terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Mato Seco em Chamas(Portugal/Brasil, 2022)

A ascensão da mistura de direita de nacionalismo populista e autoritarismo hiperbólico do desgoverno  impronunciável, que dominou o Brasil, desde 2018 até recentemente, tornou a vida cada vez mais difícil para quem se encontra em um grupo minoritário no Brasil.

Na Favela de Sol Nascente, na Ceilândia, DF, Chitara (Joana Darc Furtado) lidera um bando de ‘gasolineiras’ que roubam petróleo dos canos subterrâneos para ganhar a vida. Elas têm um acordo para vender isso para 'motoboys', que fornecem proteção e segurança na favela. Muitas vezes, diante de um policiamento cada vez mais violento e demonstrativo. A história é contada pela perspectiva de sua irmã Léa (Léa Alves da Silva), uma ex-presidiária que tenta se enquadrar.


Mato Seco em Chamas une os mundos ficcional e factual para criar uma experiência que permanece em algum lugar no meio. O filme de Joana Pimenta e Adirley Queirós é uma crítica contundente do Brasil moderno e um retrato vibrante da subclasse em rápido crescimento.


Ele funde uma consciência política feroz com uma forma cinematográfica ousada de forma tão poderosa. Só que Joana Darc Furtado, a lendária Chitara, que desenhou um sistema de perfuração improvisado, com bombas velhas para roubar petróleo de um oleoduto subterrâneo, é uma pessoa real, histórica , por mais fantástica que sua história de vida possa parecer.


O longa aborda com sucesso as duas questões mais urgentes do cenário midiático contemporâneo, a falta de credibilidade dos grandes meios de comunicação e a necessidade de fazer com que as vozes daqueles que não têm poder sejam ouvidas.

Chitara e sua quadrilha tinham objetivos políticos diretos, fundaram o PPP, Partido Popular Prisioneiro, e o programa simples, apresentado pela candidata, sua colega Andreia Vieira, que pretendia acabar com o toque de recolher e introduzir serviços básicos como esgoto, escolas comunitárias e linhas de ônibus oferece um vislumbre da miséria da vida nas favelas. Por outro lado, é claro, existem os apoiadores de Bolsonaro que declaram que Lula está morto em seus comícios.


Os diretores criaram uma narrativa notavelmente fluída composta de testemunhos sinceros e alegorias poderosas. As longas passagens em que a protagonista do filme ganha espaço para se expressar livremente com palavras e gestos corporais. E reconstruções hábeis de eventos passados.

Tudo é unido pela música, do brega atrevido da Banda Muleka 100 Calcinha ao rap do DF Faroeste. A música desempenha um papel particular em Mato Seco em Chamas. As canções são sobre sentimentos e sonhos, desolação e esperança. Uma situação desesperadora onde não há nada além de chão seco, mas ainda assim fogo, isto é, paixão, desejo de uma vida nova e melhor.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

REPRESENTATIVIDADE LGBTQIA+ NO OSCAR 2023

Dia 12 de março conheceremos os vencedores da 95ª edição do Oscar. E se no ano passado, a cerimônia foi morna, com destaque no babado e confusão, nesse, ao menos, a escolha dos filmes parece muito mais inclusiva, apurada e com narrativas LGBTQIA+ transbordando em seus principais indicados.

Após vencer um Oscar, com o importante Moonlight, em 2017, a A24, teve um hiato em produções voltadas ao público LGBTQIA+, pausa essa que foi quebrada em 2022, com diversas narrativas queer. O amado estúdio é recordista de indicações neste ano de 2023.

Com Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o filme mais indicado do ano, os Daniels criaram um conto de aceitação familiar em forma de saga. Concorrendo a 11 prêmios, e grande favorito o longa segue Michelle Yeoh como Evelyn, uma imigrante chinesa cuja infelicidade com a forma como sua vida acabou em um efeito cascata sobre as pessoas mais próximas a ela.  Sua filha Joy(Stephanie Hsu), abertamente gay, traz sua namorada para casa na esperança de se assumir para seu avô Gong Gong (James Hong), mas Evelyn abafa o caso.


Tár, de Todd Field, marca a oitava indicação de Cate Blanchett ao Oscar. No longa, que concorre em seis categorias incluindo Filme e Diretor, ela é a prestigiada maestra Lydia Tár. O tratamento do filme de políticas de identidade e questões de separação arte/artista, especialmente quando rejeitadas por uma mulher lésbica no auge de sua profissão, é apenas um aspecto da bravura do roteiro intransigentemente inteligente do filme e do retrato completamente visceral da atriz.



Calum, o personagem de Paul Mescal, indicado ao Oscar, não é homossexual, mas sua filha é. Embora a temática LGBTQIA+ não seja o ponto focal do filme, ela serve como um dos tantos elementos autobiográficos trazidos por sua diretora Charlotte Wells. O filme mescla impressões quase abstratas de um vínculo pai-filha não resolvido com uma observação social-realista afiada sobre britânicos no exterior. 


A Baleia(The Whale, EUA, 2022)

Darren Aronofsky extraiu o melhor do inesperado comeback triunfal de Brendan Fraser, em ‘A Baleia’, filme pelo qual está indicado a melhor ator. Na obra, baseada na peça de Samuel D. Hunter, o artista conhecido pela franquia A Múmia, tem a atuação se sua carreira como Charlie, um obeso mórbido, assombrado pelo passado e pela morte do parceiro. Hong Chau está indicada como atriz coadjuvante, e ainda Cabelo e Maquiagem.


Close(Bélgica/Países Baixos/França, 2022)


Indicado ao Oscar de Filme Internacional, Close, a pequena obra prima de Lukas Dhont, pode não ser o favorito, mas ocupa um importante lugar na lista. No premiado longa, o cineasta belga apresenta um drama sobre a adolescência, que evoca a homossexualidade e a rejeição



O controverso filme de Andrew Dominik, pode não ser LGBTQIA+, mas sua personagem principal Marylin Monroe, é sem dúvida um dos maiores ícones queer de todos os tempos. Indicada por sua interpretação, Ana de Armas incorpora uma semelhança quase fantasmagórica, saboreia plenamente sua fusão de Norma Jeane Mortenson e Marilyn Monroe, duas personagens que, embora residam no mesmo corpo, representam espectros diferentes. 


Glass Onion - Um Mistério Knives Out(Glass Onion: A Knives Out Mistery, EUA, 2022)

Indicado ao Oscar de Roteiro Adaptato, Glass Onion: Um Mistérios Knives Out, revela que Benoit Blanc, o detetive interpretado por Daniel Craig é gay, e muito bem casado com Hugh Grant. É uma cena rápida, mas reveladora. No entanto, quem rouba mesmo a cena do filme é Janelle Monae e sua intensa presença queer.


Lady Gaga e Rihanna também são indicadas ao Oscar

Divas POP, e amadas pelos gays, Lady Gaga recebe sua quarta indicação ao Oscar por Hold my Hand de Top Gun Maverick e Rihanna por Lift me Up, de Wakanda Forever. Já sabemos que haverá performances divônicas no palco do Teatro Dolby, em Los Angeles, e torcemos para que neste ano, o evento que será apresentado por Jimmy Kimmel, seja mais justo e menos esquecível.


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TRIÂNGULO DA TRISTEZA(TRIANGLE OF SADNESS, SUÉCIA/REINO UNIDO/FRANÇA, DINAMARCA, 2022)

sábado, 25 de fevereiro de 2023

So Vam(Austrália, 2021)

So Vam é um filme de estreia apaixonado de Alice Maio Mackay. Mackay, que tinha dezessete anos quando dirigiu o filme, é ela mesma uma garota transgênero. A convicção, aqui, nega essencialmente a inexperiência. Assim como seu protagonista, Mackay também está em uma jornada de aprendizado ascendente, armada com uma paixão por sua identidade e amor pelo cinema.

Kurt (Xai), um adolescente que aspira a se tornar uma drag queen, não tem vida fácil em um subúrbio australiano bastante conservador. Seu desejo tem sido fonte de abuso físico de pessoas que ele encontra diariamente. Embora não desamoroso, seu pai (Brendan Cooney) não é particularmente caloroso.

O único consolo de Kurt vem na forma de sua única amiga, Katie (Erin Paterson). Katie costuma proteger Kurt de abusos, principalmente na escola, de uma gangue de três garotas LGBTfóbicas que não perdem uma única oportunidade de atacar Kurt.


Em uma dessas noites desprotegidas, Kurt é atacado novamente. Desta vez por um vampiro predador e vingativo, Landon (Chris Asimos). O ataque cruel de Landon teria matado Kurt se não fosse pela chegada oportuna de April (Grace Hyland) e Harley (Ethan McErlean), duas vampiras 'jovens'. April e Harley não são como Landon. Elas não atacam humanos inocentes; em vez disso, elas atacam fanáticos e neonazistas - pessoas que intimidam os outros. 


Kurt, salvo por April e Harley, agora se torna um vampiro. Assim que o choque passa, Kurt começa a sair com o clã de April. Ele até conhece um cara por quem a atração é mútua. Andy (Tumelo Nthupi) é outro jovem vampiro e recente adição ao clã de April. Com esse novo sentimento de pertencimento, Kurt recupera sua antiga vida com confiança. Ele para de ser intimidado e começa a atacar.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Conte-me Sobre Você(Háblame de ti, México, 2022)


Chava (German Bracco) completou 17 anos, ele comemora com sua família, incluindo sua mãe, Laura (Arcelia Ramírez) e seu pai, Álvaro (Julio Bracho).Na escola ele tem um grupo de amigos que apostam em quem vai arrumar uma namorada primeiro, e parece que Chava está cada vez mais perto desse objetivo quando começa a receber mensagens anônimas, que ele acredita serem enviadas por Mariana (Isidora Vives), uma linda colega de classe. Ao mesmo tempo, ele se sente confuso por uma atração por seu parceiro de natação, Carlos (Martín Saracho).

Carlos e Chava começam a se encontrar e se unem para investigar quem é a autora das mensagens, que se autodenomina "Brujita" (Renata Vaca). Como diz o ditado, "quem procura, acha" e coincidentemente descobre que é a mesma menina que se corresponde com o pai, cujas ausências em casa despertam suspeitas. Ao descobrir a identidade dela, sua vida familiar mudará para sempre, contribuindo para o sentimento de inquietação que o acompanha permanentemente.


Eduardo Cortés escreve e dirige um filme que parece pessoal, levando seu protagonista por vários caminhos, explorando sua busca por identidade, amizade, amor, sexualidade e família. Há muita informação incluída, e parece que nem todas as situações apresentadas serão resolvidas, mas Cortés administra com eficiência.


Em relação ao elenco, German Bracco como Chava é sensível e comete muitos erros, mas provoca muita empatia. O peso do filme recai sobre ele e o ator é convincente. Ao descobrir se é gay ou não, sua família passa por um teste difícil, suas notas caem e ele briga com os amigos, levando a uma crise que ele lida com habilidade.


A construção do personagem Carlos é excelente; ele é o único seguro de si e que sabe que custou muito para chegar onde está, então não colocará em risco sua estabilidade emocional, por mais que se interesse por Chava. 


Háblame de Ti é tenro e felizmente não segue a narrativa de ‘novela mexicana’ que é sua maior conquista, inclusive se sai muito bem ao dialogar com uma geração de influencers e tik tokers que mantém o celular sempre à mão.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Swallowed(EUA, 2023)

Swallowed, de Carter Smith, é a história de Ben (Cooper Koch), um jovem gay que parte para Los Angeles para ter sucesso no pornô. Ele e seu amigo Dom (Jose Colon) estão passando a última noite juntos no bar da cidade quando Dom faz um desvio para ganhar algum dinheiro que deseja que Ben use para a grande mudança que se aproxima.

O que começa como um esboço de tráfico de drogas fica fora de controle depois que mais informações são reveladas sobre as substâncias, transformando uma noite em uma busca horrível e nojenta para sobreviver.


Swallowed retrata o tráfico de drogas como uma experiência de horror corporal depois de revelar as drogas que Dom e Ben estão passando - para Alice (Jena Malone) e seu chefe Rich ( Mark Patton) - vêm de insetos estranhos dentro dos preservativos que já ingeriram.

O ponto de destaque aqui vem de Ben estar a caminho de Los Angeles para fazer parte da indústria pornográfica. O vício em drogas, envolvendo o ‘fisting’ anal, trata-se da dicotomia entre consentimento e agressão, agravada pelo fato de Dom e Ben sempre terem uma pequena queda um pelo outro secretamente e nunca terem ficado juntos.

Fica muito mais violento quando o chefão das drogas Rich assume o controle, sexualizando o ato em oposição a Alice que, apesar de mantê-los sob a mira de uma arma , estava apenas os tratando como um subproduto infeliz de uma transação comercial. 


Também há algo interessante em Swallowed sobre as várias maneiras pelas quais as pessoas vendem seus corpos ao capitalismo, particularmente no que diz respeito à liberdade de escolha de locais de trabalho. O filme não julga fazer pornografia, desde que envolva escolha e consentimento.


O personagem de Rich, em contraste com Ben, representa a realidade de que mesmo as pessoas dentro das mesmas comunidades podem e irão explorar umas às outras por causa do dinheiro, sendo ambos gays.


Swallowed é um filme satírico e desconfortável sobre as coisas que ficam dentro de nós e como pode ser difícil tirá-las, seja a exploração do capitalismo, drogas ou uma compreensão ingênua do grande vasto mundo fora de nossas próprias bolhas individuais.


Há inevitavelmente algum humor, mas a consciência da ameaça que o protagonista enfrenta mantem a tensão alta de qualquer maneira, e fica claro que sua jornada foi realmente central. Ele é um jovem vulnerável aprendendo a assumir o controle das situações e fazer seu próprio caminho no mundo.


Uma história simples e bem contada, Swallowed compara e contrasta as várias maneiras pelas quais inúmeras pessoas comprometem sua integridade corporal por dinheiro. Com os eventos no início e no final de sua jornada fornecendo contexto, a história de Benjamin é sobre superação de dificuldades, desgosto e descoberta de quem ele é. 




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A Baleia(The Whale, EUA, 2022)

Darren Aronofsky apresenta em A Baleia, adaptação da peça homônima de Samuel D. Hunter, que também assina o roteiro, a vida de um obeso professor de literatura inglesa, Charlie (Brendan Fraser), agora incapaz de levantar e andar sem ajuda devido ao seu peso.

Charlie é apresentado quase imediatamente, em uma cena ultrajante que nos joga direto no fundo do poço: o herói se masturba em frente a um pornô gay e no final do processo tem um leve ataque cardíaco.


A figura do protagonista, em sua totalidade estética, é o tema central e, em parte metaforicamente, o título do filme. Após a morte de seu parceiro anos atrás, Charlie não parou de ganhar peso, punindo-se com seu luto e dor. A casa claustrofóbica é ao mesmo tempo uma alegoria de sua alma, que não conseguiu mais se libertar. Desde então trabalha sozinho, ministrando cursos online, nunca ligando a câmera.


No microcosmo representado pela casa de Charlie, dentro da qual ele agora luta até para se mover, Aronofsky apresenta uma após a outra uma série de figuras, a cuidadora Liz (Hong Chau), irmã de seu parceiro falecido, e o jovem missionário Thomas (Ty Simpkins) , que progressivamente vão se relacionando com o homem, entrando em contato direto com sua personalidade terna.


Brendan Fraser veste um imenso fat suit, um traje protético que transforma completamente o corpo de seu ator, mas esse detalhe nunca aparece como um limite e, ao contrário, parece estimular Fraser a dar o seu melhor, levando-o ao que de fato é a interpretação de sua carreira. 

Se há muito cuidado e empatia em explorar as razões por trás da obesidade de Charlie, principalmente em delinear o árduo processo de reencontro com a filha Ellie(Sadie Sink), o mesmo não se pode dizer do subtexto religioso. Temas como a percepção cristã da homossexualidade, a santificação do corpo e do espírito, as contradições das missões evangélicas são jogados em um grande caldeirão por Aronofsky.


Os principais pontos psicológicos do filme são os sentimentos que Charlie têm. Apesar dos esforços de sua amiga, Liz, ele recusa parcialmente a ajuda dela, e a ir para o hospital, pois acredita que não está mais salvo, psicológica e fisicamente, e que ninguém pode ajudá-lo, até que a filha Ellie(Sadie Sink), quem abandonou para viver seu romance homossexual, aparece.


A obra nos mostra em muitos lugares como a religião influenciou o parceiro de Charlie a cometer suicídio, mas também como levou o próprio Thomas a conclusões erradas, o que funciona como uma ferramenta para nos mostrar uma história de heresia e hipocrisia.


Aronofsky nos apresenta o problema do herói de forma contundente, tanto pelo roteiro quanto pela direção. O herói sabe onde está e o que está fazendo e vemos cenas em que ele come demais e come tudo o que encontra pela frente, apenas como uma ferramenta para cobrir seu vazio interior.


Referências repetidas à Bíblia e à Moby Dick garantem que o senso de alegoria permeie. Ambos são contos das tentativas de redenção da humanidade, o desejo avassalador de se livrar da carne ou livrar o mundo de um corpo que o assombra, trazendo camadas necessárias de complexidade para o filme.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Attachment(Natten har øjne, Dinamarca, 2022)

A estreia de Gabriel Bier Gislason é um terror inesperadamente encantador. Tendo se apaixonado depois de um adorável encontro, a ex-artista dinamarquesa Maja (Josephine Park) impulsivamente vai morar com a acadêmica judia Leah (Ellie Kendrick), que sofre de uma lesão misteriosa. 

O romance delas é supervisionado pela mãe ultraortodoxa de Leah, Chana (Sofie Gråbøl), que se preocupa com cada necessidade de Leah com uma insistência que beira a posse.


Esta é uma mulher que mantém uma tigela em seu apartamento que deveria afastar os demônios. Ela também insiste que Maja use um colar de ametista que traz boa sorte. Eventualmente, Maja está convencida de que Chana realmente não quer que Leah se cure e, em vez disso, quer matá-la. Enquanto isso, o cunhado de Chana, Lev(David Dencik), administra uma livraria judaica ortodoxa, que Maja visita para aprender mais sobre cultura, história e folclore judaicos.


O filme é uma história de amor bela com à espreita nas sombras. O folclore judaico, dos Dybbuks e todos os rituais intermediários, é muito bem explorado.  A obra de Gislason é um conto cativante enraizado no misticismo que também é um alerta sobre a codependência.




O ritmo do filme funciona muito bem. Gislason passa tempo suficiente desenvolvendo o relacionamento entre Maja e Leah, enquanto mostra o quanto Maja se apega desesperadamente ao relacionamento porque é realmente a única coisa que está indo bem em sua vida.


À medida que o longa avança, seu tom escurece em comparação com a história de amor inicial. Além disso, todas as atuações aqui são fortes, especialmente Park e Gråbøl, cujo personagem é envolto em mistério. Durante grande parte do tempo não está claro se Chana realmente tem más intenções ou não. 


A configuração do apartamento cria um cativante universo cinematográfico, por menor que seja. Há algo estranho e incomum acontecendo. Essas cenas internas na casa de Leah parecem claustrofóbicas, o que aumenta a possibilidade de que sua mãe não queira que ela vá embora e fará de tudo para mantê-la lá.


Attachment é uma alegoria bem escrita sobre codependência impregnada no folclore judaico. O que começa como uma história encantadora sobre um casal de lésbicas logo se transforma em um conto sinistro e poderoso. 


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

CINEMATOGRAFIA QUEER NO LETTERBOXD


Demorou, mas a página finalmente chegou na maior rede social sobre cinema da face da terra. Por enquanto o CINEMATOGRAFIA QUEER está em fase de adaptação por lá, mas graças a um querido colaborador, o Leandson., a página já existe, com todos os filmes cadastrados, alguns reviews, listas e tudo mais.

Segue a gente lá também? http://letterboxd.com/cinematoqueer

Infinity Pool(Canadá, 2023)


Infinity Pool, a mais recente produção do roteirista/diretor Brandon Cronenberg, explora a questão profundamente enraizada do que constitui a identidade. O filme apresenta um estilo único, chamado de 'tech noir' e levanta questões complexas que não faz questão de responder.

O filme gira em torno de um autor malsucedido, James Foster (Alexander Skarsgard), e sua rica esposa, Em (Cleopatra Coleman), que chegaram a um resort exclusivo para descansar e recarregar as energias. As rachaduras em seu relacionamento são visíveis desde o início e se tornam mais pronunciadas quando uma jovem e animada fã, Gabi (Mia Goth), se apega a James.


Depois que um acidente mata um pedestre, James é preso e tem a chance de executar um clone em seu lugar. Enquanto observa o desenrolar do procedimento, James percebe que o clone é um ser senciente que pode sentir medo, desespero e dor. Isso leva James a uma sociedade secreta de hóspedes do resort que passaram pela mesma experiência e se sentem fortalecidos por ela.


O elemento de terror em Infinity Pool é multifacetado e habilmente entrelaçado nos temas mais amplos de identidade do filme e nas consequências de brincar de Criador. A partir do momento em que James se vê preso em um ciclo interminável de vida e morte, o público é submetido a um constante estado de suspense e tensão. 


À medida que substâncias alucinógenas são trazidas para a história, Cronenberg cria imagens aterrorizantes, mas sedutoras, que combina visuais sexuais extremos, elementos de terror desconcertantes e apenas uma total inconsciência.


A fotografia, o som e os efeitos especiais do filme também desempenham um papel fundamental na intensificação do terror. Desde os cortes nítidos e bruscos que transmitem uma sensação de desorientação, até a atmosfera sobrenatural criada pelos cenários.


O clímax de Infinity Pool mostra James Foster confrontando a sociedade de convidados ricos que passaram pelo mesmo procedimento que ele e abraçando a depravação que vem com isso. À medida que James se aprofunda nas crenças distorcidas da sociedade, ele começa a questionar a moralidade de criar um ser senciente cujo único propósito é morrer. 


Mas o que há de queer aqui? A cultura BDSM está completamente enraizada em práticas homossexuais, assim como o chamado ‘pet play’. Os violentos fetiches que o filme explora de maneira mais drástica na personalidade de Gabi, incitam James a abraçar algo mais primitivo e dominante que ela acredita estar adormecido dentro dele. Ainda há também uma sequência de sexo lisérgico entre mulheres.  Brandon Cronenberg já havia trabalhado a fluidez de gênero em seu longa de estreia, ‘Possessor(2020)’.

Após ‘Pearl(2022)’ Mia Goth está novamente no modo psicopata, aproveitando ao máximo cada fala, cada gesto e banhando seu corpo nu em uma luz neon. Alexander Skarsgard também fornece o seu melhor, na pele de um homem que tem sua masculinidade posta a prova, quando é literalmente colocado numa coleira.


O final força o público a confrontar suas próprias crenças sobre a natureza da identidade e moralidade em uma sociedade onde riqueza e privilégio podem desculpar até mesmo o mais hediondo dos crimes. Infinity Pool combina efetivamente elementos de horror psicológico, ficção científica e crítica social para criar uma obra instigante e assustadora.


sábado, 18 de fevereiro de 2023

Velma(EUA, 2023)

Desde 1969, a Mystery Inc. se encarrega de desmascarar criminosos desonestos vestidos como espectros fantasmagóricos. A franquia Scooby-Doo gerou inúmeras adaptações de televisão e cinema nos últimos 54 anos, mas raramente mudou seu foco principal: Salsicha e Scooby.

Então, quando a narrativa de Velma Dinkley apresenta sua personagem aos telespectadores, muitos fãs do original podem se desagradar. Finalmente, alguém teve a brilhante ideia de promover uma série focada na verdadeira líder da Mystery Inc.


Velma é um spinoff voltado para adultos que também reformula sua equipe central com uma diversidade muito necessária. Mindy Kaling dá voz a Velma, agora filha de dois pais indianos, a mãe está desaparecida. E Salsicha (que agora atende por seu nome de nascimento, Norville), é um nerd dublado por Sam Richardson.


Velma pendurou sua gola rolê quando se trata de resolver mistérios. Sua mãe, Diya, desapareceu tentando fazer exatamente a mesma coisa anos antes, e Velma agora é assombrada por alucinações paralisantes toda vez que ela pensa em uma pista. Mas o assassinato de uma das garotas mais gostosas da Crystal Cove High School muda tudo isso, e a natureza curiosa de Velma é tentada mais uma vez.



Além disso, as desajeitadas detetives da polícia da cidade, uma dupla de voz incrivelmente engraçada de Wanda Sykes e Jane Lynch, na versão legendada, também são mães adotivas de Daphne (Constance Wu).

Como estrela de sua própria história, Velma finalmente consegue subir de posição. Ela tem Salsicha obcecado por ela, e Fred até olha para ela com afeto. Mas Velma está realmente interessada em sua melhor amiga de infância, Daphne, de quem ela se afastou quando Daphne ficou popular no colégio. 


Velma certamente não será para todos, e aqueles que já são avessos aos estilos de comédia que o cocriador e principal roteirista de Velma, Charlie Grandy, trabalhou não se sentirão confortável com seu humor ácido, desbocado e politicamente incorreto.


Mas, mais do que tudo, Velma é a prova das possibilidades que podem ser exploradas em uma das franquias mais populares de todos os tempos. Scooby-Doo sempre se concentrou em um grupo central de personagens extremamente fortes, e Velma é a melhor prova de que o próprio cão titular não precisa estar presente para um bom mistério.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

TOP 100 - 10 AO 01

O CINEMATOGRAFIA QUEER criou a coragem para eleger os 100 melhores filmes LGBTQIA+ de todos os tempos. E como a página é dona apenas de sua verdade é normal que a lista gere desacordo, afinal ela não é definitiva, é feita com base nos gostos pessoas de um único ADM, mas seria uma honra se servisse como impulso para que outras pessoas também elejam seus filmes favoritos. Antes de começar o trabalho, a única certeza era o primeiro lugar, e para que a lista criasse uma estrutura e títulos importantes fossem lembrados foi fundamental a ajuda do seguidor, colaborador e amigo da página Leandson. Então, obrigado a quem acompanhou essas duas semanas de posts incansáveis, para chegar até aqui: o TOP 10:

 10 - Canções de Amor(Les Chansons d'amour, França, 2008)


Christophe Honoré apresenta em Canções de Amor, uma atmosfera vaga e estimulante da boa e velha Nouvelle Vague, com referências à Godard e Truffaut, embalada por canções que evocam Sergé Gainsbourg e Jane Birkin. Ismaël (Louis Garrel) e sua namorada, Julie (Ludivine Sagnier) expandiram seu relacionamento, incluindo Alice(Clotilde Hesme), colega de trabalho do rapazl. As canções, escritas por Alex Beaupain, pertencem a uma linha do pop francês contemplativo e letrado com versos cheios de delicadas metáforas eróticas.  As melodias são encantadoras, e garantem ao filme um charme único em músicas como De bonnes raisons, La Bastille, Je N’aime que toii, As tu-deja aimé, e Au Parc, interpretada por Chiara Mastroianni, que conduzem a narrativa.


09 - Eduardo II(Edward II, Reino Unido, 1991)



Derek Jarman, costumava colocar sua ótica queer e anacronismos em clássicos que produzia, como fez em Caravaggio e em sua versão para Eduardo II, peça escrita por Christopher Marlowe, em 1593. A história é uma tragédia. Após a morte do pai, Eduardo II(Steve Waddington) larga a esposa, a Rainha Isabella, Tilda Swinton atuando pela segunda vez com o diretor, e começa a viver com o amado Pier Gaveston(Andrew Tiernan).

08 - Paris is Burning(EUA, 1990)


Premiado e antológico, o documentário, de Jennie Livingston, explora a cena dos Ballrooms de Nova York, na segunda metade dos anos 1980. Criada pela população LGBTQIA+ de origem afro-latina, essa subcultura é vista em todos os seus aspectos e reflexões, tendo como foco alguns personagens marcantes de uma cena que ainda vive. O filme apresenta o conceito de famílias, casas de acolhimento, geralmente comandada por uma mãe trans. Esse longa é um ícone entre a comunidade queer, tendo inspirado a ótima série Pose.



Durante vários meses, o cineasta João Pedro Rodrigues acompanhou os catadores de lixo de Lisboa, para que depois ele revelasse uma história sobre um deles que era inigualável em seu filme de estreia, O Fantasma. O  longa acompanha a odisseia noturna de um jovem lixeiro homossexual, suas imagens às vezes são cruas, mas são apenas a passagem necessária para chegar a outra dimensão, uma abstração que permeia a narrativa do longa.


06 - Uma mulher fantástica(Una mujer fantastica, Chile, 2017)


Vencedor do Oscar de Filme Internacional, o filme conta a história de Marina, a ótima Daniela Vega,  uma mulher trans. Quando seu parceiro, um homem de meia idade, morre, ela se vê diante da raiva e do preconceito da família dele. Ela luta por seu direito de sofrer - com a mesma energia ininterrupta que ela exibiu quando lutou para viver como uma mulher. O filme, abriu o caminho para que diversas produções LGBTQIA+ chilenas ganhassem luz.


05 - Felizes Juntos(Chun Gwong Cha Sit, Coréia do Sul/Hong Kong, 1997)



Inspirado na obra do dramaturgo Manuel Puig, Wong Kar Wai construiu uma relação arrebatadora entre os dois protagonistas que se odeiam e se amam, ao mesmo tempo que um terceiro personagem é inserido na história de Felizes Juntos, ambientado em Buenos Aires. Um roteiro sobre amores passionais com uma trilha repleta de tango e latinidades. Felizes Juntos é algo que o casal de protagonistas Fai(Tony Leung Chiu-Wai) e Po-Wing(Leslie Cheung) não parece ser.


04 - Madame Satã(Brasil, 2002)


Lázaro Ramos se lançou ao estrelato, fazendo com que sua atuação visceral em Madame Satã seja um de seus melhores personagens até hoje. A história de João Francisco dos Santos, que já havia inspirado o alegórico Rainha Diaba, em 1974, com Milton Gonçalves, é novamente base para um longa-metragem. Na obra de 2002, o então estreante Kairin Ainouz realiza um filme mais realista, cru e fidedigno.

03 - Plata Quemada(Argentina/Espanha/Uruguai, 2000)



Baseado em fatos reais, ocorridos nos anos 1960, narrados no livro de Ricardo Piglia, Plata Quemada do diretor argentino Marcelo Piñeyro, narra o arrebatador romance entre Angel(Eduardo Noriega)e Nene( Leonardo Sbaraglia). Após se conhecerem fazendo pegação em um banheiro público, os delinquentes se tornam inseparáveis, e ficam conhecidos no crime como Os Gêmeos. Com a quadrilha formada, o próximo passo é realizar um grande assalto e roubar 7 milhões de pesos.


02 - Querelle, um pacto com o Diabo(Querelle, Alemanha, 1982)


Uma explosão de hormônios. Marinheiros. Homens suados. Fetiches Homossexuais.  Assim é Querelle, último filme do gênio alemão Rainer Fassbinder, lançado meses após sua morte, aos 37 anos. Baseado na obra de Jean Genet, escrita em 1947, o filme possui um clima teatral e claustrofóbico, além de uma atmosfera homoerótica. A belíssima fotografia transmite um eterno pôr do sol destacado por formas fálicas, em torres ou pichações.



01 - Tudo sobre minha mãe(Todo sobre mi madre, Espanha, 1999)



No filme que deu o Oscar a Pedro Almodóvar, Esteban é um jovem de 17 anos que está escrevendo uma história. No dia do seu aniversário, a mãe ia lhe contar tudo sobre seu pai, desconhecido.  Mas um acidente impede que isso aconteça, e a mãe de Esteban decide partir atrás do pai de seu filho. Brilhantemente interpretada por Cecilia Roth, Manuela, encontra em Barcelona a trans Agrado, fundamental para a narrativa e protagonista de um monólogo icônico. Por lá Manuela cruza seu caminho com a atriz Huma Rojo(Marisa Paredes) e Rosa(Penélope Cruz), até finalmente encontrar Lola,  pai de Esteban. Obra Prima!


PARTE 1 - 100 AO 90
PARTE 2 - 89 AO 80
PARTE 3 - 79 AO 70

PARTE 4 - 69 AO 60

PARTE 5 - 59 AO 50 PARTE 6 - 49 AO 40

PARTE 7 - 39 AO 30

PARTE 8 - 29 AO 20

PARTE 9 - 19 AO 11