quarta-feira, 30 de junho de 2021

Morrer como um Homem (Portugal/França, 2009)

O longa do português João Pedro Rodrigues, de O Fantasma(2000) e O Ornitólogo(2016),  começa com uma cena de guerra que combina homossexualidade, surrealismo e violência - elementos que se repetem ao longo do filme. À primeira vista, esta sequência de abertura parece não ter qualquer ligação com a história principal, que diz respeito aos trabalhos de Tônia (Fernando Santos), uma artista transexual que atua numa boate de Lisboa. Mas no filme todos os elementos aparentemente díspares eventualmente se cruzam e se fundem em um todo satisfatório. 

Tônia está sendo pressionada pelo parceiro Rosário(Alexander David), um inconstante dependente químico, a fazer uma cirurgia de resignação sexual. Ela precisa lidar com a idade e a concorrência das drags mais novas da boate. Pra completar seu filho rabugento, Zé Maria(Chandra Malatich), um soldado, aparece para aumentar o estresse da protagonista.


É difícil entender a obsessão de Tônia com o desagradável Rosário. A primeira metade do filme também apresenta algumas cenas de sexo bastante explícitas que não serão problema para o público gay, mas que talvez afastem um público maior. 


Quando o filme está prestes a se esgotar, ele muda de direção inesperadamente. Tônia e Rosário partem do país para visitar o irmão dele, mas em vez disso acabam em uma floresta encantada presidida por outra transexual, a encantadora Maria (Gonçalo Ferreira de Almeida), que tem toda a confiança e equilíbrio que faltam em Tônia. Essas sequências são feitas em um estilo realista fantástico que fornece uma pausa idílica para os personagens. A cena ao som de Calvary, de Baby Dee, é como o mais surrealista dos sonhos.


De alguma forma, esta estada acalma e santifica Tônia e Rosário quando eles voltam a Lisboa e enfrentam uma inesperada crise de saúde. As sequências finais constroem em direção a uma redenção espiritual que é bastante comovente. O estilo frenético da primeira metade dá lugar a um clima mais lírico e restaurador que é reforçado pela cinematografia de Rui Pocas. Morrer como um homem é tão lindo e melancólico como um legítimo fado português.





terça-feira, 29 de junho de 2021

Longe do Paraíso(Far from Heaven, EUA/França, 2002)

Longe do Paraíso, de Todd Haynes, é como o melhor e mais corajoso filme de 1957. Seus temas, valores e estilo refletem fielmente os melodramas sociais da década, mas é mais ousado e diz em voz alta o que esses filmes apenas sugeriam. Tudo começa com uma família ideal no subúrbio de Connecticut. Um casal tão profundamente absorvido na cultura corporativa que são conhecidos como "Sr. e Sra. Magnatech". Em seguida, descobre-se que o Sr. Magnatech é gay, e a Sra. Magnatech acredita que o jardineiro negro é o homem mais bonito que ela já viu. 

Eles são os Whitakers, Cathy(Julianne Moore) e Frank (Dennis Quaid). Eles moram em uma casa perfeita de dois andares, onde as folhas de outono estão se transformando em ouro. Seu filho é repreendido por linguagem rude como "Que chato". Mona Lauder (Celia Weston), editora da sociedade local, está escrevendo um perfil sobre seu 'modelo de esposa ideal'.


Uma leve sombra obscurece o sol. Ao ser entrevistada por Celia, Cathy vê um homem negro estranho no quintal e sai para perguntar, muito educadamente, se ela pode "ajudá-lo". Ele se apresenta: Raymond Deagan (Dennis Haysbert), filho de seu jardineiro habitual, que faleceu. Cathy, que tem um bom coração, instintivamente estende a mão para tocar Raymond no ombro em simpatia, e dentro de casa o gesto é notado por Celia, que acrescenta ao seu perfil que Cathy é uma "amiga dos negros". 


Frank Whitaker é um daqueles caras grandes e bonitos que parecem um atleta universitário.  Uma noite, Cathy precisa buscá-lo na delegacia, em outro momento, nós o vemos entrando em um bar gay, onde naqueles dias, muito antes de Stonewall, os homens trocavam olhares furtivos e constrangidos como se estivessem surpresos de se encontrarem ali. 



Uma noite, Cathy , flagra Frank com outro homem no escritório. O filme reflete com precisão os valores dos anos 1950, quando Frank diz que sua homossexualidade o faz se sentir "desprezível".
O enredo avança e publicamente, começa a se espalhar a notícia de que Cathy foi "vista" com o jardineiro negro. A homossexualidade de Frank, é claro, permanece profundamente enterrada. 

Declaradamente inspirado no cinema de Douglas Sirk, principalmente All Thath Heaven Allows(1955), com Rock Hudson, o filme se beneficia enormemente da fotografia de Ed Lachman, que reproduz fielmente o exuberante estilo  dos anos 1950. Um detalhe é particularmente verdadeiro para a época: o amor inter-racial e o amor homossexual são tratados como estando em planos morais diferentes. 

O filme não acredita que Raymond e Cathy tenham um futuro plausível juntos e há um pesar agridoce, que é sempre percebido pela criada, interpretada por Viola Davis. Quando Frank conhece um jovem e se apaixona, no entanto, o caso não é enobrecido, mas tratado como uma questão de quartos de motel e reuniões furtivas. Haynes é perfeito aqui ao notar que a homossexualidade, na década de 1950, ainda não ousava ser pronunciada.


segunda-feira, 28 de junho de 2021

Manhãs de Setembro (Brasil, 2021)

Em Manhãs de Setembro, série da Amazon Prime, Liniker vive Cassandra, uma mulher trans que trabalha como entregadora de aplicativo, de moto pelas ruas de São Paulo, e à noite faz cover da cantora Vanusa, no bar Metamorfose, da amiga Roberta(Clodd Dias). Tudo parece estar indo bem na vida da personagem, que está em um relacionamento estável com Ivaldo, Tomas Aquino, de Bacurau(2019), a quem chama carinhosamente de Filezinho. Um dia porém Leide(Karine Teles), bate em sua porta e apresenta o filho, de 10 anos, Gersinho(Gustavo Coelho).

Há uma voz(Elisa Lucinda) na cabeça de Cassandra, supostamente de Vanusa, mas na verdade é sua traiçoeira consciência. A personagem reluta em aceitar a sua realidade, porém, com um enorme coração e senso de humanidade não tem como escapar: “Para de me chamar de pai”, diz ela, "Você é muito bonita pai" rebate Gersinho.


Impressionante e expressiva a série apresenta sem pudores ao público o pajubá: o dialeto gay. Expressões como ocó, aqué, aquendar, bafão, cagar no maiô, colocada, uó, edi, amapô e truque são destiladas pelos personagens ao longo de todos os episódios.


Quando Liniker solta sua poderosa voz, temos os momentos mais bonitos e comoventes da série. Além da canção título, Cassandra ainda interpreta Paralelas, e Como vai você, resgatando o legado musical de Vanusa, a quem a série é dedicada e volta e meia toca na vitrola. A trilha ainda conta com Linn da Quebrada e uma versão catártica de Sufoco, de Alcione, onde na festa dos implantes de Roberta há uma verdadeira celebração transgênero. A trilha original é composta por Gui e Rica Amabes.


O arco dos personagens inclui ainda o casal maduro formado por Gero Camilo e Paulo Miklos, Ari e Décio, o primeiro é ex-padre e o segundo o músico que acompanha Cassandra nos espetáculos. Em determinado momento, eles acabam abrigando Leide e Gersinho.



Há uma cena notável, onde Cassandra realizando uma entrega é tratada no masculino e se impõe no gênero feminino. Realista, a série com roteiro, de lice Marcone, Carla Meirelles, Marcelo Montenegro e Josefina Trotta, traz dilemas pertinentes e plausíveis, para uma personagem que só quer ser feliz enquanto fuma o seu cigarro na varanda.

Grazy(Isabela Ordoñez), filha de uma amiga prostituta da mãe de Gersinho, fala com a maior naturalidade ‘sobre fazer a pista’ e ‘ser tetuda’ ao conhecer Cassandra. Leide que trabalha como vendedora ambulante, a essas alturas está tentando encarar algum novo trambique. Ficamos sabendo que Ivaldo é casado, e que tem uma filha. É o personagem, no entanto, que tem uma conversa franca com Gersinho, sobre Cassandra ser uma mulher.


A música e o amor por Ivaldo, com quem tem uma intensa cena de sexo, parecem ser um sopro de felicidade diante dos dramas da protagonista. Mas a voz na cabeça de Cassandra insiste a conduzi-la por caminhos obscuros.


Linn da Quebrada, aparece como Pedrita, a outra artista do Metamorfose. Junto de Cassandra e Roberta, elas protagonizam um momento de afeto e de irmandade transgênero, algo com que pessoas LGBTQIA+ estão acostumadas: a formar suas próprias famílias.


Lindamente fotografada, a série, produzida pela O2 e dirigida por Luis Pinheiro e Daianara Toffoli , finalmente trouxe representatividade trans ao streaming numa obra nacional, com 5 episódios. E fez isso de forma sublime, homenageando um ícone da música brasileira, que percorre pela narrativa e nos leva a um iluminado gancho para uma nova temporada.


domingo, 27 de junho de 2021

TOP 10 FRANÇOIS OZON

Um dos principais realizadores franceses da atualidade, François Ozon, teve algumas aulas de atuação quando adolescente e rapidamente passou a dirigir. Mestre em cinema pela Paris I, onde teve aulas com Eric Rohmer, fez dezenas de filmes, paralelamente aos estudos, com a câmera super-8 de seu pai. Ingressando no departamento de produção da Fémis, nos anos 1990, fez um mestrado em Pialat e assinou vários curtas-metragens. É graças a eles, incluindo Um vestido de verão, uma visão desinibida da homossexualidade, premiado em Locarno e apresentado em Cannes, em 1996, que Ozon faria seu nome trazendo um frescor ao cinema francês. O obscuro média-metragem, Olhando para o Mar, de 1997, marcaria o início de sua parceria com a grande atriz francesa Charlotte Rampling. A estreia nos longas-metragens viria naquele mesmo ano com Sitcom, uma divertida e surrealista sátira à classe média. A partir do sucesso de Sob a Areia, de 2000, Ozon se torna um dos queridos dos cinéfilos e da crítica, realizando uma filmografia extensa e muito diversificada. Em suas obras o diretor trabalha constantemente temas como: sexualidade, amor e morte.


10 -Uma Nova Amiga(Une Nouvelle Amie, França, 2014)



Baseado no romance de Ruth Rendell, The New Girlfriend, François Ozon, realizou uma obra sobre um tema pouco explorado na sétima arte, o crosdressing. Uma Nova Amiga, traz Romain Duris, de O Albergue Espanhol como David, um jovem recém viúvo, pai de um bebê e que é flagrado pela melhor amiga da esposa, Claire(Anaïs Demoustier), vestido de mulher. A partir de então começa uma inusitada amizade e o diretor toca no tema da identidade de gênero X orientação sexual.


09 - Sitcom - Nossa Linda Família(Sitcom, França,1997)



Inspirado pelo clássico Teorema, de Pier Paolo Pasollini, o primeiro longa de François Ozon, acompanha uma família burguesa tradicional, que inclui um pai engenheiro, uma mãe que se divide entre a ginástica e as sessões de psicoterapia, um filho que estuda Direito e uma filha artista, além de uma amalucada empregada espanhola. Todos tem sua rotina mudada de vez com a chegada de um novo inquilino: um rato. Uma deliciosa comédia satírica que marcaria um estilo muito particular na obra do diretor.


08 - Swimming Pool - À beira da piscina(Swimming Pool, França/Reino Unido, 2003)



Sarah Morton (Charlotte Rampling) é uma escritora inglesa cujos romances policiais conciliam sucesso de vendas e prestígio junto a crítica. A convite de seu editor, ela viaja para a casa de campo dele, na Provence francesa, onde supostamente vai encontrar a tranqüilidade necessária para escrever seu mais novo livro. Mas a paz de Sarah é interrompida com a chegada de Julie (Ludivine Sagnier), a filha do editor, uma adolescente linda e cheia de vida por quem a escritora sentirá uma grande e estranha atração.


07 - Graças a Deus(Grâce à Dieu, França, 2019)



Um dia, Alexandre (Melvil Poupaud) toma coragem para escrever uma carta à Igreja Católica, revelando um segredo: quando era criança, foi abusado sexualmente pelo padre Preynat (Bernard Verley). Os psicólogos da Igreja tentam ajudar, mas não conseguem ocultar o fato de que o criminoso jamais foi afastado do cargo, pelo contrário: ele continua atuando junto às crianças. Alexandre toma coragem e publica a sua carta, o que logo faz aparecerem muitas outras denúncias de abuso, feitas pelo mesmo padre, além da conivência do cardeal Barbarin (François Marthouret), que sempre soube dos crimes, mas nunca tomou providências. Juntos, Alexandre, François (Denis Ménochet) e Emmanuel (Swann Arlaud) criam um grupo de apoio para aumentar a pressão na justiça por providências. Mas eles terão que enfrentar todo o poder da cúpula da Igreja.


06 - Frantz(França, 2016)


Em uma pequena cidade alemã após a Primeira Guerra Mundial, Anna (Paula Beer) chora diariamente no túmulo de seu noivo, morto em uma batalha na França. Um dia, o jovem francês Adrien (Pierre Niney) também coloca flores no túmulo. Sua presença, logo após a derrota alemã, inflama paixões. Tanto a história, ambientada na Alemanha, quanto o título e a fotografia em preto e branco, parecem uma homenagem de Ozon, a Rainer Werner Fassbinder, principalmente ao premiado O Desespero de Veronika Voss(1982).


05 - 8 Mulheres(8 Femmes, França, 2002)



Com 8 mulheres, François Ozon criou um colorido suspense musical à la Agatha Christie. Oito mulheres estão isoladas em uma casa coberta de neve, há um cadáver com uma faca nas costas e todas são suspeitas em potencial. O elenco é uma lista de lendas francesas: Fanny Ardant, Emmanuelle Beart, Danielle Darrieux, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Virginie Ledoyen, Firmine Richard e Ludivine Sagnier. Desde a cena de abertura, o filme nos mostra alegremente que é uma paródia de superproduções musicais de Hollywood.


04 - Verão de 85(Éte 85, França, 2020)



Baseado livremente no romance do autor britânico Aidan Chambers, Dance on My Grave, Ozon volta aos anos 1980, onde na ensolarada Normandia, na França, ao som de In Betwen Days do The Cure, nos apresenta Alexis, Felix Lefebvre. O personagem logo se meterá em apuros, ao pegar o barco de um amigo e acabar ser sendo salvo por Davi, Benjamin Voison. Bifurcado em duas fases temporais, Alexis conta através da escrita, assim como Dentro de Casa, do mesmo Ozon, sua relação com Davi. O que no início começa como uma linda amizade, evolui para sexo mas termina em um drama trágico.



Um encontro espiritual entre dois mestres do cinema, o prolífero cineasta francês François Ozon e o falecido alemão Rainer Werner Fassbinder, cuja obra As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant(1972), serve como base para Ozon construir uma sátira lúdica e musical sobre o ídolo. O ator Denis Menochet, em uma performance tour de force, personifica o próprio Fassbinder, inclusive em maneirismos e compulsões. Peter von Kant é uma criatura fascinante e excêntrica, um homem condenado à autodestruição por seu próprio egocentrismo melancólico.

02 - Gotas d’água sobre pedras escaldantes(Gouttes d'eau sur Pierres Brûlantes, França, 2000)



Alemanha, anos 1970. Léopold(Bernard Giradeau), um cinquentão, seduz Franz(Malik Zidi), um jovem garoto de 19. Franz se apaixona e vai morar com Léopold. No entanto, surge um dia uma pequena divergência, sobre a qual os dois não conseguem concordar. E a chegada de Anna(Ludivine Sagnier) e Vera(Ana Levine) só tendem a piorar a situação. A partir daí, não há mais um eu comum entre eles, mas apenas divergências. Baseado na peça de Rainer Werner Fassbinder, grande referência cinematográfica de Ozon.


01 - O Tempo que resta(Le temps qui reste,França, 2005)



Neste drama envolvente,Ozon fez seu segundo em uma trilogia de filmes sobre a morte. O primeiro foi Sob a Areia(2000) e o último Ricky(2009). Aqui, o personagem principal é um fotógrafo, de 31 anos, que descobre que tem câncer terminal. Essa surpresa embaralha seus valores e sua força para fazer algumas escolhas muito importantes sobre como lidar com os seus últimos três meses de vida. Romain(Melvil Poupaud),desmaia um dia durante uma sessão de fotos. O médico faz alguns exames e sugere quimioterapia, mas o fotógrafo não tem interesse nela, uma vez que a doença já está profundamente enraizada em seu corpo. A primeira coisa que ele faz é ir a um parque e começa a chorar.


sábado, 26 de junho de 2021

Orgulho e Esperança (Pride, Reino Unido, 2014)

Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus, conta uma história real que poderia ter sido representada como um drama puro, mas o cineasta optou por uma abordagem mais leve para capturar corações e mentes. 

Durante a greve dos mineiros no Reino Unido de 1984-85, um aliado improvável mostrou seu apoio. Liderado por Mark Ashton (Ben Schnetzer), o Gays e Lésbicas Apoiam os Mineiros (GLAM) começou a arrecadar dinheiro para ajudar os trabalhadores sindicalizados. Do lado de fora da livraria “Gay is the Word”, Mark e seus amigos seguram baldes e entoam o nome de sua organização. 


Mark convence seus companheiros a perseverar porque as únicas pessoas que os tabloides homofóbicos britânicos tratam pior do que os gays são os mineiros. “Se alguém sabe como é esse tratamento”, diz Mark, “somos nós”.


Os apoiadores da greve foram aconselhados a fazer parceria com as comunidades de mineração porque o governo confiscou todos os fundos do sindicato, tornando impossíveis as doações aos mineiros. Um representante do sindicato Dai(Paddy Considine), se reúne com os jovens homossexuais aceitando o apoio ‘Pensei que o L fosse de Londres.’ diz ele.



Aqueles que se juntaram a Mark na viagem incluem Joe (George MacKay), um estudante universitário que não é assumido para seus pais, e o casal de Jonathan (Dominic West) e Gethin (Andrew Scott), que vive um drama pessoal com sua origem galesa. Joe conheceu Mark na parada do Orgulho Gay de Londres em 1984, e logo se uniu à causa.

Quando os ativistas partem para a comunidade mineira em Gales, encontram gente preconceituosa, exceto pelas mulheres idosas encabeçadas por Helfina(Imelda Stauton), que adoram as meninas lésbicas, o maduro Cliff(Bill Nighy) e a esclarecida Sian(Jessica Gunning).Não demora, porém, para que eles conquistem todos, menos uma família repressora que incita homofobia. A cena da dança de Dominic West, no meio de um grupo de idosos, é no mínimo memorável.


A narrativa é intercalada por uma trilha sonora sensacional: Yazoo, Culture Club, Dead or Alive, Frankie goes to Hollywood, Queen, Grace Jones, Soft Cell e Bronski Beat, que participa ficcionalmente em uma cena de um show beneficente, com o clássico Why.


Os atores habitam seus personagens de maneira tão convincente, que a luta pela qual participaram se torna um pano de fundo realista e comovente. Imperdível, o final do filme é cheio de esperança para o Reino Unido e a comunidade queer, que naquela época viviam o regime repressor de Margareth Thatcher. Em 2014, Orgulho e Esperança, foi exibido na Quinzena dos Realizadores, do Festival de Cannes, onde ganhou o prêmio máximo LGBTQIA+: o Queer Palm.


sexta-feira, 25 de junho de 2021

Filadélfia (Philadelphia, EUA, 1993)

Mais de uma década depois que a AIDS foi identificada como uma doença, Filadélfia marca a primeira vez que Hollywood arriscou um filme de grande orçamento sobre o assunto. É claro, que antes disso documentários e filmes como Meu querido companheiro(1989) já haviam sido feitos, mas o longa de Jonathan Demme, confia na fórmula segura do drama de tribunal para explorar o tema, mais do que necessário. 

A cena de abertura, ao som de Streets of Philadelphia, na voz de Bruce Springsteen, dá o tom do que viria a seguir. Somos apresentados a Andrew Becket, Tom Hanks garantindo um Oscar, um advogado brilhante prestes a ser promovido na empresa, porém quando seu superior nota nele sarcomas, que são manchas na pele, arruma uma desculpa para o demitir. 


Beckett suspeita que está sendo despedido por estar doente. E ele está correto. O personagem decide tomar uma posição e processar o escritório de advocacia. Mas sua antiga firma é tão poderosa que nenhum advogado na Filadélfia quer aceitá-la, até que Beckett finalmente vai em desespero até Joe Miller (Denzel Washington), um daqueles advogados que anuncia na TV, prometendo salvar sua carteira de motorista. 

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Miller claramente não gosta de homossexuais, mas concorda em aceitar o caso, principalmente pelo dinheiro e exposição. O roteiro, de Ron Nyswaner, trabalha sutilmente para evitar os clichês comuns do tribunal. Mesmo enquanto o caso está progredindo, o centro de gravidade do filme muda do julgamento para o progresso da doença de Beckett, e conhecemos brevemente seu amante, Antonio Banderas recém saído dos filmes do Almodóvar, e sua família, principalmente sua mãe (Joanne Woodward), cujo papel é pequeno mas fornece momentos poderosos ao filme. 


Em algum instante o personagem de Washington vai perceber que seus preconceitos contra os homossexuais são errados; ele poderá ver o personagem de Hanks como um ser humano digno de afeto e respeito. Essas mudanças emocionais são obrigatórias e chegam a lembrar o clássico Adivinhe quem vem para jantar(1969), que tratava de racismo. Enquanto Beckett cantarola uma de suas árias operísticas favoritas, Miller o observa com admiração e vê em Beckett, um homem que só quer viver, apesar da vida estar se esvaindo de seu corpo.


Filadélfia é um grande filme, e acima disso, é de extrema relevância por trazer à Hollywood um retrato da AIDS, a perseguição e as injustiças cometidas aos homossexuais. O longa foi um primeiro, porém enorme passo, para a indústria cinematográfica apresentar ao público o temido drama do HIV.



quinta-feira, 24 de junho de 2021

Rent: Os Boêmios (Rent, EUA, 2005)


Rent: Os Boêmios, adaptação dirigida por Chris Columbus, para o icônico musical da Broadway, vencedor do Tommy e do Pulitzer, acompanha um grupo de boêmios e suas lutas com a sexualidade, drogas, a sombra da AIDS, e, claro, o seu aluguel. A história se passa na área de East Village, em Nova York, no final dos anos 1980. O filme teve seis membros do elenco original da peça reprisando seus papéis no cinema.


O número de abertura, Seasons of Love, é ambientado em um estúdio vazio, com cada cantor sob os holofotes. O longa alterna a linguagem teatral com momentos cinematográficos que se espalham pelas ruas cruéis de Manhattan. 


O filme revela que o musical, de Jonathan Larson, é uma cápsula do tempo iluminadora de um período selvagem imediatamente antes e depois do flagelo da AIDS. Suas emoções transbordam nesta história, vagamente baseada em La Boheme, de Puccini, de história de amigos, vários deles HIV+, lutando para reacender a alegria do início dos anos 1980, conforme a década se aproxima de um fim não muito glorioso.


Angel(Wilson Jermaine Heredia), encontra Collins(Jesse L. Martin), um baterista de rua, e eles se unem, pois os dois têm AIDS. Roger(Adam Pascal), é ex-viciado em drogas e tenta compor sua última grande canção. Ele é visitado por sua vizinha do andar de baixo, Mimi(Idina Menzel), uma dançarina exótica e viciada em heroína.



A trilha não é particularmente memorável, nenhuma canção, exceto Seasons of Love, se tornou um grande hino ou sucesso, mas são contextuais e avançam na narrativa. No Day but Today é sobre a juventude. Light My Candle é um ato de sedução e La Vie Boheme, talvez seja a que mais traduza o espírito do filme.

Mimi (Rosario Dawson) sobe pela janela de seu vizinho Roger, aparentemente para pedir fogo,  mas na verdade é para flertar.  Confessando que ambos são HIV+, eles iniciam um romance marcado por idas e vindas. Junto dos outros personagens eles participam de um grupo de apoio à vida.

Tango Maureen, o número mais exuberante do filme reunindo dezenas de dançarinos explica o apelo bissexual de Mimi. Um de seus amantes é um aspirante a cineasta, Mark (Anthony Rapp), que continuamente captura o comportamento luxuriante, embora destrutivo, de seus amigos com uma câmera portátil. 


Columbus faz uso criativo da filmagem bruta de Mark, reproduzindo-a em cerca de um terço da tela e deixando o resto dramaticamente escuro. É uma forma de trazer de volta tempos emocionantes. No filme caseiro de Mark, a drag queen Angel  anda por aí com uma minissaia antes que a doença faça seu estrago. A gangue é mostrada dando início a uma festa de rua de véspera de Ano Novo, em 1988, incapaz de prever os desastres à que viriam a seguir.


Rent: Os Boêmios, pode mudar a imagem de Columbus, conhecido por seus filmes coloridos, infantis e ensolarados. Ninguém pode acusá-lo de não cobrir, com maestria, os assuntos sombrios do espetáculo, como perda, falta de moradia, HIV e dependência química.


quarta-feira, 23 de junho de 2021

Stonewall - A Luta pelo Direito de Amar (EUA/Reino Unido, 1995)

Stonewall - A Luta pelo direito de Amar, dirigido por Nigel Finch, produtor executivo do clássico Paris is Burning(1990), se inspira nas memórias do historiador Martin Duberman, para criar um relato lúdico, musical e revolucionário sobre os dias que antecederam a icônica batalha de Stonewall, em 1969.

O longa começa com uma linguagem documental mostrando imagens de arquivo e entrevistas sobre o fatídico evento que marcou a luta entre os homossexuais e a polícia no bar Stonewall Inn, em Nova York. Em seguida somos apresentados a LaMiranda(Guillermo Diaz), a protagonista transformista que irá contar sua versão da história.


Matty Dean (Fredderick Weller), um jovem gay, chega à  Nova York e segue para Greenwich Village. Ele se apaixona por La Miranda, e amigos o levam para o Stonewall Inn. Há uma batida policial e Matty e La Miranda são presos. Eles são resgatados por Bostonia(Duane Boutt), a "mãe" das drags que frequentam o local e a amante secreta de Vinnie(Bruce MacVittie), o mafioso profundamente enrustido que dirige o bar.


Matty é um lutador nato, ele quer se organizar e guerrilhar por direitos homossexuais. E nessa sua jornada de ativismo, ele acaba conhecendo Ethan(Brendan Corbalis), um jovem com os ideais parecidos com os seus, com quem se envolve, deixando a pobre LaMiranda à deriva.



O filme é todo intercalado por coloridos, lúdicos e até surrealistas, números musicais, comandados por LaMiranda e suas amigas drag queens que, com positividade, exaltam a importância do amor e causas LGBTQIA+.

Vinnie aponta uma clínica que chama de "Palácio dos Sonhos" e diz a Bostonia que quer que ela faça uma cirurgia de redesignação de sexo para que eles possam se casar, mas ela se opõe à ideia. A personagem em diversos momentos rouba a cena para si, seja pelos figurinos luxuosos ou pela atuação convincente de Boutt


É dia da morte de Judy Garland, o maior ícone gay da época, Bostonia acompanha a notícia ao som de Over the rainbow na TV. Noites depois, quando Matty e LaMiranda se reconciliam, há um ataque em Stonewall. Várias das rainhas são presas, incluindo Bostonia que bate no rosto de um policial e é atacada por outros. Quando as drags revidam, desencadeiam o momento histórico que marcaria o início do movimento militante de defesa dos direitos da comunidade gay, em Nova York.


O diretor, que faleceu de AIDS antes mesmo do lançamento do filme, escolheu um estilo ousadamente expressivo. Stonewall - A Luta pelo direito de amar, é basicamente um drama musical. As melodias familiares dos anos 1960 são tão bem integradas à narrativa que servem como muito mais do que diversão, elas são como sinais que pontuam a história, marco da cultura LGBTQIA+.


terça-feira, 22 de junho de 2021

Pelo Direito de ser Feliz (Riot, Austrália, 2018)

Pelo Direito de Ser Feliz, de Jeffrey Walker, feito para o canal australiano ABC, narra a luta dos homossexuais em Sidney, na década de 1970, protestando a favor de direitos iguais, descriminalização e contra os abusos da polícia.

A narrativa do motim abrange a maior parte dos anos 1970, durante a qual Lance Gowland(Damon Herriman) e seus companheiros revolucionários, que dividem uma comuna, lideraram manifestações contra a discriminação homossexual na esperança de alcançar direitos iguais. No meio do caminho o ativista conhece o advogado Jim(Xavier Samuel) e fugindo de suas próprias regras inicia um relacionamento monogâmico.


Ao longa dos anos, o filme nos mostra os maus-tratos e preconceitos que homossexuais e transexuais sofreram nas mãos do sistema. À medida que as situações de trabalho, as batalhas pela custódia dos filhos de uma das ativistas Marg McMann(Kate Box) e sua namorada, e os problemas de relacionamento aumentam, o grupo segue em frente, culminando no planejamento e execução do que se tornaria a Primeira Parada do Orgulho Gay, na Sydney de 1978, batizada como Mardi Gras.


Às vezes os ativistas falham, às vezes eles têm sucesso, mas é a luta que o filme enaltece. Os protagonistas só são mostrados positivamente porque, cheio de motivações, se engajaram na luta de forma tão ativa.


A principal desvantagem da produção, é que como telefilme sua estética se distancia um pouco do cinema, porém a intenção de retratar as conquistas e direitos na Austrália, se sobressai a qualquer falha. 


O filme é extremamente comovente, e dentro da história há muita atenção aos detalhes quando se trata da vida e das lutas de personagens individuais. O filme vale a pena, para ver o quão longe chegamos em 40 anos, mas a luta continua. 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Milk - A Voz da Igualdade(Milk, EUA, 2008)


Em 1977, Harvey Milk, papel que deu a Sean Penn seu segundo Oscar, se tornou o primeiro homem assumidamente gay eleito para um cargo público nos Estados Unidos. Milk fez um poderoso apelo aos homossexuais para que saíssem do armário e lutassem por direitos iguais.


O filme, de Gus Van Sant, começa com Harvey Milk, aos 48 anos, refletindo em seu gravador sobre uma jornada pessoal que começou aos 40. Naquela idade divisória, ele ficou insatisfeito com sua vida e decidiu que realmente queria fazer algo. Pesquisador e republicano, ele se envolveu com uma companhia de teatro hippie em Greenwich Village e começou a entreabrir a porta do armário. 


Milk estava apaixonado por Scott Smith (James Franco), eles se mudam para San Francisco, abrem uma loja, e percebem que até mesmo a maior e mais expressiva comunidade gay dos Estados Unidos estava sendo sistematicamente perseguida por policiais homofóbicos. 


Milk não entrou facilmente na política. Ele concorreu três vezes ao Conselho de Supervisores antes de ser eleito, em 1977. Ele fez campanha por uma lei sobre os direitos dos homossexuais. Ele se organizou. Gritou num megafone e fez discursos inflamados. Ele forjou uma aliança incluindo liberais, sindicatos, estivadores, professores, latinos, negros e outros com uma causa comum. Era um púlpito agressivo para desafiar os agitadores como Anita Bryant, que aparece em imagens de arquivo, e odiava os gays. 



Inspirado pelo documentário Nos Tempos de Harvey Milk, de 1984, o filme com roteiro original de Dustin Lance Black, conta a história da ascensão de seu herói, de hippie insatisfeito a símbolo nacional.
Entrelaçadas estão suas aventuras românticas. Ele permaneceu amigo de Scott Smith depois que eles se separaram por causa de sua imersão na política. Ele tinha uma queda por fazer amizade com marginalizados: no início, Cleve Jones (Emile Hirsch), que se tornou outro organizador da comunidade. Em seguida, Jack Lira (Diego Luna), um mexicano-americano que ficou com um ciúme neurótico da vida política de Milk..


Seu relacionamento mais fatídico foi com Dan White(Josh Brolin), um membro do Conselho de Supervisores, um católico que disse que a homossexualidade era um pecado e fez campanha com sua esposa, filhos e a bandeira americana.


Uma estranha aliança é formada entre Milk e White, que provavelmente era gay. "Acho que ele é um de nós", confidenciou. White era um alcoólatra que quase revelou sua sexualidade durante um discurso, ficou desequilibrado, renunciou ao cargo e, em 27 de novembro de 1978, entrou na prefeitura e assassinou Harvey Milk e o prefeito, George Moscone(Victor Garber). 


Milk - A voz da Igualdade, conta a história de Harvey Milk como a de uma vida transformadora e uma vitória da liberdade individual sobre a perseguição do Estado a uma causa política e social. É tão emocionante como o resultado das decisões de um homem em sua vida.


domingo, 20 de junho de 2021

TOP 10 DEREK JARMAN

Derek Jarman foi um diretor de cinema, cenógrafo, artista plástico, jardineiro e autor britânico .Na década de 1970, Jarman falou abertamente sobre homossexualidade, sua luta pública pelos direitos LGBTQIA+ e, a partir de 1986, quando foi diagnosticado, sua luta pessoal contra a AIDS. Seus primeiros filmes foram curtas experimentais em Super 8, uma técnica que ele nunca abandonou totalmente, e desenvolveu em seus filmes como em The Angelic Conversation (1985), onde Judi Dench recita sonetos de Shakespeare, e O Crepúsculo do Caos(1987). O artista se tornou conhecido após criar os cenários de Os Demônios(1971) de Ken Russell. Em 1976, rodou seu primeiro longa-metragem, o homoerótico Sebastiane, totalmente falado em latim a obra recriava o martírio de São Sebastião. Mas foi Caravaggio(1986), seu filme mais famoso até hoje, que marcou o início de uma nova fase em sua carreira e o começo da parceria constante com a então novata, Tilda Swinton. O cineasta também dirigiu videoclipes para The Smiths e Pet Shop Boys, mas foi fazendo um cinema político, de luta e resistência que Derek Jarman soube transformar sua dor em arte e deixou um legado histórico que merece ser conhecido pelas novas gerações. Seu último filme Blue, de 1993, utiliza de uma linguagem conceitual para narrar como ele estava lidando com a doença que àquela altura o estava deixando cego. Derek Jarman faleceu, no ano seguinte, aos 52 anos.

10 - War Requiem(Reino Unido, 1989)



O filme retrata os horrores da primeira guerra mundial, com narrações de Laurence Olivier, em seu ato final no cinema e músicas de Benjamin Britten ao fundo. Com um teor crítico, compara as mortes na I Guerra Mundial com o sacrifício de Jesus Cristo. Composto por seis atos e sem diálogos, o filme gira em torno de um soldado inglês e sua esposa para contar o assassinato do tenente e humanista Wilfred Owen(Nathaniel Parker), no final da guerra. O filme contém cenas fortes e imagens de arquivo.


09 - Ária(Reino Unido, 1987)



O filme é uma produção de dez curtas-metragens feita por dez diretores, que inclui Jean-Luc Godard, Nicolas Roeg, Julien Temple, Robert Altman, Bruce Beresford, Ken Russell e Nicolas Roeg, nos quais, cada um coloca sua ária operística favorita como trilha sonora para criar sua composição visual. Derek Jarman dirige o segmento
Depuis le Jour, da ópera Louise(1900), de Gustave Charpentier, em um lindo número lisérgico estrelado por Tilda Swinton e Spencer Leigh.


08 - O Crepúsculo do Caos(The Last of England, Reino Unido, 1987)



O filme é resultado da visão apocalíptica do diretor sobre o seu país, e de sua crítica dura ao governo de Margareth Thatcher. O cenário é desolador e distópico, com ruínas, muros, arame farpado, uma constante na obra do diretora e vermelho de sangue e do fogo, fogo das armas, da bomba e do céu. Intercalando imagens em super 8 com uma edição frenética o diretor mostra homens encapuzados e gangs à deriva. As imagens representam uma oposição a dissolução dos valores da liberdade e da tolerância da sociedade britânica, ainda sob o fantasma do nazismo.


07 - A Tempestade(The Tempest, Reino Unido, 1979)



Baseado na famosa obra de Shakespeare, o filme acompanha Próspero, que há 12 anos, é o Duque de Milão e um mago conhecido por seus grandes poderes, foi exilado numa ilha após uma traição de seu próprio irmão Antonio e de Alonso, Rei de Nápoles. No exílio, fez amizade com Caliban, filho de uma bruxa local, e Ariel, um espírito assexuado que pode se transformar em diferentes elementos da natureza. Ao saber que Antonio e Alonso se aproximam da ilha num navio, ele pede ajuda a Ariel para provocar uma enorme tempestade. Mesmo com o naufrágio, os dois traidores conseguem chegar à ilha, sem saber que um grande plano de vingança está esperando por eles.


06 - Sebastiane(Reino Unido, 1976)



Totalmente falado em latim, o longa de estreia de Derek Jarman recria o martírio de São Sebastião. 300 DC: O romano Sebastiane, soldado do Império, é exilado para um remoto povoado dedicado exclusivamente aos homens. Enfraquecidos por seus desejos, eles acabam realizando atividades homossexuais para satisfazer as suas necessidades. Lá, Sebastiane se torna alvo da cobiça de seu superior, Diocleciano, e será fortemente pressionado.


05 - O Jardim(The Garden, Reino Unido, 1990)



O filme segue um amoroso casal gay aparentemente inocente, cuja existência, totalmente idealista, é interrompida quando eles são presos, severamente humilhados, torturados e mortos. Além da história, se apresentam imagens não-lineares da iconografia religiosa - a Madonna, Jesus e Judas. Toda a composição visual tem como objetivo provocar reflexões sobre a secular perseguição aos homossexuais durante o ápice da epidemia da AIDS.


04 - Magnicídio(Jubilee, 1978)



No longa que é considerado o primeiro filme punk da história, a Rainha Elizabeth I viaja no tempo para ver o futuro, e vai para o Reino Unido dos anos 1970. Lá ela se assusta: neste mundo pós-apocalíptico, a Rainha Elizabeth II está morta, o palácio de Buckingham é um estúdio de gravação e os policiais transam entre si quando não estão agredindo os jovens, além de tudo ser caótico e muito sujo. Acompanhando a decadência social daquele povo, ela segue as atividades de uma guangue de garotas com uma existência vazia e problemática.


03 - Caravaggio(Reino Unido, 1986)



Contado de forma segmentada, o filme começa com Caravaggio (Nigel Terry) exilado apenas com seu companheiro de longa data e surdo-mudo Jerusalém (Spencer Leigh). Enquanto adoecia e estava aos cuidados de padres, o jovem Caravaggio atraiu a atenção do cardeal Del Monte (Michael Gough), que nutre o desenvolvimento artístico e intelectual de Caravaggio, mas parece molestá-lo. Já adulto, o pintor ainda vive sob o teto e pinta com o financiamento do religioso. Caravaggio é mostrado empregando moradores de rua, bêbados e prostitutas como modelos para suas pinturas intensas, geralmente religiosas. Um dia, Ranuccio (Sean Bean), um lutador de rua, chama a atenção do artista como sujeito e amante em potencial. Ranuccio apresenta Caravaggio à namorada Lena (Tilda Swinton), que também se torna objeto de atração e modelo para o artista barroco.


02 - Wittgenstein(Reino Unido, 1993)



O longa é um retrato particular da vida do filósofo Ludwig Wittgenstein(Karl Johnson), considerado um gênio pela filosofia da linguagem contemporânea. Estudou Filosofia em Cambridge, onde conheceu o filósofo Bertrand Russell, que o proclamou o mais talentoso pensador de sua geração. Já como professor na universidade, depois de lutar como voluntário na Segunda Guerra, se envolveu amorosamente com o jovem Johnny, amante de seu amigo, o professor John Maynard Keynes. No filme, rodado todo em um estúdio preto, uma série de desenhos e elementos cênicos narram o desenrolar de sua vida desde a infância, dando ênfase na exposição de suas ideias.


01 - Eduardo II(Edward II, Reino Unido, 1991)



Baseado na peça, escrita por Christopher Marlowe, em 1593, Derek Jarman criou sua visão única e anacrônica para um clássico. Uma vez instalado como rei, após a morte de seu pai, Eduardo II(Steve Waddington)convoca seu amigo e amante, Piers Gaveston(Andrew Tiernan), de volta para a Inglaterra do exílio no exterior, e o rega com presentes, títulos e amor permanente. Seu relacionamento é ardente e apaixonado, mas é o foco de fofocas e escárnio em todo o reino. A fashionista Rainha Isabella(Tilda Swinton) se une a Mortimer(Nigel Terry) para derrubá-lo do trono. Eduardo é forçado a cumprir seus desejos e manda Gaveston embora. A separação dos amantes é acompanhada pela interpretação de Annie Lennox de "Ev'ry Time We Say Goodbye", de Cole Porter. Enquanto isso, do lado de fora do castelo, o povo clama por direitos aos homossexuais.