulay Culkin, em um papel que parece que foi feito para ele. Culkin interpreta Allig, um jovem que veio do interior para Nova York, onde produz festas sempre acompanhado do parceiro James St James, interpretado por Seth Green.


Cheirando cocaína no café da manhã, Michael conta para James como matou Angel. Somos transpostos então à Nova York dos club-kids, clubbers que sempre muito montados faziam parte da cena da música eletrônica.


Com uma trilha icônica, somos apresentados à verdadeiros personagens da noite nova yorkina, com o DJ Keoki com quem Allig se envolve, e Peter Gatien, dono da lendária boate Limehouse, interpretado por Dylan Mc Dormett, da série American Horror Story.


Em meio à muita droga, montação e música eletrônica, o filme nos oferece momentos realmente muito divertidos, como as cenas com a drag queen Christina, interpretada por Marilyn Manson ou quando os club kids vão à um programa de TV, apresentados ao som de SuperModel of the World, da RuPaul, com a participação especial de Amanda Lepore.


Como os caminhos levados pela droga são sempre tortuosos, Michael Allig começa a decair, apesar de conhecer novos amigos como Gitsie, da sempre alternativa Cloé Sevigny. Ele está constantemente sendo cobrado pelo traficante Angel, seu fornecedor de Special K, a droga favorita feita à base de um tranquilizante para cavalos.


O início do fim começa quando o personagem vai parar no hospital por conta de uma overdose, desde então intensifica o uso, até que numa nóia fortíssima acaba matando Angel. Em uma visão, um rato é quem conta para James como tudo realmente aconteceu.


Quando ele decide ir pra Rehab junto de Gitsie já é tarde demais, Michael Allig acaba detido por assassinato. O filme termina com James St James lançando um livro, e dando uma entrevista sobre a experiência com Michael Allig. O club kid é uma personagem na noite nova yorkina até hoje. O promoter cumpriu pena até 2014, e depois acabou vários vezes envolvidos com a justiça por problemas com drogas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Monster: Desejo Assassino(Monster, EUA, 2003)

Filme de estreia de Patty Jenkins, diretora que anos mais tarde dirigiria Mulher Maravilha, Monster: Desejo Assassino é baseado em fatos reais, onde Charlize Theron se despiu totalmente de sua beleza para interpretar Aileen, uma serial-killer, que lhe garantiu o Oscar de Melhor Atriz, em 2004.


Em um bar Aileen conhece Selby, personagem da sempre ótima Christina Ricci, e apesar de garantir que não é lésbica, começa quase que imediatamente um relacionamento com a jovem, enquanto troca confidências,  patinam, dançam e se beijam com paixão.


Prostituta, Aileen acaba matando um de seus clientes que a iria violentar. Depois disso os assassinatos acabam se tornando rotina, ele prefere matar a transar, e transformam a protagonista num verdadeiro monstro.


Aileen e Selby fogem juntas, a amante está ciente de um crime, mas fica horrorizada ao se ver envolvida nos demais. Aileen não encontra trabalho em lugar nenhum e segue se prostituindo e matando para manter ela e Selby.


Com uma trilha sonora sensacional, o filme humaniza a personagem principal que na vida real foi para o corredor da morte, em 2002. Quando a loira mata, por acidente, um policial, Aileen e Selby se veem procuradas por todas as mortes cometidas.


Apesar de uma personalidade impiedosa, doentia e violenta, Aileen encontra em Selby um refúgio, o que faz que o filme, além de uma história real sobre uma assassina seja também uma história de amor.


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

13 FILMES DE TERROR LGBTQIA+ PARA ASSISTIR NO HALLOWEEN

Vestida para matar(Dressed to Kill, EUA, 1980)


Clássico de Brian de Palma, o filme fala sobre um  terapeuta de Manhattan, vivido por Michael Caine, que enfrenta o momento mais aterrorizante de sua vida, quando um assassino psicopata começa a atacar as mulheres de sua vida - usando uma navalha roubada de seu escritório. Envolvido em um mundo de escusos e perturbadores desejos, o terapeuta é na verdade o matador que se traveste para matar.


Festim Diabólico(Rope, EUA, 1948)

Dirigido por Alfred Hitchcock, em 1948, o filme não deixa explícito que a dupla de amigos psicopatas é na verdade um casal. Caçadores de aventuras, eles estrangulam um colega de classe e guardam o corpo em um baú que servirá de mesa para um jantar oferecido por eles. Será que algum dos convidados irá desconfiar desse plano maligno?


Thelma(Noruega, 2017)


O filme fala de uma jovem tímida que acaba de deixar a casa dos pais para estudar em Oslo, onde vive seu primeiro amor e a descoberta de sua sexualidade. Pressionada pelos pais e pela religião, Thelma começa a sofrer efeitos estranhos causando resultados paranormais. O filme, do diretor Joachim Trior, constrói toda uma relação metafórica entre a paranormalidade e a sexualidade da protagonista.


The Perfection(EUA, 2019)


Uma insana história, sobre uma violinista promissora que teve que abandonar a carreira e acaba reencontrando seu antigo mestre junto a mais nova promessa do violino . Não dá para revelar muito da história, dirigida por Richard Shepard, para não estragar a surpresa, mas é um terror cheio de sexualidade, arte e loucura, com um plot twist realmente perturbador. Disponível na Netflix.


Vampiros Lesbos(Vampyros Lesbos, Alemanha, 1971)


Esse é um pseudo filme de arte, mas que na verdade é uma obra erótica feita para satisfazer desejos masculinos. Vendido como a versão lésbica de Drácula, de Bram Stoker, o longa conta a história da Condessa Oskudar, que atrai vítimas para uma ilha remota, mas comete o erro de se apaixonar por sua última presa, a bela Linda Westinghouse. 


O que nos mantém vivos(What keeps you alive, Canadá, 2018)

Um casal de mulheres que está completando um ano de relacionamento começa, a devido efeitos inesperados se virarem uma contra outra. As duas entram então num violento embate, desejando uma, a morte da outra. Um filme muito bom, que é basicamente sustentado pela interpretação das duas atrizes. Dirigido por Colin Minihal.




Alta Tensão(Haute Tension, França, 2003)


Considerado um dos primeiros filmes do movimento new french extremity, com filmes de terror cada vez mais violentos, o filme de Alexandre Aja conta sobre Marie e Alexia, amigas e companheiras na universidade. Num final de semana, Alexia leva Marie para a fazenda de seus pais, mas elas não imaginam que por trás de um romance secreto um inferno baterá a sua porta, e que a ida até a fazenda trará consequências drásticas e sombrias.


Faca no Coração(Un Conteau Dans le Coeur, França, 2018)8

Com um visual fetichista e sadomasoquista neon, o longa é estrelado pela famosa Vanessa Paradis, que interpreta Anne, uma diretora lésbica de pornôs gays, nos anos 1970. Enquanto está tendo um relacionamento conturbado com a parceira Lois, e rodando um novo filme, crimes assustadores acabam acontecendo com todos os membros da equipe. Com um serial killer à solta, o longa faz uma homenagem ao gênero italiano Giallo. Do diretor Yann Gonzalez. 


A Pele que Habito(La piel que habito, Espanha, 2011)



O colorido e sentimental Almodóvar fazendo uma obra de terror? Quem diria. Mas A Pele que habito mostra que o diretor consegue ser obscuro e transitar por gêneros. Ao adaptar o romance Tarântula, de Thierry Jonquet, ele criou seu próprio O Médico e o Monstro, protagonizado com excelência por Antonio Banderas. Elena Anaya interpreta uma misteriosa mulher, responsável pelo terror psicológico, físico e o plot twist chocante.


L.A. Zombie(EUA, 2010)



Sexo explícito. Orgias monstruosas. Sangue. Tripas. Bruce la Bruce sempre causando em seus filmes. Em L.A. Zombie, o astro pornô François Sagat interpreta um esquizofrênico que pensa ser um alienígena zumbi enviado a terra. Ele perambula pelas ruas de Los Angeles procurando por cadáveres, e descobre que pode trazer os mortos de volta à vida através de sexo. 


Hellbent(EUA, 2004)


Há um assassino mascarado solto na West Hollywood, caçando jovens gays. Em meio a uma grande festa de Halloween, quatro amigos precisam sobreviver antes que a noite termine. Uma divertida sátira aos clássicos de slasher, com todos os estereótipos porém em suas versões gays e muitas referências à filmes de terror. Ainda assim, o assassino, que pode parecer não ter motivação, na verdade representa toda a homofobia sofrida pela comunidade queer.

Glen ou Glenda(Glen or Glenda?, EUA, 1953)



Ed Wood, “o pior diretor de mundo” realizou em 1953, um filme sobre mudança de sexo. Numa época em que ser homossexual era doença é lógico que falar sobre um tema como esses seria tabu. Para criar uma atmosfera de terror, o diretor chamou Bela Lugosi, o eterno Drácula, para narrar a história, além de dois psiquiatras, cheios de opiniões equivocadas. O filme foi protagonizado pelo próprio Wood e marcou sua estreia como diretor de filmes B.


Um musical para os gays chamarem de seu. Em 1975, Rocky Horror Picture Show causou alvoroço pela conteúdo altamente queer e acabou se tornando sucesso nas sessões de meia noite. O filme, que é uma sátira dos filmes de terror e sci-fi, têm o pacote completo de referências, com mansão assombrada, cientista louco, alienígenas, experiências e é claro, números icônicos como Transex Transylvania, imortalizada pelo ator Tim Curry. Em 2016, uma nova versao do filme foi realizada com Laverney Cox, mas sem obter êxito ou impacto.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Hellbent(EUA, 2004)



Junte todos os elementos que formam um filme de slasher, o típico assassino mascarado e adicione boas doses de sexo, troque os adolescentes por jovens gays e você terá Hellbent, um terror gay que parece ter sido feito para ocupar esse nicho, até então pouco explorado.


Logo na cena de abertura temos a clássica cena do sexo no carro, com dois gays sendo mortos impiedosamente e tendo suas cabeças arrancadas. Começa então uma história de perseguição e morte.


É Halloween, e todos estão preparados para exibir suas fantasias. Queers fantasiados, abóboras e doces ou travessuras. Tobey chama a atenção por estar em drag, linda por sinal. Eddie vai de policial e ainda temos Chaz e Joseph.


Os quatro amigos partem para um festival de Halloween, onde o sexo rola solto. No caminho, no entanto são parados por um diabão, um assassino numa figura um tanto fetichista, é ele quem os perseguirá e matará um a um.


Expondo todas as fantasias do coletivo gay, como cowboy, o motorista, o bombeiro, o filme tem um visual  rock’n roll. Vemos um desfile de corpos e um clima bastante sedutor até que o slasher comece a atacar.


O filme de Paul Etheredge peca por não revelar as motivações do assassino, talvez por pura homofobia, mas um final a la Scooby Doo seria mais divertido. Mesmo assim, o longa traz todos os clichês do terror, com perseguição, sangue, tripas e até mesmo um espaço para romance.


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Glen ou Glenda?(Glen or Glenda?, EUA, 1953)



Considerado por muitos o pior diretor de todos os tempos, Ed Wood , foi homenageado por Tim Burton no longa protagonizado por Johnny Depp. Em seu primeiro filme, no início dos anos 1950, ele foi pioneiro em tratar o tema da mudança de sexo.


Com um clima de terror marcado tanto pela trilha sonora como pela participação de Bela Lugosi, o eterno Drácula, na narração, o filme trata da transexualidade, termo que ainda não era usado na época. Naquela década era considerado um sério distúrbio.


O próprio Ed Wood, protagoniza o filme vivendo um heterossexual que gostava de se travestir se transformar em Glenda, só assim se sentia realizado, ao mesmo tempo que vivia o dilema de contar para a noiva Bárbara sobre sua condição.


Uma conversa entre dois psiquiatras narra a história de Glenda e outros ‘travestidos’ que sofriam cometendo o suicídio ou que tinham seu próprio final feliz, realizando a tão sonhada mudança de sexo. Nesse aspecto o filme traz um ponto otimista para homossexuais afirmando que finais felizes são sim, possíveis.


Antes de personagens ‘travestidos’ serem tratados como alívio cômico em obras como Quanto mais quente melhor, de 1959. Ed Wood, por incrível que pareça, trazia seriedade para um tema até então desconhecido e pouco explorado.


Contemplando vitrines e tecidos, Glenda expressa seus desejos de ser mulher, enquanto uma série de analogias são feitas para mostrar que a homossexualidade poderia se tratar de algo totalmente normal.


O filme, mesmo Trash, toca em temas como tolerância e aceitação. Atormentado pelo próprio Diabo, Glen sê vê assombrado e transtornado se obrigando a revelar sua condição para a noiva que acaba o aceitando.


Mesmo equivocado, Glen ou Glenda é um marco por ser o primeiro filme a tratar sobre mudança de sexo, ainda que tudo não precisasse ser didaticamente explicado por uma dupla de psiquiatras. Anos mais tarde a dualidade de Glen/Glenda foi satirizada na comédia de terror O Filho de Chucky.


domingo, 25 de outubro de 2020

Alice Júnior(Brasil, 2019)


Na Praia, de Boa Viagem, no Recife, vive a adolescente trans Alice Junior, interpretada por Anne Celestino Mota. Ela é bem aceita pelo pai e mantém um canal No Youtube onde dá dicas e tira dúvidas de como é ser uma adolescente transgênero.


Com uma linguagem jovem, estética de internet, o filme poderia muito bem ser mais uma obra adolescente ao estilo John Huges, ou séries como Control Z e Sex Education, se a protagonista não fosse uma trans, ainda inexperiente que sonha em beijar e usa a rede para trocar experiências.


Dirigido por Gil Baroni e rodado em Curitiba, o filme transmite uma mensagem de positividade à outras jovens trans que estão em processo de transição. É curioso, que no início do filme a Internet é tão valorizada que são usadas uma infinidade de memes da cantora Gretchen, quase como parte da narrativa, além de emotions que pipocam na tela.


Quando precisa se mudar para uma pequena cidade no sul do país, Alice se prepara para o pior. Ao som de Cheguei, da Ludmilla ela adentra à nova escola e causa sensação e dúvida entre os outros alunos. A diretora, conservadora, insiste em chamá-la e tratá-la por Jean Genet Junior, seu nome de batismo.


Mas na cidade, Alice também acaba encontrando amigos, Taísa, Bruno e Vivi, e abre um debate sobre identidade de gênero, empoderamento feminino e sororidade. Em determinado momento ela até usa o bordão de Luana Muniz “tá pensando que travesti é bagunça?”.


A transfobia sofrida por Alice é apenas pincelada no filme, já que este está mais para uma Sessão da Tarde, e ela é muito bem aceita por sua família. Mas o mais importante é que ela traz representatividade e visibilidade trans para a adolescência. Em uma homenagem do diretor, a outro longa, Alice tem um pôster do filme Tangerina no quarto.


Despretensioso ao dialogar com o jovem, o filme coloca a questão trans com muita naturalidade em pauta. Ao som de artistas queers da atualidade como Glória Groove, Pabllo Vittar e MC Xuxu e um plot no final, Alice Júnior mostra que sua história e experiências, como a milhares de outras adolescentes trans deve ser contada.